27 outubro 2013

privatizou Deus

Os dois testemunhos que publiquei aqui e aqui deste leitor são, para mim, extraordinários.

Porquê? Porque aconteceu exactamente o mesmo comigo. O processo foi rigorosamente o mesmo.

Da segunda vez, o leitor reage a um post do Joaquim sobre a questão da privacidade. Curiosamente também, eu estive para reagir ao mesmo post do Joaquim e pelo mesmo motivo.

Na nossa cultura católica, e ao contrário da cultura protestante, Deus não é um assunto privado, é um assunto público. Pode-se falar à vontade sobre Deus em público, pode-se discutir perfeitamente Deus em público e, na minha opinião, deve-se discutir Deus em público.

E isto é assim porque acreditando a nossa cultura católica (e certamente eu e este leitor) que se pode chegar a Deus pela razão, o debate que daí resulta é um debate racional.

Não é assim no protestantismo, e foi Kant o filósofo que maior influência teve nisso. Não podendo nós chegar a Deus pela razão, mas apenas pela fé desligada da razão, não se pode nem se deve discutir Deus em público porque  a discussão que daí resulta nunca poderá ser racional.

Kant privatizou Deus.

24 comentários:

zazie disse...

Tem toda a razão, PA.

Também estive para dizer isso ao Birgolinho.

Deus é uma questão da sociedade. De toda a gente, do mundo.

Se há quem viva em paz sem Ele (e foi isso que o Birgolino disse, por outras palvaras), é lá com ele. Mas não vão agora querer silenciar como questão de puder falar-se de Deus.

zazie disse...

Quanto ao resto, do Kant, pare de dizer asneiras.

O Kant teorziou como a Razão precisa de uma fundamentação divina.

Nunca, em aprte alguma da sua obra, escreveu qeu Deus é apenas acessível pela fé.

Pois se até nós somos metafísicos- atingimos o númeno na nossa acção moral- é isso que ele diz- que é uma moral que não se limita a seguir normas religiosas, como é que ele podia ter retirado Deus da Razão?

V. teima em comprovar que nunca leu Kant.

zazie disse...

Isto nem é coisa obsessiva. È outra coisa- é a mania qu o PA tem em insistir em repetir erros, quando é corrigido.

Diz disparate, explica_se que é disparate e a resposta, por orgulho, ou algo no género, é repetir o disparate ainda mais vezes.

Anónimo disse...

Hehehe... nessa o D. Costa acertou... mas uma coisa é certa, o PA nunca aqui disse que ia começar a ouvir as mulheres... e agora que falo nisso, nem os homens... -- JRF

zazie disse...

Oh, em brasileiro, não sei, mas está aqui um gajo a explicar a noção de fé racional de Kant:

http://www.oquenosfazpensar.com/adm/uploads/artigo/kant_e_o_conceito_de_fe_racional/n19vera.pdf

Um melro qualquer. Até um puto do secundário sabe isto.

O PA não sabe, não quer saber e nega, porque sim. Porque é casmurro e estagava-lhe a embirração randiana que comprou.

zazie disse...

é impressionante.

A sério. Não dá para enteder.

A isto é que o Birgolino devia dizer que fica mal tornar pública.

":O))))

Mas o PA faz luxo na ignorância.

Gramva saber porquê.

Aliás, tenho uma ideia que sei qual o motivo...

zazie disse...

O PA precisa de plateia.

Gosta de dar show e que lhe batam palmas.

Dá-se mal com críticas e aí, até pode ser cretino e apagar posts ou dizer que vai fazer como Cristo para não deixar nada escrito.

Mas, neste caso, acho que sei o motivo pelo qual teima em escrever mentiras acerca de Kant:

Porque mais ninguém lhe apontou os erros!

Anónimo disse...

Caro PA,

Há uma questão que, pela sua importância, merece comentário próprio.

Desde os 18/20 anos que sou agnóstico e sempre afirmei convictamente que uma pessoa como eu só conseguiria chegar a Deus pela razão, nunca pela fé. Sou um homem da ciência, do método científico. Já agora, em jeito de nota de rodapé, sou 100% céptico relativamente a tudo o que seja sobrenatural e afins. Só aceito o que a ciência prova.

Há uns 4 anos, encontrava-me na cama a reflectir e a questionar precisamente um dos sinais recentes que tinha ligado a um outro já com vários anos... quando percebi tudo e do caos nasceu a ordem. O tal momento que o PA descreve desta forma sublime: "Perante muitos sinais convincentes e convergentes que a realidade lhe vai fornecendo ao longo do tempo, o autor vai gradualmente pondo-os em conjunto, articulando-os, até que chega o momento em que a conclusão se torna inevitável, uma absoluta necessidade lógica."

Durante vários meses guardei aquilo tudo só para mim.

Mas um dia, não consegui mais. Levei a minha mulher a jantar fora e disse-lhe:

"Acho que, afinal, Deus existe. Vou ter de reconsiderar seriamente o facto de ser agnóstico." (notem o forte significado da expressão "acho que")

E depois acrescentei algo que me angustiava desde a o dia da descoberta. Devo ter dito qualquer coisas como:

"Mas sinto que para dar esse passo tão importante me falta qualquer coisa. Sei onde consegui chegar mas sinto que me falta qualquer coisa para continuar o caminho. Acho que preciso de encontrar alguém que pense como eu... sei lá. Uma espécie de confirmação pelos pares."

Nessa altura eu não sabia o que me faltava. Mas hoje sei. Faltava-me comunidade!

E hoje penso que foi isso mesmo que eu procurei naquela conversa com a minha mulher: comunidade.

Talvez por ela sempre ter acreditado em Deus pela fé não compreende muito bem porque, para mim, é tão complicado aceitar algo que, para ela, é tão natural, tão evidente, tão bom e lhe dá tanta paz e liberdade. Para ela, provavelmente, será irracional chegar a Ele pela razão.

Entretanto, o tempo foi passando e, como eu previ há quatro anos, estagnei... fiquei parado no caminho. Nunca mais consegui dar um passo que fosse.

Até ontem.

Afinal faltava-me comunidade. E no meu caso a comunidade resume-se ao Pedro Arroja e ao facto de ele ter a coragem de partilhar com todos nós o seu caminho.

Só percebi isso agora, com o Pedro Arroja. Agora está tudo ainda mais claro.

Há quatro anos eu já tinha percorrido todo o caminho que um homem pode percorrer sozinho... agora não dependia só de mim. Eu sentia isso mas não sabia como resolver. Hoje sei. O que me faltava era comunidade!

Incrível a beleza e a perfeição de tudo isto.


PS - Já agora vou deixar-lhe aqui brevemente duas formas de "provar" a existência de Deus pela razão. Foi a forma que eu encontrei de aos 18/20 anos explicar às pessoas como seria o meu Deus, caso existisse. Claro que essas abstracções, apesar de poderosas, nunca serviram para me convencer. Mas eu tentei.

zazie disse...

Aliás, tirando eu, que sou mulher e a quem ele não dá crédito- uma mulher serve apenas para ir ao lado a falar e o homem no fim é que a conduziu à verdade de boca fechada.

Porque, tirando eu, nestes anos todos de blogo, só me lembro de ter aparecido um gajo a mostrar como isto é ignorância da maior- foi o Modernista.

tratou-o a pontapé. Passou-se, entrou até a inventar-lhe identidade real para o chagar.

Nunca conseguiu argumentar.

zazie disse...

Este vai provar Deus por algorítmo?

ehehehehe

Dos cientóinos pode-se esperar tudo

":O)))))))

zazie disse...

Acerca de tudo isto, o mais interessante foi dito pelo Robert Bresson o Pickpocket.

A dada altura, o carteirista preso, diz isto, por entre as grades, à namorada:

«"J'ai cru en Dieu, Jeanne, pendant trois minutes.»

Quando lhe perguntaram, o Bresson respondeu que 3 minutos são uma imensidão.

E contou que a ideia lhe veio, uma vez na missa, quando a mãe morreu, de ter sentido a presença de deus por esses breves minutos.

E ele sempre foi crente.

Um coisa é explicar probabilidades e até acreditar ou ter fé.

Outra é senti-Lo de verdade.

Isso não sei sequer se se transmite.

Anónimo disse...

Cá vão os dois "algoritmos".

Na verdade penso que já escrevi isto há muito tempo aqui no PC. Mas, mesmo assim, aqui vai. Claro que por outras palavras porque são parábolas que criei há muitos anos e só as tenho na minha cabeça.

*** "Prova" 1 (biológica) ***

Um cientista da área das biotecnologias e afins decide fazer uma experiência. Criar um universo.

Assim, deita para dentro de um tubo de ensaio os seguintes componentes:
- Umas sementes;
- Um pedaço de terra;
- Umas gotas de água q.b.;
- Uma gota de ácido desoxirribonucleico;

E agita tudo muito, mas mesmo muito bem. E depois, junta-lhe duas gotas de Climazon.

Com a ajuda preciosa de Climazon por cada hora que o cientista passa no laboratório, passam milhões de anos dentro do tubo de ensaio.

E o cientista vai observando alegremente a interacção dos componentes e verificando a evolução daquele universo que criou dentro do tudo de ensaio.

Ao fim de uma quatro horas começam a nascer os primeiros seres inteligentes. Um milhões de anos depois (apenas 2 horas à escala do laboratório) esses seres conseguem construir o telescópio que lhes permite quase que ver o vidro do tubo de ensaio.

O cientista toma então a decisão de verter a solução para dentro de um tubo de ensaio de maior capacidade...

Preciso de continuar com a parábola?

*** "Prova" 2 (bits) ***

Um programador informático cria...

Bem, tenho de ir porque a patroa está a chamar pela 3º vez. Logo, agora é mesmo para ir ajudar com a criançada.

zazie disse...

Sim. A primeira é uma boa parábola.

Francisco disse...

"Na nossa cultura católica, e ao contrário da cultura protestante, Deus não é um assunto privado, é um assunto público. Pode-se falar à vontade sobre Deus em público, pode-se discutir perfeitamente Deus em público e, na minha opinião, deve-se discutir Deus em público."

Nesta questão, discordo em absoluto. Estou com o Joaquim. Em Portugal raramente se discute religião em público, e mesmo entre amigos ou familiares é muitas vezes um assunto que gera algum desconforto.

Aquilo que é público em Portugal é a prática da cultura associada à religião, não a sua discussão. Em Portugal não há desconforto nenhum (ao contrário dos EUA) de haver uma festa/procissão/missa católica que envolva toda a comunidade de uma aldeia/vila/cidade, sem necessidade de perguntar se toda a gente concorda.

Mas apregoar a fé na tv, em discursos políticos, debates, etc. Isso gera muito desconforto em Portugal.

Francisco disse...

Caro anónimo,

não se esqueça de voltar para contar a história do programador, estou curioso.

zazie disse...

Mas é uma pancada recente, Francisco. Dantes não era assim.

Foi o jacobinismo abrilista que retirou Deus da palavra pública.

O Birgolino fez post a falar disso e tem razão.

Francisco disse...

Sim, eu vi, muito boa posta a do Joaquim.

Mas olhe que não houve jacobinismo nenhum que retirasse a celebração pública (às vezes até estatal) da cultura religiosa católica.

Cá em Portugal é: a palavra usa-se em privado, a prática em público. Nos EUA é o exacto oposto.

E eu confesso que me fazem muita confusão as proclamações de fé à americana (proclamações de fé cristã, ateísta, etc).

Provavelmente passava-me da cabeça se a discussão pública em portugal valorizasse muito estas coisas. Tudo em gavetas com rótulos.

Francisco disse...

E nos EUA, sem jacobinismo nenhum que retirasse a religião da discussão pública, há o tabu da prática religiosa em público. Imagine-se uma missa celebrada num parque público nos EUA, na maior parte dos casos isto é uma coisa inconcebível, mas em Portugal não.

zazie disse...

Não é isso. Portugal não era assim. Os chefes de Estado falavam em Deus a propósito de tudo.

Basta ler os discursos para se ver que mudou tudo com o 25 de Abril.

Agora na América sempre foi assim. Muitíssimo mais do que cá, incluindo até Estado Novo.

V. é que deve ser bem mais novo. Se não fosse tinha vivido essa presença pública na palavra dos estatistas e não lhe fazia a menor confusão.

zazie disse...

estadistas

zazie disse...

Agora a tradição religosa portuguesa é folclore e aí não há jacobinismo que consiga apagar.

Francisco disse...

Sim, não tenho presente na minha experiência o estilo de discursos do Estado Novo. Cresci com este regime e um gajo habitua-se a chamar "o normal de Portugal" a este estilo. Principalmente comparando-a com a diferença noutros lugares.

Francisco disse...

Credo, tenho que começar a rever os meus comentários, é só pontapés no português. Noutros posts mais atrás até invento palavras.

zazie disse...

ehehehe


Eu também.