19 abril 2012

a conclusão principal

O cirurgião pode remover o tumor que se encontra na mama. Admitindo por um momento que  a quimioterapia é eficaz, ela pode destruir todas as células malignas que se encontram no corpo. Mas isto é atacar os sintomas, não a origem do cancro, porque em nenhum momento se atacou a fonte, o mecanismo que produz as células malignas e que, com probabilidade, vai continuar a  produzi-las.

Este é o primeiro e o mais importante dos pontos negros do diagnóstico e do tratamento do cancro. Ataca os sintomas, não ataca a fonte do problema, porque a fonte é desconhecida.

A idade média do diagnóstico do cancro da mama nas mulheres é 54 anos. Trata-se, portanto, de uma doença geriátrica, uma doença que tende a ocorrer quando a mama já cumpriu as suas funções biológicas.  Mas qual é o mecanismo que em certas mulheres, com maior incidência à volta dessa idade, se desencadeia no seu corpo e que passa a emitir células malignas que se acumulam na mama e, por vezes, se expandem para outros orgãos com consequências fatais? Ninguém sabe. Ninguém sabe qual é o mecanismo nem onde é que ele está localizado.

Quanto à localização, presume-se que é na mama, mas nem sequer quanto a este aspecto existe certeza. Trata-se de mera presunção. É esta presunção que, em certos períodos em que é esta a opinião dominante, leva os cirurgiões a remover a mama - é a ideia de cortar o mal pela raiz. O ponto é que não há a certeza que a fonte do mal esteja na mama. Por isso, noutros períodos, em que a opinião dominante é outra, os cirurgiões limitam-se a remover o tumor.

O segundo maior ponto negro do disgnóstico e do tratamento do cancro refere-se á eficácia dos tratamentos e, em particular, daquele que é considerado o tratamento-rei, a quimioterapia. Eu não sou médico, mas sou estaticista. E, quando, há cerca de dois anos e meio, me dediquei a estudar a eficácia da quimioterapia, eu não encontrei evidência estatística que me convencesse que a quimioterapia é eficaz no tratamento do cancro da mama e dos outros cancros duros (existe alguma evidência de que ela pode ser eficaz no tratamento dos cancros moles, como os cancros linfáticos).

Para mim a conclusão subsiste até hoje de que a quimioterapia não é eficaz. Quanto aos seus efeitos adversos, quanto a esses não tenho dúvida nenhuma, conheço-os por observação directa. A parte mais decepcionante para mim foi concluir que, nas questões essenciais, como as questões que envolvem a vida e a morte, a ciência não tem respostas para dar. Ao contrário da velha oposição entre ciência e religião, nas situações extremas como esta - porque é aí que se vê a verdade - a ciência remete directamente para Deus.

Mesmo nos casos mais graves de cancro da mama, com o estadiamento ou grau IV, a taxa de sobrevivência aos cinco anos - o patamar de tempo passado o qual o cancro é considerado curado - é de 20%. Se a quimioterapia não curou estas mulheres, então o que é que as curou?

 
O terceiro ponto negro respeita aos meios de diagnóstico e, no caso do cancro da mama, à mamografia, a que aludi brevemente no post anterior. Presume-se que uma formação celular maligna detectada na mama de uma mulher vai percorrer todo aquele caminho descrito num post anterior, expandindo-se primeiro para os gânglios linfáticos e depois para os pulmões ou o fígado, onde é fatal. Mas vai?
 
 
Ninguém tem a certeza. Pode ser que se fique por ali e que a mulher acabe por morrer muitos anos depois de uma outra coisa qualquer. O paradigma prevalecente, porém, obriga a avançar imediatamente com a cirurgia, a quimioterapia, etc. É neste sentido que a post referido pelo Joaquim, e ao qual me tenho referido com frequência, sugere que 9 em cada 10 mamografias que diagnosticam alguma forma de cancro da mama, não são cancros nenhuns, só são cancros porque nós decidimos chamar-lhes cancros, não matam nem precisam de tratamento nenhum. São os tais cancros modernos a que aludi num post anterior.
 
 
Diz-se, por vezes, em defesa da mamografia preventiva, que ela permite detectar o cancro ainda numa fase precoce, aumentando as possibilidades de cura. Mas isto só é assim se o tratamento fôr eficaz. Ora a realidade é que o tratamento (quimioterapia, em primeiro lugar) não é éficaz, como argumentei anteriormente. Não é nada certo que um cancro detectado precocemente tenha mais probabilidades de ser tratado do que um cancro detectado num momento posterior.

Chegado a este ponto, que conclusão posso tirar? Uma, em particular. Não fazer exames preventivos. Se o corpo humano fosse para ser constantemente observado por dentro, viria equipado com uma espécie de periscópio. Não é. Ao fazer exames preventivos eu sujeito-me ao risco de encontrar aquilo que se julga ser uma doença, um cancro por exemplo, sujeito-me em seguida a tratamentos de quimioterapia que são devastadores para o organismo e que alteram radicalmente a minha qualidade de vida, quando, se tivesse estado quieto, teria uma vida muito feliz e acabaria por morrer de uma outra coisa qualquer. É esta a conclusão principal.  


2 comentários:

José Lopes da Silva disse...

Há cerca de 20 anos atrás, a minha mãe começou a ter sintomas. dores de cabeça, náuseas. Um neurocirurgião diagnosticou neurinoma e 6 meses de vida se não fosse tirado. Tirou-o imediatamente e minha mãe cá está, até hoje.

Este ano, o meu tio começou a ter dores de barriga. Um médico diagnosticou pâncreas em estado demasiado avançado para se fazer alguma coisa, e de facto foi - em 3 meses.

Serão estes casos "cancros antigos"? Provavelmente sim, sendo um retirável e o outro não.
Mas o que se poderia fazer mais? Não é um dever nosso tentar prolongar a vida dentro das nossas possibilidades?

Anónimo disse...

Viva PA,

Falo-lhe enquanto sobrevivente de um tumor mole.

O meu corpo deu sinal como refere.
Operação e quimio.

Foi há 12 anos (tenho 33). De lá para cá vou ao médico todos os anos fazer uma geral. Tem corrido bem.

Pergunto-me muitas vezes se devo ir ou não uma vez que o meu corpo não dá sinal. Na dúvida vou.


Engraçado que a minha médica tenha dito, quando lhe perguntei se ia sobreviver, que eu "deveria morrer de doença cardiovascular na casa dos 65-75 como qualquer português médio e para não me preocupar muito com o assunto".

Cumprimentos,

Alberto Mendes