Quem paga as contas?
Os políticos. Os jornalistas estão em trabalho - o trabalho de, logo a seguir, irem escrever nos jornais aquilo que os políticos lhes dizem para escrever.
E, de facto isto é assim na Cúria Romana em que o poder instituído estabelece a Verdade e depois a passa ao povo através do Osservatore Romano. Mas, numa democracia partidária é ao contrário, a missão dos jornalistas é a de fazer chegar ao poder instituído a opinião do povo - a opinião pública.
O livro do José António Saraiva, sem que ele próprio se aperceba, é acerca da promiscuidade entre jornalistas e políticos, acerca da maneira como tudo é concebido e combinado entre eles nos mais famosos bares e restaurantes de Lisboa, para depois ser servido ao povo, em versão pronto-a-comer, através do Jornal da Cúria.
Do outro lado, está uma classe média, sobretudo urbana, com pretensões intelectuais, mas sem tempo, nem gosto nem hábitos para o estudo, que espera que as novidades lhe sejam servidas num sofá, e de preferência ao fim-de-semana. É assim um povo de cultura católica, fica à espera que lhe sirvam a Verdade. Mas não é assim numa democracia partidária. Aí é o povo que toma a iniciativa e a transmite ao poder político - que é suposto representá-lo - para que este a execute.
A cultura católica do país mina a democracia partidária de alto a baixo, invertendo os papeis dos jornalistas e dos políticos, por um lado, e do povo, por outro. Na democracia partidária, o povo toma a iniciativa (opinião pública), os jornalistas transmitem-na aos políticos, e estes - como agentes do povo - executam-na. Na Cúria Romana é ao contrário, os padres tomam a iniciativa, os jornalistas transmitem-na ao povo, e o povo aceita-a passivamente.
Não surpreende que, um país de tradição católica, como é Portugal, quando envereda pela democracia partidária, tudo saia ao contrário. Em lugar da prosperidade prometida sai a ruína.
Mas a contradição mais curiosa é ver "democratas" zangados com o povo e a dar lições de democracia ao país que é o primeiro país a nascer democrático, e é o símbolo da democracia no mundo. Como este, que foi o primeiro director do Público, vindo directamente do Jornal da Cúria (veja também aqui).
Admira-se que no Público ninguém tivesse previsto, todos tivessem torcido contra, e muitos parecem ainda não aceitar, a eleição do Trump?
O povo só pode estar enganado.
2 comentários:
> Na democracia partidária, o povo toma a iniciativa (opinião pública), os jornalistas transmitem-na aos políticos
Alguém não viu sequer as letras gordas nas capas dos jornais americanos estes últimos meses.
(Foi o que eu vi, por uma questão de higiene não fui inspeccionar mais de perto os dejectos. Já bastava os escribas do burgo a comê-los deliciados e a regurgitarem para cima de nós. Que nojo.)
Trumpofobia.
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