09 julho 2014

a morte do romantismo

A comédia romântica morreu por muitas e boas razões, mas especialmente porque o romantismo morreu. E sem romantismo não há comédias românticas, nem dramas nem tragédias.
Os espectadores já não entendem o enquadramento e a linguagem do romantismo e, a partir daí, o tema não lhes diz nada. Preferem ir ao cinema ver os Transformers, a Maléfica ou o Wall Street.
Como não sou um consumidor do género comédia romântica não vou ficar para aqui a chorar pelo seu desaparecimento, coitadinha. Choro contudo pelo fim do romantismo, esse elixir extraordinário da vida.
O amor romântico, a paixão entre um homem e uma mulher, toda a poesia do encontro e o potencial da força nascente – Alberoni – que emerge dessa relação. É uma grande perda que desapareça da nossa cultura, mesmo que temporariamente. Mesmo que para renascer mais tarde, do niilismo e do cinismo da modernidade. Até lá fica um vazio deprimente.
E porque é que o romantismo desapareceu? Estou aberto a ouvir todas as explicações possíveis. Tenho para mim, contudo, que há duas razões fundamentais: a escola mista e a pornografia.
A escola mista expõe tanto as crianças ao sexo oposto que embota os sentidos para o espírito de curiosidade e de fascínio essencial ao romantismo.
A pornografia, por outro lado, passa uma imagem adulterada do sexo que contamina qualquer fantasia amorosa. Além de contribuir para indiferenciar os géneros, minando a heterossexualidade.
O romantismo é o eterno reencontro de um homem e de uma mulher. Ansiosos por se descobrirem, um ao outro e a si próprios no relacionamento mútuo. Ora quando não há nada para descobrir é óbvio que já não espaço para o romantismo.

5 comentários:

Anónimo disse...

A pornografia sem dúvida. A escola mista não me parece, afinal de contas a natureza das coisas, da forma como sempre foi, é o rapaz conviver naturalmente com a rapariga e perceber desde bem cedo as diferenças. A escola não-mista é, digamos, uma espécie de coisa contra natura.
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PS. Pensei nisso quando a minha filha era mais nova e a ia levar à escola. Diabos, aqueles marmanjos todos atrás dela. Todos com péssimo aspecto. Passar de caçador a fornecedor é uma coisa muito dificil para um pai. Mas é assim a vida. Até já vão tendo melhor aspecto, os marmanjos. Ladrões.
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Rb

Euro2cent disse...

> É uma grande perda que desapareça da nossa cultura

O romantismo é uma das coisas mais perniciosas que aconteceram à civilização ocidental.

O seu desabrochar em pleno coincidiu com o auge dos barões vendedores de sabão, e foi impulsionado por eles à força de anúncios em "veiculos" apropriados. Começou pela "Age of the Feuilleton" de que escrevia Herman Hesse e foi por aí fora. Do impresso e teatro ao cinema, rádio e televisão, foi um chorrilho imparável. Com o "folhetim Tide" nacional, ou a "soap opera" americana, os vendedores de sabão lá estavam a impelir a luxúria e concupiscência que lhes faria vender mais produto.

E é assim que temos - somos governados por - uma sofisticada máquina de fabrico de desejos e pensamentos. Ao contrário do que o Orwell pensou, nem é preciso reformular a linguagem para cercear o pensamento possível. É mais ao Huxley - as coisas tornam-se impensáveis porque estão completamente fora do que é aceitável dizer, e interssa à audiência ouvir. Quem se atrever a dizer, por exemplo, que a liberdade não é o mais precioso dos bens é olhado como um perigoso lunático. Se acrescenter que o divórcio é, além de socialmente pernicioso, a pior coisa que aconteceu às mulheres nos últimos séculos, não se safa de ser considerado um mentecapto, mesmo que demonstre que o retorno ao concubinato teve consequências práticas funestas.

Se o "romantismo" está em decadência, é porque a degradação moral já permite chamar os porcos à ração batendo directamente nos tachos sem grandes rodriguinhos. Mas a mensagem fundamental continua - anda cá cevar os instintos, deixa lá as obrigações. E passa o pilim.

zazie disse...

Grande análise, a do Euro2cent.

Pedro Sá disse...

Se a escola mista é causa de desaparecimento do romantismo, tal é um poderoso argumento para equacionarmos, pelo menos, a hipótese de o romantismo ser contra-natura. Aliás, os homens e as mulheres não precisam de romantismo nenhum para terem sexo, e, aliás, nem para relacionamentos.

Anónimo disse...

Caro Pedro Sá,

V. está a perder o melhor da vida.

Joaquim