28 novembro 2012

a mistura da verdade com a mentira


1. O existente existe
2. A consciência é a faculdade de perceber o que existe
3. Ser é ter identidade

Estes conceitos axiomáticos constituem a base do Objectivismo da Ayn Rand. São conceitos que, segundo Rand, estão implícitos em todo o conhecimento e que já não podem ser reduzidos a outros factos ou subdivididos em partes.
Daqui, Rand parte para deduzir, de forma absolutamente lógica, todo o edifício da sua filosofia libertária. Se aceitarmos estes pressupostos, ou axiomas, temos de aceitar todas as suas outras deduções e conclusões.
E é muito fácil convencermo-nos de que Rand está certa. Quando Rand afirma, por exemplo, que o existente existe, tal facto dificilmente pode ser negado, até porque “existir” faz parte da própria definição do que é “existente”. Mas Rand afirma também que a "existência do existente" não pode ser reduzida a outros factos ou subdividida em partes e aqui é que começa o problema.
De onde vem “tudo o que existe”? A nossa inteligência rejeita que o existente tenha surgido ex nihilo e, portanto, temos de aceitar um Princípio que anteceda e origine tudo o que existe. O existente torna-se assim uma parte de um Todo, desmoronando o primeiro axioma de Rand.
Por outro lado, a nossa consciência desse Princípio alarga o espectro do que podemos conhecer ao transcendental, violando o segundo axioma.
E se esse Princípio “é”, qual é a sua identidade? Temos de admitir que não sabemos porque a nossa consciência não consegue perscrutar o que era antes do “existente que existe”. Lá se vai o terceiro axioma.
Chegados a este ponto, gostaria de concluir, afirmando que é possível que muitas das deduções e conclusões da Ayn Rand estejam erradas porque assentam e partem de pressupostos falsos. Não estarão completamente erradas, mas podem conter erros substantivos. Sobre a questão de Deus, por exemplo, Ayn Rand é peremptória: não é concebível a ideia de um Deus criador ‹‹se aceitarmos que a existência tem primazia sobre a consciência›› (sic). Muito bem, e então donde vem o existente? Estou mesmo a ouvir o que me diria a minha querida e adorada Ayn Rand:
Joaquim, existance exists.
Thank you my dear.
Julgo que muitas falsidades e meias-verdades que imperam “na teologia, na filosofia, na ciência, na política, na justiça, na economia, etc. — como afirma o PA neste post, resultam deste simples facto de partirem de pressupostos falsos.
O único pressuposto que na realidade podemos e devemos aceitar é a Verdade.

6 comentários:

muja disse...

Oh... Rand? Tenha dó Joaquim.

Ao menos escolha alguém que valha a pena. Tanto filósofo que, melhor ou pior, cogitou de forma interessante, e vai-me buscar uma embusteira?? Essa merda foi feita de medida para justificar esse capitalismo amoral e imoral que essa gente advoga.

E como é que alguém pode aceitar esses axiomas? Isso não tem jeito nenhum.

O existente existe? Bom, se não existisse não era existente, se não for existente, como pode existir? Chama-se tautologia: o que é, é. O verdadeiro é verdadeiro. Boa...

"A consciência é perceber o que existe". E é o quê, perceber? As formigas percebem o que existe, pois não consta que andem às marradas a tudo para encontrar o caminho, terão consciência?

"Ser é ter identidade". Outra espectacular. O que é identidade? E que significa tê-la? Eu posso ter a matriz-identidade numa folha de papel. Quer dizer que sou? Então e aquela gente que tem várias personalidades? São a dobrar?

Euro2cent disse...

> Oh... Rand? Tenha dó Joaquim.

Por acaso. Já tem idade para não ir em coisa tão adolescente ...

(Sim, li. Usa botas da tropa. Na cabeça.)

Pedro Sá disse...

Sem prejuízo da tautologia inerente à Ayn Rand, se formos por isso da Verdade...ninguém se entende. Igualmente.

Pedro Sá disse...

bump

José disse...

Ora, ora… discussão onto-metafísica!

Bem, apesar de ser uma absoluto amador vou também dar a minha “colherada”…

Quanto ao primeiro “axioma” é… absolutamente trivial. Não obstante, tentemos clarifica-lo… que é o existente? Suponho que aqui é tomado no sentido tradicional de “ente”. Bem, o que é “ente”? Ente é aquilo que existe, ou seja, que participa no ser. No entanto, porque é ente, é detentor de uma “essência”, que lhe faz ser aquilo que ele é. Seja uma batata, um cão ou um ser humano. Ora, como se vê, na medida em que é algo deixa de ser tudo o resto. Ou seja, é… e não é. E, ele mesmo, uma mescla de ser e privação de ser. Ademais, a sua existência é mutável. Hoje não é o que foi ontem e ainda não é o que será amanhã.

Inclusivamente, para todo o ente particular houve uma altura em que ele não existia e haverá uma altura em que ele não existirá. Daqui se vê que ele é contingente, ou seja, que a sua existência não é necessária ou imutável. Existindo podia nunca ter existido, tal como houve uma altura em que existiu e haverá outra em que já não existirá. Assim se vê, o ente manifesta o Ser, mas não o esgota. Nenhum ente particular.

E quanto ao conjunto dos entes, Mundo?

Mais uma vez, o mundo, apesar de aqui os seus limites coincidirem com os próprios limites temporais (não faz sentido falar de um tempo “antes” do tempo), é, também ele, privação e carência. Pois também nele há sucessão. No sentido que o “agora” não é o “antes” nem do “depois”. Cada momento do Universo, na medida em que é o próprio deixa de ser tudo o resto. Espelha a Eternidade, mas não é a Eternidade. É racional, mas de uma racionalidade parcelar e atomizada. Como tal, pressupõe a Razão absoluta da qual dimana. Ou seja, enquanto o mundo existe de uma maneira fragmentada e sucessiva, o Ser é Uno e Eterno. É posse simultânea da totalidade dos entes. Em Deus (ou seja, no próprio Ser) aquilo que no mundo é sucessivo e fugidio, é perene e imutável. A verdade parcelar remete para a Verdade absoluta. O erro ou a probabilidade só o são na medida em que, imperfeitamente, reflectem a Verdade.

O 3º axioma que ali surge é confuso… Se exprime o princípio da identidade, pois bem, nada a obstar. O ser é e o não ser não é. Mas isso implica que aquilo que é, o ser, e não entes, seja sempre aquilo que é. Ou seja, Ser. Qual é a sua essência? É, simplesmente, Ser, sem limites. E que do não-ser, ou seja, do nada, nada posso vir. Pois o não ser… não é. E nunca pode vir a existir.

Poder-se-ia dizer… mas o ente é uma realidade “bruta”, ou seja, inexplicável por qualquer coisa mais, simplesmente está “aí”. Sem razão ou causa.

No entanto isto não se pode aceitar.
Qualquer ente é, ele mesmo, compreensível. No próprio acto em que me pergunto e em que o investigo, coloco como princípio a minha inteligência indagadora e a sua capacidade para o ajuizar. Mesmo a sentença “é um facto bruto” é um juízo. Tal como o nada absoluto não se pode conceber, também o “facto bruto” o é. Um facto incompreensível é… incompreensível… como um círculo quadrado… Ademais, a própria investigação científica física vê na realidade uma concatenação de leis matemáticas. E a matemática rege-se por necessidade. Por razão… necessária…

Há por ali uma boutade quanto à causa de Deus. Meus amigos, faz tanto sentido perguntar por tal coisa como por um número natural inferior a zero. Não existem números naturais menores que zero. Por definição. Tal como não existe nada “antes” ou para lá da Primeira Causa Incausada. E não existe nada para lá do fundamento de tudo o resto.

Uma segunda boutade é quanto á natureza dos axiomas, mas por agora não tenho tempo para estar a discutir lógica-matemática. Talvez noutra altura…

JoaoP disse...

Boa tentativa, Balph Eubank