26 setembro 2015

a literatura no feminino

Acordei à uma da manhã para chorar, despi-me e nu, sentado na cama, chorei.

Imaginem que eu tinha escrito este post, muitas pessoas pensariam que eu tinha ensandecido, que andava a tomar a pílula (Prozac), ou que estava a escrever de um campo de refugiados sírios em Munique.
A mesma frase, porém, no feminino, não choca. Pelo contrário, estimula a imaginação. Porquê?
Acordar para chorar é revelar uma tensão interna que busca a sua catarse. Despir-se é expor-se, é ser natural e verdadeira. Despir-se para chorar é comunicar um estado de alma. Sentar-se é esperar.
No fundo, a frase é uma súplica no feminino.
- Eu estou à espera (sentada) de ti (leitor), eu estou nua (verdadeira, mas provocante) à espera que venhas aplacar a minha alma tumultuosa. Choro (estou molhada).
Esta provocação erótica e literária (essencialmente passiva, feminina) nunca poderia ser escrita por um homem (activo), seria ridículo.
Proferida por uma mulher, porém, adquire um significado totalmente diferente. Uma boa escritora sabe mostrar-nos tudo, sem nos mostrar nada.
Comecei a ler o blogue da Ana Cássia Rebelo por sugestão do J. Rentes de Carvalho, uma excelente sugestão, sublinho.

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