14 julho 2017

mais protestante

Não é nada fácil um homem conhecer-se a si próprio. E também aqui, para o conseguir, é conveniente que ele ande na vida acompanhado por uma mulher. A mãe é quem primeiro desempenha esta função e, mais tarde, a sua própria mulher.

Passou-se há cerca de dois anos. Eu fazia uma caminhada na praia com a  minha mulher e falava sobre a cultura católica em contraste com a  cultura protestante, já que em certo período da nossa vida tínhamos vivido num país de predominância protestante.

Foi então, com aquela capacidade única que só as mulheres possuem para moderar os ímpetos intelectuais de um homem, e trazê-lo de volta à realidade, que ela me interrompeu e  disse:

-Andas para aí a falar de católicos e de catolicismo, mas tu és  mais protestante do que católico...

Baixei a cabeça e fiquei em silêncio por uns segundos, na atitude própria de quem se verga à última verdade revelada. Ainda tentei compor as coisas:

-És capaz de ter razão ... sou um católico protestante ... um catante (*) ... como há tantos dentro da Igreja Católica ... por exemplo, os Jesuítas, que são católicos-luteranos e  o Opus Dei, que são católicos-calvinistas.

Ora, ao longo dos dois anos em que fui comentador do Porto Canal, com uma intervenção semanal de 15 a 20 minutos, a instituição que mais critiquei em Portugal, e contra a qual mais protestei, a grande distância de todas as outras, foi a da Justiça.

E não estava sozinho. Nos inquéritos de opinião levados a cabo em Portugal acerca das instituições públicas aquela em que os portugueses menos confiam é precisamente a Justiça.

Nas muitas vezes em que falei da Justiça (sobretudo penal) e dos seus quatro pilares - a judicatura, a advocacia, o ministério público e a polícia judiciária - a instituição que tratei melhor foi a  polícia judiciária (carinhosamente, a Judite) que considerei a rainha do sistema judicial português (ultimamente tão maltratada).

A que tratei pior foi o ministério público, acerca do qual cheguei a dizer que era o diabo à solta no país.



(*) Dr. Encarnação, está a ver que não é ofensivo? Eu também sou. Veja lá se, ainda assim, leva isto para o Processo...

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