13 janeiro 2014

não mexemos uma palha


O desenvolvimento de uma sociedade complexa necessita de energia, em grandes quantidades. Alguns autores afirmam mesmo que a curva do consumo de energia/ capita corresponde à curva do desenvolvimento civilizacional.
Deste princípio podemos deduzir que numa sociedade inserida num ecossistema termodinamicamente adverso, a população tem de aceitar um modo de vida menos sofisticado, mais básico, por assim dizer. Tem de aceitar mais entropia social (caos, desordem, conflitos, guerras), o que se traduz também por mais liberdade individual (o número de microestados possível é maior, é só usar a imaginação).
Numa sociedade complexa, como a norte-americana, por exemplo, a estruturação é maior e a liberdade de ação é menor. O ensino obrigatório, a certificação profissional, as entidades reguladoras, o litígio por má prática, etc., demonstram o que pretendo dizer. Há menos liberdade nas sociedades com menor entropia.
Os portugueses, na latitude a que vivem, são um caso intermédio entre o caos e o rigor. Convivem bem com um grau elevado de entropia e até são ciosos da liberdade que isso lhes confere.
Como explicar então a obsessão lusitana com o que eu chamo “A Perfeição”. A nossa cultura exige uma sinceridade absoluta, lealdade sem limites, justiça sem favores, meritocracia, amor incondicional, abnegação, enfim, pretendemos o Paraíso na Terra. Por isso somos tão facilmente ludibriados por vendedores de banha da cobra (permitam-me a chalaça).
A minha explicação é a seguinte: somos tão exigentes pelo sentimento de culpa que temos por nada fazer pela tal Perfeição. Gostamos de nos mostrar escandalizados com todas as injustiças do mundo, o que não mexemos é uma palha para acabar com elas.
A termodinâmica explica porquê... andamos exaustos com o trabalho que nos dá extrair a magra negentropia que conseguimos. A Igreja Católica, por seu turno, também é tolerante com a nossa complacência quando garante que os maus vão pagá-las no outro mundo... tira-nos um peso da consciência.
É a vida!

2 comentários:

Anónimo disse...

A Igreja Católica não diz tal coisa.
O Povo diz "cá se fazem, cá se pagam". Não é lá.
eao

Anónimo disse...

A Áustrália não é uma sociedade complexa e sem entropia.