07 setembro 2017

parecer

Quando eu andava a angariar convidados para o Jantar de Gala no Dragão, houve um dos mecenas que um dia, à minha frente, e no seu próprio gabinete, resolver ligar para um deputado no Parlamento para o convidar a ele e ao seu grupo parlamentar a comprarem uma mesa.

Depois de se inteirar da finalidade a que se destinava o Jantar - a construção da ala pediátrica do HSJ paga de forma mecenática pela comunidade -,  o deputado respondeu de lá:

-Ah...isso não ... porque nos faz parecer mal...

O único deputado que compareceu ao Jantar de Gala foi o Dr. Luís Montenegro e mesmo esse a convite pessoal do presidente Pinto da Costa.

O ponto importante na reacção daquele deputado é a palavra parecer porque é disso que vivem os políticos. O Centro Materno-Infantil do Norte, que é, por assim dizer, a ala pediátrica do Hospital de Santo António - e, nos meios políticos e corporativos, o concorrente do Joãozinho - tinha demorado trinta e cinco anos a fazer - um projecto do início dos anos 80 e completado somente em 2017.

E isto foi assim porque os políticos e os gestores públicos  passaram a maior parte do tempo a parecer que o iam fazer. O Joãozinho ia pelo mesmo caminho. O Projecto já existia desde 2009, mas era só parecer, mera aparência. A Associação Joãozinho cometeu o pecado capital de lhe dar realidade e começar a obra.

Desde que conheci o Dr. Oliveira e Silva que tive o sentimento que um dia ele se iria demitir da presidência do Hospital de S. João, e que o iria fazer por causa do Joãozinho - um sentimento que mantenho até hoje. Parecia-me uma pessoa demasiadamente sã para algum dia se vir a converter num "pirata mau". Além disso, era um médico conceituado e na maturidade da sua carreira e não precisava daquele lugar para nada. Existia nele uma aura de sacrifício no desempenho daquelas funções.

Entretanto, aquela recepção que eu tinha tido no Ministério da Saúde no final de Março viria a revelar-se pura hipocrisia - a palavra que traduz o conflito entre o ser e o parecer, e que era o conflito que Cristo veio procurar resolver: "Sê genuíno e deixa que Deus se exprima em ti, e a tua personalidade floresça. Deixa-te de artimanhas e de salamaleques, de truques e de cinismos. Sê verdadeiro".  Cristo era, em primeiro lugar e acima de tudo, um homem limpo.

O Ministério da Saúde não queria nada a obra dada pela Associação Joãozinho. E prometeu ao Dr. Oliveira e Silva que seria o Governo a fazê-la e a pagá-la. Só havia um problema que tinha de ser o Dr. Oliveira e Silva a resolver: tirar a Associação Joãozinho do espaço da obra, pois o espaço estava-lhe cedido pelo HSJ ao abrigo do protocolo tripartido e a Associação continuava lá instalada com o estaleiro da obra, à espera que o HSJ o desimpedisse e os trabalhos pudessem prosseguir.

O Dr. Oliveira e Silva acreditou na sua hierarquia e optou por ela, em lugar de optar pela Associação Joãozinho. Optou pelo parecer, em lugar de optar pelo ser. Cometeu um erro, mas também, no lugar que ocupava,  não tinha outra alternativa.

Iniciou-se então uma campanha  em que se concertaram a administração do HSJ, a sua assessora jurídica Cuatrecasas, o Ministério da Saúde, e a ARS-Norte - o jornal Público desempenhando um papel proeminente -, que visava desacreditar-me a mim e à Associação Joãozinho, e que tinha por objectivo passar para dentro do HSJ e para a opinião pública em geral, a seguinte mensagem:

O Ministério da Saúde quer construir a nova ala pediátrica do HSJ e até já dispõe do dinheiro. O grande obstáculo é a Associação Joãozinho que não desocupa o espaço.


Sem comentários: