10 setembro 2017

chumbado

A cerimónia comemorativa do Dia Mundial da Criança teve lugar no dia 1 de Junho no Hospital de S. João. O Ministro não esteve presente, mas estiveram presentes os dois Secretários de Estado da Saúde, Manuel Delgado e Fernando Araújo. Serviu de tema a construção da ala pediátrica do HSJ.

Eu chamava agora a estas sessões as "sessões do salamaleque" e a ala pediátrica do S. João, ao longo dos anos, já tinha servido de mote para sessões desta natureza um grande número de vezes. Eram sessões em que as entidades oficias se mostravam para prometer uma coisa que não tinham a mínima intenção de fazer. Era puro espectáculo para a comunicação social.

Três entidades - o Ministério da Saúde, a ARS-Norte e o Hospital de S. João - juntavam-se nesse dia, mediante a assinatura de um protocolo, para construírem em conjunto a nova ala pediátrica do Hospital. Não passaria despercebido ao observador mais atento que, destas três entidades, uma mandava nas outras duas.

Eu estava já equipado no Bar da Praia da Sãozinha para iniciar a minha sessão de jogging quando vi a  notícia na RTP à hora do almoço, e sentei-me dois minutos. Não me parecia haver muita gente e, para além da estação oficial e da Lusa, poucos órgãos de comunicação deram relevo ao assunto. No dia seguinte, li a notícia no Diário de Notícias. Tinha o título "Hospital de S. João com nova ala pediátrica concluída em 2020"

Na fila da frente, vi o Bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos e pensei:

-Pobre Bispo...

Ele já tinha estado na cerimónia do lançamento da primeira pedra em 3 de Março de 2015 - a única "sessão de salamaleque" que tinha conduzido ao início efectivo da obra - e agora estava ali, outra vez, mais de dois anos depois, exactamente para o mesmo efeito.

Devia custar-lhe. Mas ele é uma pessoa muito bondosa. Daria um excelente Papa - já eu tinha pensado - e o nosso país, sempre tão fiel à Igreja Católica, há muitos séculos que não tinha um Papa.

Nas imagens, viam-se as entidades oficiais a assinarem o protocolo e a visitarem depois o barracão metálico onde as crianças estão presentemente internadas. O objectivo da sessão era claramente o de anunciar o início da construção da nova ala pediátrica do HSJ:

-Só se fôr no ar... e paga com vento...,

pensei eu enquanto, já de pé, fazia estiramentos em antecipação da correria que me preparava para iniciar.

Dias depois, o presidente do Hospital quis de novo falar comigo. E, desta vez, tinha verdadeiramente novidades para me dar. Duas.

Primeira, a condição 1) que eu estabelecera, tinha sido aceite.

Finalmente, o HSJ encontrara um local para deslocar o Serviço de Sangue e eu imaginei logo para breve as máquinas da Lucios e da Somague a entrarem por ali dentro e arrasarem com raiva aquele velho edifício térreo que tinha atrasado a obra durante  mais de ano e meio.

Segunda, vinha dar-me a conhecer o protocolo que tinha sido assinado no dia 1 de Junho e que, segundo ele, satisfazia a minha condição 3).

Li o documento com atenção. Continha o escalonamento da obra em três anos e os pagamentos que eram devidos em cada um deles. O financiamento pelo Estado iria fazer-se através de um aumento de capital do Centro Hospitalar de S. João, EPE, e isso pareceu-me um elemento de credibilidade - não contava para o défice.

O pior foi quando cheguei ao fim e olhei para quem assinava o documento. Pelo HSJ assinava o seu presidente. Pela ARS-Norte também assinava o seu presidente. Mas pelo Ministério da Saúde, não assinava nenhum Secretário de Estado - embora tivessem estado dois presentes na sessão - e muito menos o Ministro. Assinava uma funcionária.

Resultado: chumbado.

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