30 abril 2014

o fraco rei faz fraca a forte gente


Prémio Carreira - Faculdade de Economia do Porto

Decorrem as nomeações para o Prémio Carreira da Faculdade de Economia do Porto, que até hoje apenas premiou pessoas ligadas à política. Mais uma vez este ano, a minha sugestão, nunca aceite, será o Professor Pedro Arroja. Quem for alumni desta faculdade poderá dar a sua sugestão aqui.

ter filhos, a má ideia que prevalecerá (3)


A existência humana tem algum propósito?
Edward Wilson, o fundador da sociobiologia, é taxativo nesta matéria: qualquer propósito da existência humana tem de ser procurado no âmbito da biologia.
Ora se olharmos à volta para as outras espécies com que partilhamos a Terra, o que vemos? Que todas procuram eternizar a sua existência, crescendo e reproduzindo-se.
Crescer e reproduzir-se são os impulsos mais básicos da existência viva, presentes desde sempre, desde as cianobactérias, por exemplo, com mais de 4 MM de anos. Compreende-se, de resto. Se assim não fosse não teria havido evolução.
Nos animais superiores este impulso está organizado em instintos, como o instinto de sobrevivência e o instinto sexual. Embora haja algum debate sobre este assunto, eu creio – com William James, por exemplo – que o Homo Sapiens também tem estes instintos. Chamemos-lhes pulsões, pulsões que despertam em nós emoções.
A razão humana é uma ferramenta importante, mas não deve ser considerada mais do que isso. Damásio demonstrou que as emoções são fundamentais à razão e que se dissociarmos a emoção da razão, esta última torna-se inútil. Aliás, no próprio processo de decisão – Herbert Simmon – é através dos sentimentos que determinamos o ponto a que este autor chamou “satisficing”.
Muitas utopias nasceram de aventuras da razão, desancoradas da natureza humana. Os libertários são racionalistas mas não caem em utopias porque não pretendem construir um homem novo.
Quando avaliamos a racionalidade ou irracionalidade de um comportamento humano temos de ter sempre presente os objectivos que pretendemos alcançar. Quando um estudante perguntou a Confúcio que caminho devia tomar, este respondeu com uma pergunta: ‹‹Para onde pretendes ir?›› Ao ouvir a resposta: ‹‹Não sei››, foi também rápido no conselho: ‹‹Se não sabes para onde pretendes ir, qualquer caminho é bom››.
Eis o expoente da racionalidade: começar por conhecer os nossos objectivos e prepararmo-nos para o caminho. Ora se crescer e reproduzirmo-nos é o grande objectivo da existência humana, a procriação nunca poderá ser uma irracionalidade.
Li com bastante interesse, este post do CGP, que defende a tese de que ter filhos é uma má ideia que prevalece porque deixa descendência. E que há maneiras melhores – mais racionais – de viver a vida.
O post é um exemplo acabado de que uma pessoa inteligente pode defender, com bons argumentos, qualquer coisa e o seu contrário. Palavras, palavras, palavras, que ficam a pairar no éter porque não estão ancoradas na natureza humana.
Contudo, se pararmos para analisar o propósito da existência humana. Verificamos que procriar é a via mais racional para o realizar. Não é um caminho fácil, como ficou amplamente demonstrado no post do CGP, mas difícil e irracional não são sinónimos.
Irracional, parece-me, é passar a vida a comer “postas de bacalhau” e partir sem deixar rasto. É defraudar a própria condição da existência que só é porque cresce e se reproduz.
Imagino uma conversa entre o CGP e Confúcio. Mestre, devo procriar?
-       Qual é o teu grande objectivo?
-       O meu objectivo é conquistar a eternidade.
-       Sim, então a maneira mais racional de o conseguires é procriares. Os teus filhos são o teu bilhete para a eternidade.
-       Mestre, e não terei de me sacrificar para lá do que é racional?
-       Racional é realizares os teus objectivos.
Eu não sou tão pedagógico, se me fizessem a mesma pergunta eu responderia com ironia:
-       Claro que ter filhos é irracional. Racional é, como referi acima, passar a vida a “comer postas de bacalhau”.
PS: Com um ABÇ para o CGP

Ajustamento, desemprego e inflação

O objectivo deste post é o de explicar da forma mais simplificada possível (perdoem-me, portanto alguma simplificação abusiva) a forma como se processam ajustamentos, o desemprego daí resultante e o papel da inflação monetária. Escrevi já aqui ao lado o que se entende por ajustamento e porque é que ajustamentos criam desemprego. Embora não seja importante para o caso, irei relembrar algumas dessas noções neste post.
Dito este, este post não interessará a muitos dos leitores deste blog, aos quais peço desde já desculpas.

Imaginemos um produto P cuja produção é bastante trabalho intensiva, ou seja, grande parte do valor acrescentado vem do factor trabalho (um bom exemplo são as empresas de limpeza). Esta simplificação é importante apenas para não olharmos para o mercado de outros factores de produção. Numa situação inicial de equilíbrio, temos a situação abaixo:


À esquerda temos a representação do mercado do produto P e à direita o mercado de trabalho dos trabalhadores que produzem esse produto. A linha azul representa a oferta e a linha amarela representa a procura em ambos os gráficos. Numa situação inicial temos um preço de mercado o qual determina a produtividade dos trabalhadores (produtividade de cada trabalhador corresponde a quantidade produzida x preço), o que por si determina o salário de equilíbrio.

Suponhamos que, por um qualquer motivo, a procura do produto P diminui no mercado. O que aconteceria neste caso seria uma movimentação para a esquerda da linha amarela. Ou seja, para o mesmo preço os consumidores agora querem menos unidades do produto P. O resultado está representado no gráfico abaixo:


O que acontece nestes casos é no mercado do produto baixar o preço e a quantidade de bens produzidos1). A redução do preço do produto P baixa a produtividade dos trabalhadores e, correspondentemente, o seu salário. A queda do salário faz com que trabalhadores deixem de estar interessados em trabalhar naquelas empresas, reduzindo o número de trabalhadores disponíveis para trabalhar no sector. Esta redução no número de trabalhadores é compensada na restante economia pelo aumento do número de trabalhadores na produção dos produtos que merecem uma maior preferência dos consumidores. Obviamente, não existe um trabalhador típico, completamente fléxivel que pode mudar de sector para sector consoante as alterações das dinâmicas do mercado. Por isso é que ajustamentos criam desemprego. Criam desemprego porque pode demorar bastante tempo a adquirir as qualificações, ou estar pessoalmente disponível, para mudar de sector. Note-se, no entanto, que os trabalhadores que tenderão a sair neste caso2) são aqueles mais sensíveis a uma diminuição do salário, ou seja, aqueles que têm oportunidades de emprego fora do sector, provavelmente nos sectores onde os salários aumentaram devido à uma maior preferência dos consumidores.

No entanto, há um problema fundamental com os gráficos anteriores. O problema é que os salários não são fléxiveis. Não são especialmente fléxiveis para baixo. Mecanismos como a legislação laboral, leis de salário mínimo, obrigações contratuais, negociação sindical e mesmo o viés cognitivo da ancoragem nominal 3), fazem com que seja muito complicado a uma empresa ou estado baixar o valor nominal de salários. Mediante esta inflexibilidade nominal, o que aconteceria na verdade no mercado de trabalho era o seguinte:



O novo equilíbrio ocorre no ponto (T3, S3), ou seja, com o mesmo salário que na situação 1, mas com menos trabalhadores. Com salário rígido a descidas, o que aconteceria era uma diminuição do número de trabalhadores superior àquela que acontece nos modelos neoclássicos representados anteriormente4). Em vez de termos um ajustamento do número de trabalhadores de T1 para T2, teríamos um ajustamento de T1 para T3. Há um outro aspecto importante deste ajustamento no número de trabalhadores: é feito involuntariamente. todo o desemprego neste caso é involuntário. Ou seja, os trabalhadores que saem do sector não serão necessariamente aqueles que têm melhores possibilidades noutros sectores (o seu salário não baixou), mas aqueles trabalhadores que faziam parte das unidades de produção menos eficientes. Isto é importante na medida em que fará com que, não só o nível de desemprego devido ao ajustamento seja maior por saírem mais trabalhadores do sector, como a maneira como o ajustamento é feito (por desemprego involuntário) fará com que demore mais tempo a transferir trabalhadores para outro sector.

A inflexibilidade nominal no mercado de trabalho reflecte-se depois no mercado de bens. Impedidos de baixar salários, os empresários deixam de ter espaço para baixar o preço, fazendo com que a alteração de preferências concentre todo o seu impacto na quantidade de bens vendidos.



O efeito no mercado de bens é simétrico ao do mercado de trabalho: o preço mantém-se, mas baixa a quantidade de produto vendido 6). Ou seja, uma diminuição de preferências com inflexibilidade nominal resulta em menos trabalhadores empregados e menos produtos consumidos do que havendo plena flexibilidade de salários e preços.5)

Consideramos até agora uma economia sem inflação monetária, ou seja, em que apenas os preços individuais se alteram por via das preferências dos consumidores, mas no qual o nível geral de preços não se altera. Mas um factor importante é que, principalmente para níveis baixos de inflação, o viés da inflexibilidade salarial só se aplica aos salários nominais. Um empresário tem menos flexibilidade para baixar um salário de 1000 para 980 euros com inflação zero do que para não subir um salário de 1000 euros com inflação de 2%.

Mantendo a inflexibilidade nominal salarial, a introdução de inflação no sistema garante mais flexibilidade real, como se pode ver no gráfico abaixo, garantindo um novo equilíbrio mais próximo do que haveria num ambiente de absoluta flexibilidade. Isto, criará, por um lado, menos desemprego e, por outro, facilitará o ajustamento, tornando-o mais rápido.



Note-se que agora o eixo vertical corresponde ao salário real. O novo equilíbrio S4/T4 é mais próximo do equilíbrio S2/T2 atingido no segundo conjunto de gráficos apresentados, ou seja, é mais próximo do equilíbrio com absoluta flexibilidade. Em termos nominais S1=S3=S4, mas devido ao efeito da inflação o valor real de S4 é inferior.

Ou seja, introduzindo inflação no sistema, voltamos a um equilíbrio semelhante ao do de(T2, S2)
Apesar das simplificações, esta não é uma situação apenas teórica. A economia vive ajustamentos a todo o momento. O primeiro grupo de gráficos nunca chega a existir efectivamente: a economia é demasiado dinâmica para conseguir estar em equilíbrio em qualquer ponto do tempo. O que presenciamos em Portugal nos últimos 5 anos, e que continua hoje, é um ajustamento em grande escala. Este ajustamento tem sido dificultado pelo facto de Portugal ter uma inflação baixa. Uma inflação de 3% nos últimos 4 anos teria permitido um dos ajustamentos necessários (o salarial) sem os problemas políticos causados pela tentativa de fazer o ajustamento pelo lado nominal.

1) a divisão entre estes dois efeitos depende do declive das curvas, mas não vale a pena discutir isso aqui
2) falamos aqui, ainda, de desemprego voluntário
3) ancoragem nominal, a dificuldade das pessoas em aceitarem perdas nominais (sentirem mais uma diminuição de salário do que um não aumento). Vêr mais aqui
4) Represento aqui uma rigidez absoluta. As conclusões seriam as mesmas se a curva não tivesse declive zero, mas um declive inferior ao anterior
5) Note-se que as ineficiências não se restringem ao mercado do produto P e respectivo mercado de trabalho. Em economia, as ineficiências num sector espalham-se a oturos pelo mecanismo de preços, mas não irei tratar dessas consequências aqui
6) Na realidade, a amplitude do efeito no mercado de bens tenderá a ser inferior ao do mercado de trabalho, porque o empresário optará por baixar preços, baixando as suas margens. Mas, como notei no princípio estamos aqui a ignorar a contribuição do facto capital.


29 abril 2014

Ó mãe...


O que faria qualquer bom católico, na penosa situação em que me encontro?
-       Ia a correr para as saias da mamã – Certo?
Certo, foi o que eu acabei por fazer hoje, fui almoçar a casa da minha mãe que pôs o avental para me preparar uns Bifes de Panela com Batatas do Alho. Delicioso.
-       Gostas da minha comidinha? – perguntou, como quem diz: ‹‹As vossas mulheres (a minha e as cunhadas) não sabem do que vocês gostam.
Pois é. Entretanto, nos trajetos, fui pensando na ‹‹irracionalidade da procriação››. Serei fruto de uma decisão irracional dos meus pais? Uma espécie de aborto da razão?
Pode alguma existência humana consubstanciar uma irracionalidade primordial? Gostei desta pergunta, olhar para o problema na perspetiva do criaturo.
Se toda a vida é Criação Divina * (de Deus, Verbo, Logos) e portanto eminentemente racional, como é que um criaturo da Razão Suprema pode resultar de uma irracionalidade?
Deus teria de ‹‹escrever direito por linhas tortas››, por assim dizer. Para Sua eterna glória, o Homo Sapiens – criado à Sua imagem – teria de renegar a razão para fazer cumprir os Seus desígnios: ‹‹Crescei e Multiplicai-vos››.
‹‹There is something fishy here››, parece-me. Mas a batota não vale, há que responder na perspetiva dos pais porque foi nessa perspetiva que o CGP equacionou o problema.

* A Criação Divina é aqui invocada em relação à Leis Naturais que regem o Universo e não no sentido religioso.

o sentimento comunitário


Na sequência deste post, e da respectiva foto, recebi vários convites para almoçar e jantar. Os meus amig@s não querem que eu sofra as agruras da minha condição ‹‹de Rodriguez››.
Agradeci a todos e apenas quero aqui realçar o que mais me comoveu: o convite para um arroz de polvo no Veleiros, do JRF. Apesar da nossa discordância, num assunto que diz respeito à sobrevivência da espécie humana, o JRF estava disposto a condenar um cefalópode para me salvar de mim próprio.
Bem haja JRF

Hacienda investiga

Mourinho

Messi

Nadal

e agora:

Montserrat Caballé

de Rodriguez

A I. está em S. Francisco, a B. foi numa viagem da escola, e as minhas duas outras filhas vivem fora do Porto. Fiquei portanto sozinho na Invicta, estou ‹‹de Rodriguez›› como dizem os espanhóis.

Ontem fui eu que fiz o jantar (ver foto). Tenho uma data de livros espalhados pela casa, a Fox news ligada ininterruptamente, dois computadores a funcionar em simultâneo, Blurred Lines a tocar no MP3 e o número da Pizza Hut à mão.

A mulher a dias vem das 14 às 17, mas fiquem tranquilos que ela tem quase idade para ser minha mãe. Isto é, eu é que tenho idade para ser pai dela mas pareço o filho e ela a mãe, que confusão.

Quanto a lolitas, por ora nada. Eu bem estendo a teia mas elas não se sentem atraídas pelo homem velho aranha.

Dentro de alguns dias espero ter uma resposta para a inquietação do Carlos Guimarães Pinto sobre a reprodução. ‹‹Home alone›› vou avaliar se de facto ter filhos é assim tão má ideia. Entretanto vou alugar um filme, beber uma Cola e comer umas pipocas.

28 abril 2014

The End

O fim da Medicina Liberal... nos EUA

Consultórios encerram porque aumentam os custos e diminuem as receitas - são as leis do mercado a funcionar. Neste caso, é o Estado que está a destruir a Medicina Liberal.

‹‹Their problems began in the late 1990s. Government cost controls steadily eroded revenues while simultaneously boosting costs, by stacking on requirements for paperwork and accounting››

27 abril 2014

a lógica da batata


Quanto deve custar 1 Kg de batatas? Não faço a mínima ideia. Antes de escrever este post pensei que o preço de venda ao público estaria entre um mínimo de 10 cêntimos e um máximo de 1,00  € - confirmei que anda à roda dos 30 cêntimos.
Quando nos dirigimos ao super, constatamos o preço das mercadorias mas ninguém está em condições de dizer quanto devem custar. O preço resulta do equilíbrio entre a oferta agregada e a procura agregada e estas, por sua vez, resultam de milhares de circunstâncias e de decisões individuais. É assim, não há que filosofar sobre este assunto.
Se eu tentasse fixar o preço de venda ao público da batata, acabaria sempre por errar o alvo, que aliás se move constantemente, com as consequências que o Sr. Maduro, da Venezuela, está a demorar a compreender.
Passa-se o mesmo com os elementos da nossa cultura. O destaque ou protagonismo das ideias resulta também de um equilíbrio entre os seus defensores e detratores. Hoje em dia, por exemplo, há pouca procura para o comunismo e para o fascismo. O ideal da democracia, porém, continua a “vender”.
A democracia é, por assim dizer, o grande mercado das ideias políticas. Em liberdade, os seres humanos sabem encontrar pontos de equilíbrio. Pontos de equilíbrio que nenhum ditador iluminado consegue determinar porque esse ponto de equilíbrio também é um alvo em constante movimento.
Os inimigos da liberdade e da democracia não convivem bem com os mercados. Querem ser eles a definir o rumo, a definir objectivos. Este propósito, porém, revela ignorância sobre o funcionamento das sociedades.
Os candidatos a ditadores deviam fazer um tirocínio de um anito a adivinhar o preço da batata e só depois é que poderiam apresentar as suas ideias ao público. Desse modo perdiam logo o paleio porque os seus concidadãos diriam:
-       Ó pá, tu nem consegues determinar o preço da batata, como é que nos queres pastorear? Vai mas é pentear macacos.

não sabem e não querem aprender

Desde o princípio da revolução francesa que se aprendeu uma verdade elementar: a identificação dos direitos políticos com os direitos “sociais” leva sempre à perda dos direitos políticos, sem promover os direitos “sociais”. Foi este o peso que tarde ou cedo acabou por derrotar e quebrar a esperança de centenas ou milhares de movimentos que aspiravam a mudar radicalmente o mundo.

Ou, se quiserem, para resumir o problema por outras palavras, a liberdade não é na prática compatível com a igualdade. A igualdade tem de ser imposta e essa imposição degenera rapidamente em ditadura e, a seguir, a ditadura em terror. Como sucedeu aos jacobinos de Robespierre, aos socialistas de 1848, aos bolcheviques de Lenine, aos cubanos de Castro e a um número infindável de aprendizes de feiticeiro.

VPV, no Público

Comentário: É engraçado que o VPV sinta necessidade de papaguear esta ‹‹verdade elementar››, como diz. Infelizmente sinto que está a pregar aos peixes, há 20.000 portugueses que não precisava de ler a sua crónica para relembrar esta verdade e 9.980.000 que não sabe, não quer aprender e tem raiva de quem sabe.

a tentação totalitária

Um continente exótico e paroquial, incapaz de se modernizar, desenvolver e democratizar. Caracterizado por uma felicidade absurda, pela centralidade da família e dos amigos, e por um cocktail exuberante de sexo e de tragédia, de prazer e de privilégios.

Economist - Esta visão da América Latina do Gabriel García Márquez talvez ajude a explicar a sua tolerância e amizade com facínoras como Fidel Castro. Quem considera o povo incapaz, é natural que aceite com facilidade ditadores supostamente iluminados.

PS: Se substituirmos "continente exótico" por "um jardim à beira mar plantado", esta visão do Gabo bem que se poderia aplicar a Portugal.

Vargas Llosa na Venezuela

Venezuela debe aprovechar la experiencia de los últimos 15 años para vacunarse contra la tentación de la tribu, como decía Popper.
...
Las utopías nos la podemos permitir en el arte y la literatura donde no hacen daño. En la realidad hay que resignarse a los consensos de la mediocre democracia.

Vargas Llosa

Gabriel García Márquez na Venezuela


26 abril 2014

profético

“Em poucas décadas estaremos reduzidos à indigência, ou seja, à caridade de outras nações, pelo que é ridículo continuar a falar de independência nacional. Para uma nação que estava a caminho de se transformar numa Suiça, o golpe de Estado foi o princípio do fim. Resta o Sol, o Turismo e o servilismo de bandeja, a pobreza crónica e a emigração em massa.” “Veremos alçados ao Poder analfabetos, meninos mimados, escroques de toda a espécie que conhecemos de longa data. A maioria não servia para criados de quarto e chegam a presidentes de câmara, deputados, administradores, ministros e até presidentes de República.”

Marcello Caetano, sobre o 25 de Abril

Via Porta da Loja, citado também pelo lusitanea1

mau caminho

Our economic and political systems work on the theory that if people pursue their self-interest, the overall result will be roughly good for everyone. This has always been questionable, but now it looks plain self-undermining. We know what we need to do—a global transition away from carbon—and we know why we won’t do it: because in a system in which everyone acts selfishly, from individuals to corporations to party leaders, no one takes on the costly decisions that could make the system itself sustainable.
Daily Beast

O nosso sistema económico e político baseia-se no pressuposto de que se as pessoas defenderem os seus interesses particulares o resultado final será o melhor para todos. Isto foi sempre questionável, mas agora é claramente auto-destrutivo. Sabemos o que temos de fazer - uma transição global para as energias verdes - e sabemos porque não o fazemos: porque num sistema em que todos os agentes se comportam de forma egoísta, dos indivíduos às empresas e aos líderes partidários, ninguém assume as decisões onerosas necessárias para a sustentabilidade energética.

Comentário: Este apelo ao radicalismo demonstra que os aquecimentistas não são apenas anti-capitalistas, também são anti-democratas. Radicais que pretendem impor as suas "soluções" a todos os outros.

25 abril 2014

um cheirinho a marfim

25 de Abril

o 25 de Abril na Wikipédia

Holidays and observances

Risco = f (evento, incerteza, consequências)


O risco pode ser definido como a incerteza acerca das consequências de um determinado evento.
Em termos práticos, um evento frequente pode apresentar o mesmo risco de um evento raro, se as consequências do primeiro forem ligeiras e as do segundo forem catastróficas.
A construção antissísmica, por exemplo, oferece proteção contra um evento relativamente raro, mas de consequências catastróficas. Daí o risco elevado e a necessidade de prevenção.
A cultura portuguesa incorpora muito pouca noção de risco e de gestão de risco, particularmente em relação a eventos raros. O agente não receia ser condenado pela sua negligência porque a comunidade aceita que ele não poderia ter previsto a ocorrência de um evento tão raro como um sismo.
Acresce que um certo fatalismo branqueia qualquer negligência. ‹‹O que tem de ser pode muito›› ou ‹‹o destino marca a hora››. Ainda, a prevalência de um “locus externo” oferece uma desculpa permanente: a culpa é sempre de outros ou de factores externos, nunca é nossa.
Na arena política todos estes factores manifestam-se de forma exuberante. Não previmos o risco de uma dívida exorbitante, nem de um défice permanente e as consequências foram catastróficas – repetidamente. E não há responsáveis porque a culpa nunca é dos próprios.
José Sócrates e Teixeira dos Santos não podiam ter previsto o colapso do Lehman Brothers e a culpa da bancarrota é do Durão Barroso que nos mandou gastar à tripa-forra.
Enfim, não penso que a postura dos portugueses, em relação ao risco, venha a mudar tão cedo. Se calhar até foi essa postura que nos colocou na rota do Descobrimentos e portanto deve estar aí para durar mais uns séculos e mais algumas bancarrotas.

um romance extraordinário - A Handful of Dust


recordando Evelyn Waugh

‹‹Come Inside››, um texto que publiquei aqui no PC em 2011 e o comentário do PA

23 abril 2014

Ter filhos, a má ideia que prevalecerá (2)

No blog Pais de Quatro, divaga João Miguel Tavares:


A paternidade, felizmente, tem muitos momentos de prazer, mas até certa idade, se eu me puser a fazer as contas, o saldo é francamente negativo. Agora que eu estou a maior parte do tempo fechado em casa a ler e a escrever, posso garantir-vos que me divirto muito mais das nove às 18 horas e das 22 horas à meia-noite do que das sete às nove e das 18 às 22. Estou com eles, em média, seis horas por dia (excepto aos fins-de-semana, claro), e as nove em que não estou com eles são muito mais calmas, repousadas e self-fulfilling.  

Eu sou, de facto, um pai de quatro criançofóbico, e metade do tempo que passo a falar da família é para alertar para os perigos da paternidade cor-de-rosa - é por tanta gente achar que isto é suposto ser divertidíssimo que tantas famílias vão ao fundo quando os filhos saltam cá para fora e as rotinas mais stressantes tomam conta de nós. Daí a importância da tal educação para o desprazer.

Por favor, não confundam este "desprazer" com a tradicional cultura católica do "sacrifício". O sacrifício, dito de forma bruta, lembra-me sempre gente que coloca o cilício numa perna para se mortificar, e a sua prática cai muitas vezes no lado oposto ao que aqui me quero colocar - uma espécie de recalcamento do "eu" que só serve para causar frustrações e não dá proveito a ninguém, incluindo ao próprio. Não é a isso que me refiro.

O "desprazer" de que aqui falo não é subir para a cruz por vontade própria - é aprender a aceitá-la quando ela vem ter connosco, sem sermos esmagados pelo seu peso. De forma mais filosófica, é a gestão prática da moral do dever kantiana. Ou, se quiserem, é a encarnação do belo provérbio português que diz: "o que tem de ser tem muita força".

o comercialismo na medicina

A Top Hospital Opens Up to Chinese Herbs as Medicines

Comentário: É uma maneira de fidelizar os clientes que se continuam a queixar apesar de não sofrerem de qualquer patologia relevante.

22 abril 2014

Democracy in America

A classe média norte-americana já não é a mais rica do mundo

quem será?

Mitterrand libertou-nos do comunismo e agora Hollande liberta-nos do socialismo. Este é o passo que a direita não se atreveu a dar quando esteve no poder e que representa um grande avanço para a França.

Alain Minc

Comentário: Mário Soares libertou-nos do comunismo, quem será o líder do PS que virá libertar-nos do socialismo? Uma vez que em Portugal a "direita" - PSD/ CDS - também não se atreveu a dar esse passo, apesar da pressão da Troika.

20 abril 2014

Feliz Páscoa

... com muitos ovos.

não é racional

... a esquerda já não é racional.

VPV, no Público

Comentário: E algum dia foi?

conservar ou inovar?

O confronto crucial neste país não é entre a esquerda e a direita mas sim entre conservadores e inovadores.

Matteo Renzi

Comentário: Idem em Portugal

19 abril 2014

3 clusters da saúde 3

Luís Todo Bom, coordenador de um programa de gestão da saúde do ISCTE, afirma, no Expresso desta semana, que Coimbra tem todas as condições para desenvolver um cluster da saúde. Eis os seus argumentos (resumidos por mim):

  1. O Centro Hospitalar de Coimbra que é uma unidade de referência
  2. Uma Faculdade de Medicina
  3. Unidades de Investigação
  4. Parque hoteleiro
  5. Empresas da área dos sistemas de informação
  6. Parque tecnológico e incubadoras de empresas
  7. Profissionais de saúde
  8. Um ambiente tranquilo
  9. Perto de aeroportos
  10. Acessos fáceis dentro da cidade

Ora eu tenho uma excelente notícia para o professor e colega (deixem-me cá sacar do meu MBA) Luís Todo Bom: o Porto e Lisboa têm exatamente as mesmas condições e estão mais próximos dos aeroportos, portanto podemos ter, não 1, mas 3 clusters da saúde de categoria internacional.

Há só um pequeno problema, caro colega, é que nenhuma das estruturas que Vª Exª refere são fruto do mercado ou do investimento privado. São organismos do Estado, puro e duro, que nasceram e cresceram pendurados do OE e que assim pretendem continuar. Ora com um ethos destes, talvez seja mais realista refrearmos um pouco as nossas ambições.

estão a f___r a mãe


Estão a f___r a mãe!
Grita Édipo enciumado.
E pronto ergue a mão
Para calar a razão,
Por paixão.


Comentário: O calor com que os aquecimentistas (trocadilho propositado) atacam os cépticos parece brotar do inconsciente mais profundo. 

a Mãe Universal

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.

Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Um poema de Cora Coralina que identifica a Terra com a Mãe

18 abril 2014

um artigo muito equilibrado

We have a new climate change consensus — and it's good news everyone

Matt Ridley

Comentário: Matt Ridley, um autor que já aqui tenho citado, chama a atenção para um novo consenso em torno do aquecimento global. Em vez de mitigar, os aquecimentistas falam agora em adaptar.

Eis uma nova postura que é bastante positiva. Se não houver aquecimento global antropogénico - hipótese em que eu acredito -, o investimento na adaptação não é desperdiçado porque serve para nos protegermos de eventos climáticos extremos. Se houver, estamos mais preparados, sem incorrer em custos exagerados.