31 dezembro 2014

Tolkien e o poder

"Sir John Ronald Reuel Tolkien nasceu em 1892, na cidade de Bloemfontein, no território da atual África do Sul, e já muito cedo se mudou para a Inglaterra, terra natal de seus pais. O seu pai, Arthur Tolkien, morreu em 1896, deixando mulher e filhos em uma difícil situação financeira. Quando Mabel Suffield, sua mãe, passou da religião anglicana ao catolicismo, sua família negou-lhe ajuda e ela passou o martírio de cuidar sozinha de seus filhos, para que não caíssem nas mãos de seus familiares. Por causa do excesso de trabalho e do diabetes – na época, sem tratamento –, ela veio a falecer. No seu testamento, porém, estabelecia como tutor das crianças um padre jesuíta, garantindo a elas uma educação católica. Foi de tal sorte valiosa a educação que recebeu que, de seu casamento com Edith Bratt, em 1913, advieram-lhes quatro filhos, dentre os quais um tornou-se sacerdote."

(...) De que modo, então, Deus é o protagonista de "O Senhor dos Anéis"? O tema principal de toda a saga é a destruição de um anel. O anel da invisibilidade é a potência terrível do pecado original, a tentação do ser humano de colocar-se no lugar de Deus. "  O Senhor dos Anéis, Padre Paulo Ricardo

De um post anterior:

(em estrangeiro) “My political opinions lean more and more to Anarchy (philosophically understood, meaning the abolition of control not whiskered men with bombs) — or to ‘unconstitutional’ Monarchy. I would arrest anybody who uses the word State (in any sense other than the inaminate real of England and its inhabitants, a thing that has neither power, rights nor mind); and after a chance of recantation, execute them if they remained obstinate! 

If we could go back to personal names, it would do a lot of good. Government is an abstract noun meaning the art and process of governing and it should be an offence to write it with a capital G or so to refer to people … 

The most improper job of any many, even saints (who at any rate were at least unwilling to take it on), is bossing other men. Not one in a million is fit for it, and least of all those who seek the opportunity … 

There is only one bright spot and that is the growing habit of disgruntled men of dynamating factories and power-stations; I hope that, encouraged now as ‘patriotism’, may remain a habit! But it won’t do any good, if it is not universal.” - J.R.R. Tolkien, letter to his son, 1943 (from The Letters of J.R.R. Tolkien).

o pior "filme" de 2014


O pior de 2014 foi a prisão do ex-primeiro-ministro José Sócrates. É um filme rasca que nos diminui e enfraquece a todos.
Se Sócrates estiver inocente a sua prisão é uma comédia foleira. Se estiver culpado é uma tragédia, por termos tido um vigarista como primeiro-ministro.
Em qualquer dos casos, a sua injustificável prisão preventiva já prejudicou bastante o País. Deu uma imagem terceiro-mundista da justiça.
Para mim, e numa nota pessoal, a prisão preventiva de Sócrates teve outra nuance que não esperava. Permitiu-me perceber que quase não há liberais entre nós. Em Portugal, o tribalismo sectarismo sobrepõe-se à paixão pela liberdade.

Observador


O melhor de 2014 foi o aparecimento do Observador. Leio-o todos os dias e, com frequência, deixo aqui links para alguns artigos.
Com pequenas melhorias, o Observador pode vir a ocupar o # 1 da imprensa nacional. Como fã, aqui ficam algumas sugestões: menos sectarismo e ataques pessoais, e mais humor e ironia.

29 dezembro 2014

a curva de Laffer II


A chamada curva de Laffer não é bem uma curva e, na realidade, até pode ser uma recta (ex.: um país que passasse de uma taxa 0 a uma taxa de 100%).
O que conta é apenas um princípio apriorístico, a saber: há uma relação implícita e obrigatória entre as taxas e a colecta, que começa por aumentar para depois cair.
Qualquer economista da Escola Austríaca aceita a curva de Laffer. Quem não a aceita são os Keynesianos que acreditam que “taxar e gastar” produz crescimento económico.
De realçar que cada país, cada economia, tem uma resistência diferente à carga fiscal e, portanto, a sua própria curva de Laffer. Mas a verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima. O aumento da carga fiscal penaliza o trabalho e a economia e, a partir de certo ponto, penaliza também a colecta.
Esta semana li um artigo, já não me recordo onde, que observava, com humor, uma contradição em que a esquerda cai com facilidade. Recomendam o aumento  dos impostos sobre os vícios para os diminuir (tabaco, álcool) mas, em simultâneo, querem-nos fazer crer que o aumento dos impostos sobre o trabalho ou o investimento têm o efeito oposto.
Enfim, pelo menos lá está a célebre curva para os lembrar de que há limites à voracidade do Estado.

Re: A curva de Laffer

Sendo uma ideia vinda de hostes liberais (do género supply-sider-monetarista, sempre cheio de falácias e armadilhas) o conceito é péssimo.

Parece ser uma medida de maximização de utilidade de um parasita sobre a sua vítima. O cálculo do parasitismo máximo que permita a vítima sobreviver em condições mínimas.

Mas em termos práticos, a utilidade concreta da curva de Laffer deve aplicar-se para uma dada despesa objectivo do Estado. 

A partir da sua fixação, e que pode ser de 5% do PIB como em saudosos tempos, como nos actuais 50%...existirá porventura um mix de impostos mínimo que permita financiar essa despesa.

Conclusão: há tantas curvas de Laffer quantos objectivos de despesa pública.


Previsão prestes a ser confirmada: aborto a ser criminalizado para sobrevivência do Estado Social

Que é aquilo que preocupa os colectivistas, de esquerda e direita.

O facto de ser precisamente esse Estado Social a destruir o incentivo ao "estado social" natural da família e comunidade próxima, (com filhos, primos, tios, avós) e criar o indivíduo atomizado cujo estado social liberta da necessidade de estar inserido numa relação recípocra afectiva mas também de inclusão/exclusão de deveres, não os preocupa, nem sequer à direita, sempre presa ao conservadorismo estupidificante do "se hoje é assim, assim deve manter-se porque ontem já assim era, e o que agora é, é o colectivismo das relações sociais, e eu tenho horror a mudar o que seja, nem que o agora de hoje tenha sido o construtivismo de ontem", e mesmo que isso represente a sua anulação.

Dado que os jovens, em tempo de investimentos sucessivos (casa, carro, filhos) têm de pagar o não-trabalho de idosos que deviam ter acumulado poupança (e continuar a trabalhar enquanto têm condições físicas e mentais para isso) e dado os riscos e custos de desagregação (divórcio unilateral na hora) o caminho... é a baixa natalidade.

Caminho imediato seria limitar a pensão de reforma a um valor fixo de sobrevivência (limitando contribuição), penalizar em termos de TSU quem tem menos de 2 filhos - e que poderiam ser adoptados (dado não gerar os dois contribuintes que sustente a lógica do sistema de transferências que tanto adoram). O melhor seria acabar de todo com o sistema levando ao tradicional comum a todos tempos: ter filhos também como protecção.

Claro que o caminho vai ser o oposto, alegremente adoptado pela direita (não vai o aborto ser proibido?). A seu tempo serão medidas repressivas e de colectivização da natalidade, a procriação por biotecnologia que libertará finalmente a mulher...e os géneros. E neste ponto... o aborto passará novamente a ser livre e subsidiado.

Agora a criança será uma variável macro-económica, educada para se constituir como o bom cidadão, o individuo a quem tudo é permitido (liberto de qualquer sanção social) e lhe é dado... menos prejudicar ou opor-se à perpetuação e engrandecimento da vontade geral.

A bem da civilização esperemos, que se a mudança de rumo não for possível, que tal como na URSS, o sistema simplesmente impluda.

PS: Já agora, contas simples indicam que quem paga 20% IRS veria o salário líquido subir... 50% com fim TSUs. Mesmo assim, sistema tem de recorrer ao OE (IVA consignado e outras transf.) dado receita própria já estar longe de ser suficiente.

Quanto ao artigo indicativo:

"The 2007 chart shows a healthy-ish economy, with lots of retirees but also lots of working-age people to support it. The right-most chart is a catastrophe. With almost one retiree for every working-age person, that's hardly sustainable.(...)

Officials in Japan are keenly aware of how endangered they are by the country's low birth rate. National programs encourage young men and women to get together and politicians often debate how to create more Japanese babies. One prominent legislator, Seiko Noda, has worked on the issue since soon after taking office in 1993. In February, Noda proposed that Japan lift the birth rate by simply banning abortion. The proposal may have been facetious, but it was certainly desperate – and maybe appropriately." 

http://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/wp/2013/10/22/japans-sexual-apathy-is-endangering-the-global-economy/

28 dezembro 2014

o inimigo interno

Sobre a necessidade de compromissos em política - Jared Diamond

Laffer

A curva de Laffer está bem e recomenda-se

1 de Janeiro de 1999


Os acontecimentos mais significativos para Portugal, desde o 25 de Abril, foram, na minha modesta opinião:
  1. A adesão ao Euro, em 1999
  2. A prisão preventiva do ex-primeiro-ministro José Sócrates
Sobre a adesão ao Euro nada será necessário acrescentar por ser por demais evidente que tudo mudou desde então.
Relativamente ao José Sócrates, já é necessária alguma elucubração para evitar juízos histéricos.
O Sr. Sócrates não é um cidadão qualquer. Governou o país durante 6 anos, em representação e com um mandato (por assim dizer) do Partido Socialista.
As dúvidas que agora recaem sobre ele afetam todos os que diretamente o apoiaram, é verdade. Mas afetam também todos os que colaboraram com os seus governos ainda que de forma institucional. Em resumo, afetam o regime.
A sua prisão (mesmo que se venha a provar a inocência) demonstra que o sistema político entrou num desvario psicótico donde será difícil sair sem convulsões.
Se me permitem também a liberdade de algum possível desvario mental, gostaria de relacionar a adesão ao Euro com a prisão de Sócrates.
A adesão à moeda única implicava uma “mudança de vida” que nunca ocorreu. As pressões eram grandes e, recordemos, antes dele, dois primeiros-ministros piraram-se e a outro “piraram-no”.
Sócrates não terá compreendido que os tempos tinham mudado e limitou-se ao costume: ajudar os amigos e aplicar o regulamento aos adversários. Até o céu lhe cair em cima e ser obrigado a pirar-se também. Caído em desgraça, era só esperar pelo momento oportuno para lhe desferirem o golpe fatal.
Não tenho nenhuma bola de cristal, mas não me parece despiciendo especular que, se não tivéssemos aderido ao Euro, Sócrates ainda estaria em liberdade.
Ricardo Salgado continuaria a ser o DDT e José Sócrates estaria bem posicionado para vir a ser o próximo Presidente da República.
A nossa realidade mudou no dia 1 de Janeiro de 1999 e é muito perigoso, como dizia a Ayn Rand, ignorar a realidade. Não só para José Sócrates mas sobretudo para todos nós.

A Prisão Preventiva numa democracia liberal

CÓDIGO DA EXECUÇÃO DAS PENAS E MEDIDAS PRIVATIVAS DA LIBERDADE
Título XVI 
Regras especiais 
CAPÍTULO I 
Prisão preventiva e detenção 
Artigo 123.º
Prisão preventiva
1 - A prisão preventiva, em conformidade com o princípio da presunção de inocência, é executada de forma a excluir qualquer restrição da liberdade não estritamente indispensável à realização da finalidade cautelar que determinou a sua aplicação e à manutenção da ordem, segurança e disciplina no estabelecimento prisional. 


Sobre a prisão preventiva, muitos não conseguem ver para lá de Sócrates. Num país em que cerca de 1 em cada 5 reclusos são presos preventivos, choca a incapacidade de ver além do odiozinho de estimação. 

Peguemos no último caso. Arnaut faz figura de pateta quando procura argumentar que se trata de uma perseguição a Sócrates. Objectivamente, Arnaut faz figuras ridículas quando fala de Sócrates, tal como outros antes dele,  É por demais evidente que os responsáveis pela cadeia apenas estão a aplicar regras cegamente e não a perseguir o ex-primeiro-ministro. Mas é por isso mesmo que este caso nos deve alertar. 

Se tratam assim um recluso quando sabem que estão a ser escrutinados ao milímetro, como não farão com outros? Custa muito perceber que José Sócrates é apenas a ponta do iceberg? Desprezar o que lhe acontece é desprezar todos os outros presos preventivos e suas famílias.

E, para mim, essa é a questão, com que legitimidade se desumaniza alguém? Com que legitimidade é que a nossa sociedade pega num cidadão presumivelmente inocente e o submete a um regime prisional em tudo semelhante ao de um condenado efectivo?

Luís Aguiar-Conraria, no "A Destreza das Dúvidas"

Comentário: Eis um bom exemplo de liberalismo.

Red Tape Is Strangling Good Samaritans

“I should be inclined to think freedom is less necessary in great things than in little ones… Subjection in minor affairs does not drive men to resistance, but it crosses them at every turn, till they are led to surrender the exercise of their own will. Thus their spirit is gradually broken and their character enervated.”
Tocqueville

Eu diria que a liberdade é menos necessária para as coisas importantes do que para as banais... A submissão a futilidades não provoca resistência, mas verga os indivíduos continuamente, até estes capitularem do exercício da vontade própria. O espírito é destruído e a personalidade esgotada.

PS: Artigo muito interessante sobre o impacto nefasto do excesso de regulamentação.

26 dezembro 2014

por que não há liberais em Portugal?



Porque não confiamos uns nos outros. Ver gráfico interactivo aqui. E sem confiança nenhuma sociedade preza a liberdade porque assume que esta vai ser mal utilizada.

o défice liberal

Se hoje estamos numa situação muito difícil, uma das causas foi o défice de cultura liberal – talvez o único défice superior ao défice financeiro.

João Marques de Almeida, no Observador

24 dezembro 2014

Feliz Natal


o sentido da História


A História tem algum sentido? Ou é apenas uma sucessão de eventos aleatórios?
Eu partilho a opinião dos que divisam um sentido na História. Acredito no progresso da humanidade e penso que o estudo da História nos permite descobrir as linhas mestras que nos devem nortear.
E em que é que se baseia esta minha “fé”? Ouço já os cínicos...
Muito simples: no facto da nossa espécie ter começado a sua epopeia apenas com uns milhares de indivíduos, há 200.000 anos, e sermos, actualmente, uns 7 biliões (em milhares de milhões).
Se este facto não desvenda nada... estamos conversados. Para mim desvenda tudo, aponta um sentido que é o do sucesso biológico. E um horizonte longínquo que é a eternização do Homo Sapiens. Será possível?
Neste momento, esta pergunta não tem uma resposta científica. Poderemos vir a colonizar outros planetas? Poderemos descobrir outros Universos? Quem sabe?
Também não é fundamental ter a resposta pronta. O que é fundamental é sabermos ao que viemos e para onde vamos. Somos uma espécie animal, dotada de um sopro divino, em busca da Eternidade.
Eternidade essa que é uma espécie de Estrela Polar da História. Dá-lhe um sentido e explica o que é o progresso.

choque com a realidade

Coligação em choque com a realidade

23 dezembro 2014

John Donne

No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main; if a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were; any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee.

Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar dos teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do género humano, e por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

dixit

Denunciou uma vez mais a cultura da má-língua, mas com palavras duríssimas para um Papa: trata-se, afirmou, da  “doença dos cobardes”, dos “semeadores da discórdia” e “assassinos a sangue-frio” da reputação dos seus irmãos. “Tende cuidado com o terrorismo da má-língua”, afirmou, antes de exortar os presentes a trabalharem pela unidade da Igreja.
(aqui)

Súmula Liberal

Excelente artigo do Gonçalo Almeida Ribeiro, no Observador, sobre o liberalismo

22 dezembro 2014

eu já não sou liberal II


Nas próximas eleições parlamentares o governo não vai ser julgado pela sua ideologia, vai ser julgado pelo resultado das suas políticas. Infelizmente um molho de brócolos onde não se discerne qualquer ideologia consistente.
Daí ter vindo a ser criticado pelos liberais e pelos colectivistas, uma espécie de “quadratura dos círculos políticos” que é, isso sim, uma verdadeira proeza.
Claro que os socialistas, da ala esquerda do PS ao MRPP, não se cansam de gritar contra as políticas neoliberais do governo, só que essas políticas são como as vestes do Rei que vai nu. Não estão lá.
O que espera a esquerda? Que os portugueses esqueçam a bancarrota e a perda de soberania e atribuam o descalabro do País ao neoliberalismo.
Alguém que apareça a afirmar que “já não é liberal”, não está a ajudar o governo, está a prejudicá-lo e muito. Porque se o problema for com o liberalismo então mais vale votar em quem não tenha uma gota de amor à liberdade a correr no sangue.
Depois, ser liberal não é uma escolha. Nasce-se liberal ou com “fortes indícios – como se diz agora – de paixão pela liberdade. Os liberais têm um “locus” interno, acreditam em si próprios e no valor do trabalho. Claro que projetam esta imagem nos seus concidadãos e, muitas vezes, saem decepcionados, mas não deixam de ser liberais por isso.
Eu continuo a ser liberal, mesmo tendo concluído que o liberalismo não tem futuro em Portugal nos próximos anos. Talvez daqui a trezentos ou quatrocentos anos. Fica-nos apenas a força da convicção de que vai acontecer.
Porquê? Porque toda a história evoluiu no sentido da distribuição do poder ao maior número possível de pessoas: é a democracia liberal e capitalista, é o Fim da História.
Não estarei cá para ver? “No problem”, estarão as minhas filhas e os meu futuros netos, que na realidade serei eu com outra pele.
Dito isto, fico tão surpreendido com a afirmação de que “já não sou liberal” como ficaria se alguém dissesse “já não sou gay”. Então não se costuma dizer que essa opção é uma via sem retorno? Se já não és gay o que andaste lá a fazer?
Igualmente ninguém é liberal e deixa de ser. O catolicismo, por exemplo, não deixa de ser um liberalismo adaptado à nossa cultura. E até Salazar era mais liberal do que o actual governo.
O que diria Salazar se o Gaspar o invocasse numa sessão de espiritismo e lhe perguntasse sobre o “enorme aumento de impostos”:
- Tirem este verme comunista da minha frente. O Tarrafal ainda está operacional?

eu já não sou liberal

Temos agora em Portugal um liberal que deixou de ser liberal. Trata-se de Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, e antes um dos liberais mais ativos na blogosfera e na opinião política lusa. Disse ele em entrevista a este jornal: "Se nós olharmos para o que aconteceu em 2007 nos EUA e aqui, houve uma margem de liberdade dada aos agentes económicos, sobretudo financeiros, que pura e simplesmente eles não mereciam. Não estavam à sua altura. Por isso vou fazer-vos uma revelação: eu já não sou liberal".

Rui Tavares

21 dezembro 2014

a ideologia da matryoshka






‹‹Analisar a história da esquerda é testemunhar o apetite carnívoro do espírito progressista, uma vontade insaciável de desafiar a tradição. O seu percurso é como o de uma “matryoshka” ideológica, com as bonecas a engolirem-se sucessivamente. O movimento cresce sem deixar vestígio dos últimos apoiantes – excepto pelo aroma de ressentimento e cinismo. O activista operário foi engolido pela feminista. A feminista foi ultrapassada pelo activista negro. O activista negro foi deposto pelo LGBTO. O activista LGBTO está em vias de ser despachado pelo activista hispânico.››

O Mestre e o discípulo

Depois de ter seguido o Professor no caminho do liberalismo, Carlos Abreu Amorim faz o mesmo percurso na direcção oposta, mais uma vez com uns anitos de atraso. A sua conversão ao catolicismo também já esteve mais longe.

20 dezembro 2014

corrupção

Véu de corrupção envolve o Partido Socialista, segundo esta notícia do DN:

A maioria das autarquias que fizeram negócio com as empresas de Santos Silva é do Interior. Parque Escolar e câmaras socialistas foram responsáveis por 52,6% do valor dos contratos (7,87 milhões de euros), autarquias PSD somam 8,62% e as do PCP 5,84%.

Retribuição


Retribuição
Por Pedro Arroja

Se, numa palavra, houvesse que definir o que é Justiça na tradição portuguesa e católica, a palavra a utilizar seria Retribuição. Trata-se, ainda, de um atributo mais prevalecente nas mulheres do que nos homens.

Justiça é premiar o mérito e penalizar o demérito, é louvar as contribuições ao Bem-comum e castigar as agressões, é dar o seu a seu dono,  é dar “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.

A concepção da cultura protestante é diferente e tem origem em Kant, às vezes chamado “o filósofo do protestantismo”. Kant afirmava que o homem não pode chegar à Verdade, da qual só pode conhecer meras manifestações ou fenómenos. Segue-se que a Verdade deixa de interessar para se fazer Justiça.

Na linha de Kant, o teórico alemão Hans Kelsen, o pai do positivismo jurídico  moderno, foi mesmo mais longe ao afirmar que Cristo veio ao mundo para fazer Justiça, e não para dizer a Verdade (embora Cristo tenha dito “Eu sou o caminho, a verdade  e a vida”, e não “eu sou o caminho, a justiça e a vida”).

É neste momento que ocorre a pergunta: mas como é que se pode fazer Justiça sem Verdade?

Na tradição portuguesa e católica, a Verdade antecede a Justiça,  e é condição sine qua non da Justiça. Na tradição protestante, a Justiça é independente da Verdade (pelo facto de, segundo esta tradição, não se poder chegar à Verdade).

Mas então, se na tradição católica, a Justiça se define na palavra Retribuição, qual é a palavra que define a Justiça na tradição protestante?

Equidade.

O teórico americano do Direito John Rawls, ao seu famoso livro “A Theory of Justice”, dá-lhe precisamente o subtítulo de “Justice as Fairness”.

A diferença entre as duas concepções de Justiça pode ser ilustrada com um exemplo clássico. Duas mulheres reclamam junto do Rei Salomão a maternidade de uma criança. Cansado de as ouvir, e na dúvida quanto à verdadeira maternidade da criança, o Rei anuncia a ambas que vai cortar a criança a meio e dar metade a cada uma. É nessa altura que uma das mulheres irrompe num pranto pedindo ao Rei que entregue a criança à outra. O Rei acabou por entregar a criança à mulher que entrou em pânico, porque ela era a verdadeira mãe da criança.

Esta é também a tradição católica de justiça – dar o seu a seu dono. Na tradição protestante, em que Justiça é equidade,  ter-se-ia procedido a uma repartição equitativa da criança pelas duas mulheres, dando metade a cada uma.

A concepção protestante de Justiça é uma concepção abstracta e igualitária, ao passo que a concepção católica assenta em factos, na Verdade.

Se existem pessoas com poder ou dinheiro na sociedade, a concepção protestante e igualitária da Justiça sugere que a Justiça vá atrás delas para assegurar o sentimento de equidade na sociedade, e independentemente da Verdade.

É esta concepção de Justiça que está presente nos casos mais recentes e mediáticos do sistema português de justiça. Primeiro vai-se atrás dos poderosos, pondo-os na prisão ou humilhando-os publicamente de outra forma. Depois procuram-se as provas (a Verdade), se é que isso interessa para alguma coisa.
(in Vida Económica, 19 de Dezembro de 2014)

19 dezembro 2014

libertarianismo


O libertarianismo não é uma ideologia, é mais uma perspectiva filosófica do que qualquer outra coisa.
Não é de esquerda, nem de direita, está, por assim dizer, acima destas divisões. Foca-se no indivíduo, com os seus direitos inalienáveis, e busca a construção de uma sociedade plenamente livre.
Também busca o Bem Comum enquanto ecossistema ideal para o desenvolvimento do indivíduo. Não é, porém, construtivista. O Bem Comum emerge naturalmente das ações individuais.
Eu tenho proposto que o Bem Comum é o “produto agregado” da ação humana, numa sociedade livre – por analogia com o conceito económico. É, no fundo, o melhor ambiente para “crescermos e multiplicarmo-nos”.
As ideologias dividem a sociedade em tribos, com os seus cabecilhas, que se digladiam numa guerra permanente. O libertarianismo, pelo contrário, é anti-tribal.
Os portugueses, sendo bastante tribais, dão-se às ideologias com um fervor quase fanático. Ao ponto de serem cegos a qualquer perspectiva diferente. A minha afirmação de que não me considero de esquerda nem de direita é incompreensível para a maioria.
Em Portugal, se não pertencermos a uma tribo não existimos. Ninguém quer saber o que pensamos, apenas as cores dos estandartes. Um português de lei, define-se, por exemplo, pela corporação a que pertence, pelo partido ou pelo clube de futebol.
O que pensa? Não interessa. É por isso que o libertarianismo nunca será muito popular por estas bandas.

o Estado dá, o Estado tira


Qual é a posição libertária em relação à greve? Em primeiro lugar reconhecer o que são os sindicatos e qual é o papel da greve.
Os sindicatos são cartéis que procuram limitar o funcionamento dos mercados, inflacionando o preço do trabalho. A greve é a arma destes cartéis que procuram monopolizar o mercado do trabalho e coagir os empregadores sob a ameaça da paralisação.
Os libertários são contra os monopólios, mas ao mesmo tempo procuram defender a liberdade de associação e de negociação. Neste sentido, nunca proibiriam os sindicatos e a greves.
Procuram, contudo, equilibrar a balança garantindo o direito do empregador ao despedimento. Ainda, procuram garantir o livre funcionamento dos mercados, de modo a nunca deixar os consumidores na mão de monopolistas e de cartéis mafiosos.
A nossa posição não é de esquerda, desequilibrando a balança a favor dos trabalhadores. Mas também não é de direita, desequilibrando a balança a favor dos empregadores. Procuramos o equilíbrio na liberdade e nos mercados.
Vamos agora ao caso da TAP, de que lado estamos? A favor ou contra a greve e a favor ou contra a requisição civil?
A TAP é um apêndice do Estado e os cartéis que promoveram esta greve também. A Lei protege-os mesmo quando os seus fins são políticos e prejudicam gravemente o País. A actual situação, portanto, não passa de uma patologia do colectivismo/socialismo.
Em liberdade a TAP nunca existiria e a capacidade dos sindicatos para provocarem o caos estaria limitada pela concorrência.
O meu sentimento em relação à greve/requisição civil é, em conclusão, o seguinte: o Estado criou o problema, o Estado que o resolva. Até que os cidadãos prefiram a Liberdade ao Estado.

Dragoscópio

Como podem verificar o Dragoscópio já consta da lista de preferências do Portugal Contemporâneo (está na coluna da direita Zazie :-) ). Não podíamos deixar de acompanhar um bloguer que ressuscitou (born again?) depois de um estágio Ptolomaico no centro do Universo, redescoberto no seu próprio umbigo.
A blogosfera fica mais rica com este regresso do "etéreo assento" para explicar ao comum dos mortais as engrenagens divinas.
Bem-vindo.

18 dezembro 2014

1 crónica e 2 notícias

E, enquanto tal, tenho todo o direito – repito: todo o direito – de presumir, face ao que leio nos jornais, ...  que Sócrates é culpado daquilo que o acusam.
JMT 
27/11/2014
___

De acordo com o Público, Diário de Notícias e Correio da Manhã, o motorista de José Sócrates, que também é arguido no processo, levaria malas de dinheiro regularmente a Paris que chegariam aos milhares de euros.
Observador
24/11/2014
___ 

O advogado de José Sócrates, João Araújo, disse esta quinta-feira, em Évora, que o motorista do ex-primeiro-ministro, João Perna, "nunca foi a Paris" nem "levou malas de dinheiro" para a capital francesa.
Público
18/12/2014

Comentário: O problema é que quase tudo o que lemos nos jornais é merda. Agora, também é verdade que qualquer um tem o direito de fazer figura de parvo.

não devia espantar

Num país em que é possível apresentar uma tese de mestrado (na UP) baseada em 34 entrevistas (segundo este artigo) e extrair daí conclusões alegadamente científicas, não devia espantar que alguém tivesse completado uma licenciatura por fax e ao fim de semana.

um país diabólico II

Em 1853 foram criados vários regulamentos sanitários de meretrizes que impunham a obrigatoriedade de matrícula e o porte de um livrete individual de registo de inspecções periódicas. Só em 1962 é que a prática foi proibida. O que “não veio melhorar as condições sanitárias nem morais da população”, segundo lembra Sofia Matias, antes deixou as prostitutas “mais desprotegidas e mais vitimizadas”.

Público

Comentário: Segundo a Mestre em Psicologia da Prostituição, Sofia Matias, as prostitutas foram prejudicadas pelo fim da "obrigatoriedade de matrícula e porte de um livrete individual de registo de inspecções periódicas".
Curiosamente, a "jornalista" Natália Faria (nfaria@publico.pt) deixou passar esta pérola sem qualquer reparo.
Desde já me comprometo a destacar qualquer esclarecimento que a Sofia Martins ou a Natália Faria pretendam dar.

17 dezembro 2014

a implosão da democracia?

It may be that democracies are not at present equipped to solve the problems advanced nations face.

É possível que as democracias Ocidentais não tenham as ferramentas necessárias para resolver os problemas dos países desenvolvidos.

o aviso de Kafka (versão tuga do Miranda warning)


Em Portugal, todos são suspeitos até prova em contrário
Todas as Leis da República podem ser e serão utilizadas contra um suspeito ( a letra da Lei sobrepõe-se ao espírito da Lei)
O Estado arroga-se o direito de encarcerar qualquer indivíduo preventivamente, sem lhe dar conhecimento dos indícios subjacentes e sem formular qualquer acusação
O segredo de justiça permite arruinar a reputação de qualquer indivíduo, deixando-o sem possibilidade de se defender
Todos têm direito a um advogado, mas a Ordem dos advogados pode condicionar a defesa do acusado
Conhecedor deste sistema e desta cultura judicial, desejas continuar a ser português?

em quem confias mais?

Num casal de pais com um problema de álcool ou no Estado?

um país diabólico

A maior parte das pessoas que são apanhadas a conduzir com taxas de alcoolemia acima do limite legal não são alcoólicas, nem sequer estão embriagadas.
As taxas foram definidas apenas para garantir uma condução segura. Um tipo que beba dois finos (estou no Porto) pode ultrapassar o limite legal de 0,5 g/l sem quaisquer efeitos visíveis. Apenas tem o "tempo de reação" ligeiramente prolongado.
Um bêbado, cambaleante e eufórico ou choroso, normalmente tem taxas de alcoolemia 3 a 4 vezes superiores aos 1,2 g/l considerados crime.

Não devemos portanto confundir a chamada "Condução Sob a Influência" ou CSI (do inglês DUI) com alcoolismo. A própria expressão - sob a influência - sublinha a diferença.

Chamar alcoólicas às pessoas que estão a CSI é errado. Retirar-lhes "a guarda dos filhos" é diabólico.

PS: Os filhos não estão "à guarda dos pais"; os filhos são dos pais. Os órfãos é que ficam à guarda seja de quem for.

16 dezembro 2014

selvajaria inacreditável

 Taliban militants stormed an elite public school in northwestern Pakistan on Tuesday, killing at least 104 students and teachers, wounding scores of others and perhaps holding many others hostage, according to Pakistani security and hospital officials.

há lugar para a prisão preventiva II

O sequestrador de Sydney era um criminoso que devia estar preso, em vez de estar a aguardar julgamento sob caução.

O Telegraph, neste artigo, deixa a pergunta: por que é que este tipo andava à solta?

Why was Sydney siege 'hate sheikh' Man Haron Monis at large?

It emerged that Monis, a self-styled "sheikh", had appeared before the Australian courts last year for writing hate mail to the families of Australian servicemen killed in Afghanistan. He was also on bail accused of being an accessory to the murder of his ex-wife, and for 40 counts of sexual assault and indecency. Despite his notoriety and public profile – he had vented his anti-Western views several times on Australian television – he was apparently deemed a harmless crank rather than an imminent danger by Australian intelligence officials.

A prisão preventiva é para este tipo de casos.