08 setembro 2017

zero

O pior estava para vir e não viria só de uma assentada.

O Ministério da Saúde tomou  a decisão em tempo record. Numa carta com data de 22 de Agosto o Dr. Poole da Costa informava o presidente do HSJ do despacho do Secretário de Estado Manuel Delgado acerca do Dossier Continente. Concordando com o Parecer, o pedido de cedência do espaço era indeferido.

Quando, já em Setembro, o Dr. Oliveira e Silva me deu conhecimento desta carta por e-mail, eu estava sentado à secretária, e os meus ombros caíram. Desde que eu tinha dado o passo de concretizar a obra do Joãozinho, que as dificuldades se sucediam umas às outras e tinham todas a mesma procedência - a administração do HSJ, às vezes em conluio com a Cuatrecasas, e agora tendo pelas costas o próprio Ministério da Saúde.

-Então o Dr. Manuel Delgado - mais o seu chefe de gabinete, Dr. Poole da Costa - que tanto me tinha felicitado pelo Dossier Continente, que me tinha encorajado fortemente a prossegui-lo, era agora o mesmo que o inviabilizava, ainda por cima com base num Parecer cujo acesso me tinha sido negado, e sem me dar uma palavra sequer!?

-Safados!...

é o expletivo que me lembro de ter proferido na altura, sozinho no meu gabinete.

Mas o pior - verdadeiramente, o pior - estava ainda para vir e a poucos dias de distância. No dia 15 de Setembro compareci no DIAP de Matosinhos. O oficial de justiça veio-me receber à porta muito gentilmente, pediu-me desculpa pela demora - tinha estado mais de meia-hora à espera - e sentou-me a uma secretária em frente dele.

Tinha duas queixas-crime contra mim apresentadas pelo Dr. Paulo Rangel e pela sociedade de advogados Cuatrecasas, que ele descreveu brevemente.

-Pensei que era das deputadas do Bloco de Esquerda...

-Também cá deu entrada ... mas foi arquivada...

Passámos então aos detalhes e foi quando me dei conta de quem subscrevia a queixa por parte da Cuatrecasas: Paulo Rangel, Filipe Avides Moreira e Vasco Mouras Ramos.

-Vasco Moura Ramos!?

Desatei imediatamente a disparar sem perder o fôlego.

-Então este patife, tinha tido a distinta lata de se apresentar mês e meio antes, perante profissionais altamente qualificados reunidos no HSJ, a dar um Parecer sobre um trabalho de que eu era o principal autor, encontrando-se numa situação de conflito de interesses, e não a revelou a ninguém!?....

Fui por ali a falar sobre o Vasco Moura Ramos e a Cuatrecasas sem parar - eles deviam ter todos as orelhas a arder onde quer que se encontrassem -, enquanto o oficial de justiça me escutava em silêncio. Ao fim de alguns minutos, quando fiz uma pausa para ganhar fôlego, ele interrompeu-me delicadamente e disse-me:

-Olhe... se tem isso tudo para dizer ... o melhor é escolher não prestar declarações aqui... e dizer tudo isso perante um juiz de instrução...

Assinei a papelada que ele me pôs à frente e saí dali que nem um furacão, directo ao carro onde tinha o meu computador e, em seguida, entrei no Café mais próximo.

Tinha um e-mail para enviar ao Secretário de Estado Manuel Delgado e outro ao Dr. Oliveira e Silva. O texto era essencialmente o mesmo. Depois de lhes contar que tinha acabado de sair do DIAP, e o motivo por que lá tinha estado, terminava assim, em ambos os casos:

"Não conhecia pessoalmente o Dr. Vasco Moura Ramos. Estou agora desconcertado que ele tenha aceite dar um parecer sobre um trabalho de que eu sou o principal autor, e que nem sequer tenha dado a conhecer a situação de conflito de interesses em que se encontrava às pessoas que participaram na nossa reunião do final de Julho.
Muitos cumprimentos.
P. Arroja" .

No dia seguinte, depois de serenar a indignação, comuniquei-lhes que o valor que eu atribuía ao Parecer, que tinha servido de base para indeferir o Dossier Continente, era zero.

Nenhum deles me respondeu.

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