20 janeiro 2012

o padre católico

A cultura católica não é uma cultura generalizadamente de extremistas. É uma cultura que tolera os extremistas (e até aquela espécie refinada de extremistas que se chamam fanáticos), e até certo ponto os encoraja. E é nisto que ela se distingue da cultura protestante.

Exemplos de extremistas em Portugal? Estão por aí a cada esquina, nós estamos de tal forma aculturados a eles, que nem nos damos conta. Por exemplo, Otelo Saraiva de Carvalho, ainda por cima sendo um militar, com aquilo que desde há tempos anda por aí a dizer em público, há muito que estaria na prisão em qualquer país de cultura protestante por constituir uma ameaça à ordem social estabelecida.

Não se pense, porém, que o extremismo só existe na política ou no futebol. Existe em todos os aspectos da vida, na arquitectura, na arte, na justiça, na economia, nas relações entre sexos. Berlusconi, por exemplo, é um extremista nas relações com mulheres e nunca seria tolerado como primeiro-ministro num país protestante. Existe, em cada um de nós, uma tendência para ser um extremista em algum aspecto da nossa vida. É o resultado do personalismo católico.

Um certo escritor britânico, um dia, ao visitar Madrid, ficou muito chocado com um mendigo que lhe pediu esmola, exibindo ao peito um cartaz que dizia: "Por favor, dê-me uma esmola. Deus fez-me assim, sem vontade de trabalhar". Este extremista da mendicidade estava perfeitamente de bem com Deus.

Se reparar nos detalhes, vai ver que as dificuldades que hoje sentimos na economia (e na justiça e por aí adiante) são o resultado do extremismo. Extremismo a fazer auto-estradas, extremismo a fazer centros culturais e centros comerciais, extremismo no número de ambulâncias em cada localidade, extremismo a consumir, extremismo na assistência social, extremismo nas urgências e outros serviços dos hospitais, etc.

E qual é a figura paradigmática do extremista na cultura católica? É o padre católico, que, por seu turno, procura ser uma imitação de Cristo. Tudo naquela figura, desde a forma como se veste até ao código de vida a que voluntariamente se submete, é extremismo.

E que mal tem o extremismo? Tem males e tem bens. Um dos seus principais efeitos é o de agitar permanentemente as consciências e, por isso, ser uma ameaça permanente à ordem social vigente. Ao consentir o extremismo, o catolicismo é uma cultura revolucionária (não esqueça que mesmo a revolução protestante foi iniciada por uma padre católico). Compare, nos dois últimos séculos, o número de revoluções que foram feitas em países protestantes com o número delas em países católicos. Só Portugal é bem capaz de ter mais revoluções do que os países protestantes todos juntos.




Sem comentários: