30 maio 2011

Papandreou deve demitir-se

"Os líderes europeus estão a negociar um acordo que deverá conduzir a uma intervenção externa sem precedentes na economia grega", escreve hoje o FT.

O novo plano inclui o envolvimento internacional na cobrança de impostos na Grécia e na privatização de activos do Estado helénico, em troca de novos empréstimos a Atenas.

as voltas que o mundo dá

Para o PCP, o Sol já não vem de Moscovo, agora vem de Washington.

leverage

Sem recurso aos mercados financeiros, ao crédito, a economia portuguesa entraria em colapso. Regressaríamos aos níveis de vida de 1950. Catastrofismo? Não, já aconteceu noutros países.

sair do euro

A única possibilidade de Portugal cumprir o acordo com  a Troika parece-me ser a Grécia sair do Euro. Só com um exemplo em frente do nariz é que os portugueses serão capazes de compreender o que está em jogo. Com explicações abstractas não vamos lá.

29 maio 2011

alarme social

O alarme social é = a alarido social?

A violência escolar é com certeza causa de alarme social. Quem tem filhos na escola pública deve andar aterrorizado. Contudo, um incidente particular não causa alarme social. O que causa é alarido social.

locuacidade

Segundo a nota da procuradoria, o Ministério Público, «coadjuvado pela PSP, logrou obter indícios de co-autoria de agressão premeditada, levada a cabo em grupo, com especial perversidade».


Suspeito que os arguidos não terão capacidade para compreender a acusação.

8 ou 80

Tanto uma das protagonistas das polémicas agressões a uma jovem como o suposto responsável pelo vídeo sobre o incidente colocado a circular nas redes sociais ficaram presos preventivamente, informou hoje o Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa.

28 maio 2011

2011 - Vader goes mainstream





O 31 da Armada deve estar a facturar grosso, só em royalties...

2009

manure

Os alimentos ditos orgânicos, ou biológicos (segundo o josérui), têm 8 vezes mais possibilidades de transmitir a bactéria E. Coli do que os alimentos convencionais que são tratados de forma industrial.

alimentação orgânica

Almost 300 people in northern Germany are in hospital and around 500 more are being tested for the infection.
Organic cucumbers from Spain are thought to be the source of the bacteria, but travellers to Germany are also being advised to avoid eating raw tomatoes and lettuce.
The Robert Koch Institute, Germany's national disease centre, said 60 cases had been reported in the last 24 hours alone, and infections have also been confirmed in Sweden, Denmark and the Netherlands.

Sky News

formas de ditadura

Democracia verdadeira
Democracia real
Democracia popular
Democracia plebiscitária
Democracia referendária
Democracia solidária

sem comentários

27 maio 2011

Ro-cio

Este movimento tenta ser "o mais horizontal possível".
Jornal de Negócios

PS: Felizmente que os jovens se continuam a interessar pela horizontalidade.

anti-business III

O que disse o CEO da CP:

"No caso de uma hecatombe não pagamos".

O que deveria ter dito:

Não me vou pronunciar sobre cenários hipotéticos e catastrofistas.

anti-business II

Há vida para além do défice. Jorge Sampaio

Também a Europa se subleva, mas contra outra ditadura. A ditadura da "financeirização" das nossas vidas. Pedro Guerreiro, no JN

em portugal não temos este problema

Em Portugal não temos este problema, porque a "classe média" até se esmifra toda para não pôr os filhos nas escolas públicas. Também, não admira.

para acabar com a desigualdade ...

As part of a sweeping reform of national admissions rules to be unveiled today, hundreds of academies and free schools will be allowed to select pupils based on family income for the first time.
They will be allowed to discriminate in favour of children who are eligible for free school meals — those whose parents earn £16,000 or less — in an attempt to close the gap between rich and poor.
The move is designed to give the most disadvantaged children access to the most sought-after schools and stop them being edged out by richer families who buy properties near the best secondaries to secure places.
Schools will be given a further incentive in the form of a “pupil premium” worth an extra £430 for each deprived child admitted next year.
The controversial change will be made as part of a major overhaul of the school admissions code, the rules that dictate how state schools in England allocate places.

Telegraph

25 maio 2011

em parte



A notícia que o Joaquim cita aqui a propósito da Grécia antecipa aquilo que se passará em Portugal dentro de um ano. As metas orçamentais acordadas com a Troika não terão sido cumpridas, nem o programa de privatizações, nem a racionalização dos sectores da saúde e dos transportes, nem a reforma administrativa e do sector público.

Aquilo que as instituições internacionais, como o FMI e a UE, pensarão então de nós é o mesmo que agora pensam dos gregos: "Não se pode ter confiança neles". E, de facto, a análise que tenho vindo a fazer da cultura católica portuguesa, e que também se aplica à cultura ortodoxa grega, confirma isso. O português médio ou mediano, tal como o grego médio ou mediano, que é aquele que acaba a governar em democracia - e qualquer que seja o seu nome -, é, em parte, um aldrabão.

um governo estrangeiro

The political bickering has prompted European leaders to consider new ways of ensuring that Athens goes ahead with privatisations, regardless of party politics, including introducing an independent, outside agency to run the sell-off. Privatisation was a key condition in an EU agreement in March to lower the rates in Greece’s bail-out loans by one percentage point.
FT

Nas entrelinhas, percebe-se que a UE pretende nomear um governo estrangeiro para a Grécia.

o diabo

Muito se tem escrito acerca da forma como os países sujeitos à Reforma protestante eliminaram ou, pelo menos, reduziram apreciavelmente a influência dos padres nas suas respectivas sociedades. Cortaram os vínculos com o Vaticano, perseguiram o clero, confiscaram-lhe a riqueza e, nalguns casos, literalmente proibiram a Igreja Católica.

Menos discutida tem sido a forma como esses países eliminaram, ou pelo menos reduziram apreciavelmente, a influência social da franja oposta da sociedade - a ralé. Uma parte, foi internada compulsivamente em hospícios, outra parte foi directamente para a prisão. Mas a parte mais significativa passou a estar sob o controlo absoluto do Estado. Foi a ideia de não permitir florescer na sociedade os valores e os comportamentos radicalmente anti-sociais da ralé que levou à instituição do Estado Social.

O Estado Social é uma criação protestante do muito anti-católico Otto von Bismarck na Prússia. A ideia que lhe subjaz é a de o Estado tomar conta daqueles que não sabem, ou não conseguem, governar-se a si próprios. O Estado dava dinheiro, casa, comida, educação, cuidados de saúde. Em troca, exigia certos comportamentos determinados por padrões mínimos, e estabelecidos por lei, e abaixo dos quais a ralé não podia viver. Daí surgiram a escolaridade mínima e obrigatória, as condições mínimas de higiene e segurança na habitação, na alimentação, etc. Todas estas instituições não podiam ser senão criações protestantes.

O protestantismo aparou as abas da distribuição social, eliminando os seus extremos - a elite e a ralé - e tornou a sociedade mais igual. O pêndulo deixou de poder oscilar livremente entre os seus dois extremos naturais, à semelhança de um espírito de mulher, e passou a estar numa posição fixa, em torno da qual era permitida apenas uma pequena margem de variabilidade, à semelhança do espírito de um homem.

As sociedades protestantes acabaram com os exageros das sociedades católicas, que ocorrem quando estas pendem excessivamente para uma das abas da distribuição. Tornaram-se sociedades mais sóbrias onde as virtudes cristãs são praticadas virtualmente por todos de forma equilibrada, ao contrário das sociedades católicas, onde elas são praticadas excessivamente por uns - os padres, a elite -, e nada por outros - a ralé. Na sociedade protestante pura, não se espera que ninguém imite Cristo - na figura do padre católico - mas não é permitido a ninguém ser um diabo. Nas sociedades de tradição católica, Cristo e o diabo coexistem lado a lado, às vezes são vizinhos, e ocorrem períodos em que o diabo parece prevalecer.

é um bruto!

A. Sullivan sobre DSK.

24 maio 2011

eduquês

"(...) apesar do discurso progressista que o envolve, o programa educativo desenvolvido desde 2005 representa uma notável aceleração do processo de controle ideológico da educação e da criação de barreiras adicionais à já muito reduzida mobilidade social da população portuguesa. Não deve esquecer-se que, para além das "novas oportunidades", integraram aquele programa, pérolas não menos nocivas como, por exemplo: o programa de acesso à Universidade dos maiores de 25 anos, o processo de Bolonha ou a facilitação inaceitável dos programas de doutoramento. O que está a ocorrer com as "novas oportunidades" é uma aceleração perversa da massificação do sistema de ensino. Trata-se de uma massificação socialmente retrógada, na medida em que, promovendo o facilitismo, elimina a selecção e a hierarquização social com base no mérito escolar (...) Neste processo não se acarinha o direito a estudar, mas o direito ao diploma. Criam-se de facto monumentais programas de concessão de diplomas, sem paralelo noutras paragens. Mas, no que concerne às bolsas de estudo, a oferta, além de estar em regressão, é de valor extremamente baixo, quer em termos absolutos, quer relativos.", Avelino de Jesus, hoje no Jornal de Negócios.

"No ensino obrigatório, o Ministério da Educação tem nivelado tudo e todos por baixo. Os níveis de exigência no percurso escolar unificado têm baixado nitidamente, chegando a uma situação de facilitismo (...) O Ministério da Educação, ao introduzir no 9º e 10º anos uma disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC, uma das várias siglas horripilantes que hoje abundam no quotidiano escolar) caminhou no mau sentido. Até porque o tempo lectivo foi retirado a disciplinas tradicionais como a Física e a Química, que - pasme-se! - passaram a ser meramente facultativas para os alunos do secundário em cursos de ciências e tecnologias...", Carlos Fiolhais, no livro "A Ciência em Portugal" (páginas 58 e 68).

Os GIPS (é mais PC...)

23 maio 2011

a ralé

Portugal não é uma sociedade que se possa definir de uma vez por todas, porque está sujeita a oscilações entre extremos muito amplos. Neste sentido, é uma sociedade capaz do melhor e do pior, ou de qualquer ponto intermédio. E isto é assim porque os próprios portugueses, ao contrário da aparência exterior, não formam uma população homogénea. A variabilidade interpessoal é enorme, não na aparência física, mas na realidade espiritual.

Num extremo existem pessoas que perfilham um conjunto de valores que as caracteriza como elite. No outro extremo, existem pessoas que possuem uma combinação de valores que é exactamente oposta - a plebe ou a ralé. A maior parte dos portugueses possuem combinações de valores que se situam entre estes dois extremos opostos, e que constituem a grande massa do povo, uns aproximando-se mais da elite, outros mais da ralé.

Os valores da elite são os valores de Cristo - o homem de elite por excelência da nossa civilização - e que são aproximados pelos valores do padre católico, que é uma réplica de Cristo. Os principais são os seguintes: virilidade, autoridade e sentido de hierarquia, independência, sentido de verdade e de justiça, realismo, amor-próprio e confiança em si próprio, responsabilidade, generosidade e altruísmo (o valor cristão do amor ao próximo ou caridade), racionalidade, religiosidade, capacidade de abstracção, sentido de futuro. Os valores da ralé são exactamente opostos: frouxidão, permissividade e tendência para anarquia, dependência, falta de julgamento e de amor à verdade, egoísmo, tendência para o fantasismo, falta de amor-próprio e de confiança em si próprio, irresponsabilidade, emocionalidade, irreligiosidade, concentração excessiva no concreto e no presente (isto é, no aqui e no agora).

Antes de prosseguir, uma observação é devida. Um homem de elite e, no outro extremo, um homem da ralé, definem-se, não pela sua condição de nascimento, mas pela combinação de valores que perfilham. Um homem pode nascer no povo e tornar-se um homem de elite e, na realidade, a maior parte dos homens de elite nasceram do povo. Pelo contrário, um homem pode nascer numa família de elite e tornar-se povo e, no limite, ralé.

Não é difícil imaginar o que seria uma sociedade constituída só por pessoas de elite. Seria uma sociedade justa, próspera, responsável, racional e progressiva. Pelo contrário, não é difícil também imaginar aquilo que seria uma sociedade constituída apenas pela franja mais baixa do povo, a ralé. Seria uma sociedade onde a vida seria muito difícil, senão mesmo impossível: pobre, anárquica, emotiva, irresponsável e injusta.

Nos últimos trinta anos em Portugal, com a democracia, que é o governo do povo, a sociedade portuguesa afastou-se dos valores da elite e aproximou-se dos valores do povo, os quais, no limite, são os valores da ralé. A situação em que Portugal se encontra presentemente é o reflexo desse movimento. A democracia nunca sobreviveu em Portugal porque é impossível defender a bondade dos valores do povo sem os levar ao extremo. Não se pode gostar de algo ficando a meio. E quando os valores do povo são levados ao extremo, cai-se nos valores da ralé, tornando a vida em sociedade impossível.

Os países protestantes conseguiram sobreviver estavelmente em democracia, porque a Reforma protestante, e o movimento político e filosófico da modernidade que se lhe seguiu, fez duas coisas que ficaram por fazer nos países que permaneceram católicos, como Portugal. Proibiu os padres mas também proibiu a ralé, eliminou os extremos da distribuição, e assim tornou a sociedade mais igualitária. E isso, ao contrário das aparências, foi conseguido restringindo a liberdade individual, e não aumentando-a.

A variabilidade interpessoal - que é talvez a medida mais adequada da liberdade individual numa sociedade - permaneceu muito mais elevada nos países de tradição católica do que nos países sujeitos à influência do protestantismo. É mais fácil ser um padre católico em Portugal, imitando Cristo, do que na Dinamarca ou na Finlândia. E também é mais fácil ser um genuíno plebeu em Portugal, sem trabalho e sem valores, vivendo numa barraca sem condições de segurança e de higiene, do que em qualquer desses países.

não vivemos de fantasias

O fim das eleições regionais marca também o início das eleições internas no PSOE para determinar o sucessor do primeiro-ministro, que é visto pela população como o principal culpado pela má situação económica do país. A má imagem do chefe do executivo contou tanto contra os socialistas que as secções regionais do PSOE, como a de Castilla-La Mancha ou a Catalunha, chegaram a proibir a sua participação nos comícios locais.
DE

Os espanhóis não estiveram para dar uma de Sócrates.

foi bonita a festa, pá

22 maio 2011

jamais

Christine Lagarde, se vier a ser líder do FMI, nunca irá dar uma de DSK. Nunca!
O pior que lhe pode acontecer, imagino, seria não resistir a uma carteira Birkin, da Hermès (aí uns 15.000,00 €), pagar com um cartão de crédito do FMI e demorar mais de 12 horas a repor a respectiva quantia.
- Não resisti porque receei que a carteira fosse vendida, mas na manhã seguinte paguei tudo do meu bolso... 

"to pull a Sócrates" - dar uma de Sócrates

Estou convencido que "dar uma de Sócrates" vai entrar rapidamente para o léxico português. Quando alguém ignorar completamente a realidade e se obstinar numa narrativa construida para se desculpar  e responsabilizar terceiros pelos seus actos, estará a "dar uma de Sócrates".

to pull a McGyver

"To pull a MacGyver" é desenrascar uma solução à ultima da hora, com recursos mínimos.

21 maio 2011

insustentável

Mais de 500.000 portugueses com ordenados penhorados.
Expresso de hoje.

recomendo

o significado da liberdade

Eu quero que o americanos trabalhem menos para o Estado e mais para si próprios. Quero que beneficiem das suas actividades. Este é o principal significado da liberdade.
Presidente Calvin Coolidge (1923-1929)

a troika manda

A ministra da Saúde disse ter recebido “orientações” da troika para acabar com as contratações de empresas que prestam serviços médicos e apostar nas contratações individuais de profissionais.


PS: É necessário que se tornem públicas todas as orientações da troika.

não há novas oportunidades

Começou o colapso do PS. Sócrates provoca rejeição.

sem dúvida

Sócrates perdeu hoje o debate e perdeu as eleições. Passos surpreendeu-o e surpreendeu o país. Dificilmente deixará de ser o próximo primeiro-ministro.
rui a., no Blasfémias

20 maio 2011

post que eu escrevi em 6 de Março de 2009


O Serviço Nacional de Saúde não é um fim, mas um meio. Esta observação, tão simples, é um verdadeiro ponto de partida para dar sustentabilidade a todo o sistema de saúde.
O SNS, que tem agora cerca de 30 anos, foi criado para realizar o estado de bem-estar social, de acordo com os desígnios constitucionais, expressos no Artigo 64º:

1.Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender e promover.
2.O direito à protecção da saúde é realizado: a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito.


O SNS é, portanto, um meio para proteger e defender a saúde dos cidadãos.
Nesse sentido, o SNS não pode limitar-se a dispensar todo o tipo de produtos e serviços de saúde à população, sem assegurar que está a “proteger e a defender” a saúde.
Infelizmente, tal como acontece nas empresas, as organizações têm tendência a focar-se em si próprias e esquecem, com muita facilidade, a “visão fundadora”.
No sector privado, esta deriva é imediatamente penalizada pelo mercado. O SNS, porém, está isolado dos mecanismos de mercado e, portanto, só pode corrigir a sua trajectória quando as autoridades políticas se consciencializam de que existe uma deriva do projecto inicial.
E existe uma deriva do projecto constitucional? Estou convencido que sim. O SNS há muito que deixou de dispensar todos os produtos necessários à promoção e defesa da saúde, para passar a dispensar todo o tipo de serviços de saúde a toda a gente, mesmo quando estes produtos e serviços podem estar a prejudicar a saúde. Uma ironia trágica e muito dispendiosa.
Nos próximos posts vou demonstrar, com factos, este meu ponto de vista e enunciar algumas soluções que permitam dar sustentabilidade ao SNS.

PS: Com 2 anos de atraso e o País na bancarrota, o governo vem reconhecer que há "consumismo na saúde". Não há saco para aturar isto.

a culpa é dos portugueses

Ana Jorge adverte contra "consumismo da saúde"

A ministra da Saúde diz que os portugueses vão a demasiadas consultas médicas sem necessidade. Ana Jorge entende que há uma espécie de "consumismo da saúde". De acordo com a governante, esta tendência reflete-se nos centros de Saúde, nos hospitais e nas consultas de especialidade.

Conclusão: os portugueses não são dignos do governo de Sócrates.

um comentário digno da ralé

...os senhores doutores não gostam de ver a ralé aceder ao conhecimento.
Numa crónica do Jornal de Negócios.

A propósito do programa Novas Oportunidades. Um programa da ralé, pela ralé e para a ralé.

Rafael Bordalo Pinheiro

Recordado hoje no Jornal de Negócios.

19 maio 2011

hilariante

...
Dangerously, Dominique also fell out with some of the most feared prison gangs. The Bloods disagreed violently with his Keynesian views, preferring the neoclassical approach to debt burdens. Even worse was his feud with the Latin Kings over the optimal model of macro-prudential regulation. For a while it seemed only a question of which gang would get him first. He became scared to shower alone for fear of being accosted by a deficit hawk.
...
Robert Shrimsley, no FT de hoje.

para grandes males... II

- Ó Joaquim, tu já viste os conselhos que andas a dar...
- É só uma brincadeira, ninguém leva a sério.
- Mas nem sempre isso funciona...
- Como assim, com testemunhas?
- Sim, se as tipas se conluiarem para dar cabo dele. Tá feito. São duas contra 1. Isso só funciona se as tipas forem desconhecidas uma da outra e, melhor ainda, se forem adversárias ou concorrentes.
- Tens razão. Tenho de alertar o pessoal: cuidado com o conluio, pode ser pior a emenda que o soneto.

para grandes males...

Gostaria de deixar um conselho para os cavalheiros que se possam sentir intimidados com o frenesim tabloide acerca do caso DSK. Não devem, de todo, resignar-se ao famoso - “Quem anda à chuva, molha-se!”. Um bom soldado prepara-se antes da batalha.
O nó górdio do problema são as chamadas “alegações” que qualquer sirigaita pode imputar a um homem de bem, depois de desfrutar com ele de momentos de paixão. Porque tinha bebido, porque não sabia ao que ia, porque sussurrou que não, porque o gajo rompeu o preservativo de propósito, porque não lhe pagou o suficiente, eu sei lá...
Ora o problema com estas alegações é que se referem a eventos difíceis de refutar por só terem duas testemunhas e pelo benefício da dúvida que o sistema judicial confere à vítima.
Assim sendo, a solução que eu proponho é que os tais homens de bem, com algum património apetecível, ultrapassem esta dificuldade saindo apenas com duas tipas de cada vez. O que se chamava um dueto, no meu tempo, e que agora se designa por um trio FFM (forma correcta, sugerida por um especialista).
A presença de uma testemunha, por assim dizer, confere uma segurança adicional ao evento e tem a vantagem de ser muito mais “placentero”. As tipas puxam uma pela outra e todos saem a ganhar.
Obviamente esta solução que proponho sai um pouco mais dispendiosa, em “cash” ou em brindes, mas quem não tem dinheiro não tem vícios.
Deste modo, como se diz agora, as gajas deixam de ser parte do problema e passam a ser parte da solução. Ahahahah

anti-business

É preciso evitar que redução da TSU se traduza em "mero aumento de lucros de empresas".

Mais um exemplo de uma manchete "anti-business" do Jornal de Negócios. Claro que o principal objectivo da redução da TSU é aumentar os lucros das empresas, para que estas não encerrem e possam continuara a criar valor para os clientes.

18 maio 2011

é chique dizer mal da América

Aqui diz-se mal da América. Com bastante estilo, mas sem qualquer originalidade.

PS: Curiosamente, se há algo em os norte-americanos são unanimes é que N.Y. não representa a cultura americana.

Yes, I Khan

Razões para uma rapidinha, antes de sair de Nova Iorque:

1. Queria ferrar uma soneca no voo para Paris e uma rapidinha é melhor que um Xanax.
2. Ia comer uma hospedeira de bordo da Airfrance e a rapidinha era para aquecer.
3. A Merkel dá-me pica e eu queria parecer o Mr. Iceman.
4. Explicações para quê? “Yes, I Khan !”

esperma de bacalhau

"The real value of the economic crash, one young woman told me, was that 'people are rethinking, who am I as an Icelandic person?' A number of people suggested to me that the nation, as a whole, was going through a period of intense introspection and that the consensus seemed to be that Icelanders needed to return to their roots.

If Icelanders are truly interested in getting back to what they have always done best, that means getting back to fishing. Fishing still accounts for about 40 percent of the nation's exports. It offers a great deal of promise of economic growth because Iceland has managed its fisheries well and maintained healthy stock of fish.

No one knows that better than Armann Kr. Olafsson (...) Uncertain about his future, he accompanied his brother, the owner of a successfull fish farm, on a trip to Boston to attend the annual seafood convention there. At the convention, an American asked Mr. Olafsson and his brother if they knew how to get hold of some fois gras de la mer. The brothers inquired what that was. Monkfish liver, the American explained, adding it was now a hot item at high-end sushi restaurants. "Our faces were just big question marks", Mr. Olafsson recalled. "In Iceland, we usually threw this liver out". Not anymore. Almost overnight, Mr. Olafsson became Iceland's leading exporter of fois gras de la mer.

When monkfish eason came to an end, he found another niche to capitalize on: codfish milt, or sperm. Mr. Olafsson discovered, after doing a bit of research, that milt was in demand in a number of upscale restaurants in the United States, Japan and Korea. One morning I accompanied Mr. Olafsson to the plant where he obtains his milt (...) "What's in those vats?", I asked uneasily. "That's the product", he replied proudly. He then scooped up a huge handful of milt. "This is the sperm. It has a lot of protein, just like your sperm." I marveled for a moment that what he was holding was a marketable commodity. But would he really eat the stuff? "You know", he replied, "in Iceland we eat ram's testicles, so believe me, it's no big deal to eat cod sperm".

Nota: Publicado na edição do passado fim de semana do International Herald Tribune (página 9).

uma medida política

Habitação. Banca com luz verde para subir spreads nos contratos em vigor.

... de consequências imprevisíveis.

competitividade 2011 - Portugal II
























As forças negativas são:
1. As finanças públicas
2. O mercado de trabalho
3. As prácticas de gestão

competitividade 2011 - Portugal



De notar que a eficiência do governo caiu a pique nos últimos anos.

competitividade 2011




The World Competitiveness Scoreboard
Portugal surge no 40º lugar, uma queda de 3 lugares num ano.

17 maio 2011

ahahahahah

"O programa Novas Oportunidades destina-se aos portugueses que não tiveram a oportunidade de estudar que eu tive".
José Sócrates

a justiça é cega?

O caso DSK merece reflexão. Não pelo alegado crime, mas pela forma como a justiça funciona nos EUA, em comparação com a maior parte dos países da UE.
Nos EUA impera o igualitarismo dos cidadãos. A justiça trata de igual modo os fracos e os poderosos, submetendo-os ao mesmo escrutínio e aos mesmos procedimentos.
Na UE, pelo contrário, o poder ainda confere demasiada impunidade e a justiça nem sempre é cega. Os magistrados usam “punhos de renda” com a “aristocracia” e mão de ferro com a populaça.
Em Portugal, estou firmemente convencido, DSK estaria livre e nem sequer penderiam sobre ele quaisquer acusações. Nos EUA está, hoje, em Rikers Island.

PS: Já depois de escrever este post reparei que o FT também se debruçou sobre o problema da igualdade na justiça norte-americana.

16 maio 2011

não há bailout para o homem dos bailouts

Finished!

manifestação a favor da escravatura

Milhares de manifestantes, em Espanha, contra a liberdade individual, contra a propriedade privada e contra o direito à busca da felicidade.
Isto vai acabar mal.

um título que diz tudo

Troika vem a Lisboa para aprovar programa do próximo Governo.

uma lição muito cara

Agentes da NYPD, devidamente aparelhados para a foto. A prisão do DSK vai ser importante para as suas carreiras e portanto é natural que se preocupem com a  imagem.
O que é inacreditável é que uma instituição como o FMI abandone o seu líder aos abutres. Sozinho, na "big apple", sem guarda-costas nem secretárias para o protegerem. Nem um cantor pop de meia-tigela se deixa apanhar assim.
DSK, um socialista encartado, deve estar neste momento a reflectir sobre a natureza humana:
- É por os seres humanos serem o que são, meu caro DSK, que o socialismo não vai a lado nenhum. Saiu-te cara a lição!

sou o mais africano

Sou o mais africano de todos os candidatos.

A "marca África" não está associada ao rigor e à competência, pelo contrário, está associada à incompetência, ao compadrio e à corrupção. As afirmações de PPC, de que é o mais africano dos candidatos, parecem bondosas e penso que o serão, mas não são coerentes com a imagem que ele necessita de projectar.
Em alternativa, PPC poderia ter dito: "A África está sempre no meu coração" ou qualquer coisa do género que correspondesse aos seus louváveis sentimentos, sem prejudicar a imagem.

15 maio 2011

Ron Paul sobre DSK

"These are the kind of people that are running the IMF and we want to turn the world finances and the control of the money supply to them," Paul said. "That should awaken everybody to the fact that they ought to look into the IMF and find out why we shouldn't be sacrificing more sovereignty to an organization like that and an individual like he was."

Ron Paul

uma triste realidade (II)

"Os dois traços terríveis dos portugueses são o provincianismo, de que os cosmopolitas Eça (sobretudo Fradique Mendes) e Pessoa se desgostavam, e a subserviência. Esta subserviência é o parente pobre e da província da soberba. (...) As Conferências do Estoril são um palco ideal onde se representam alguns desses traços. Gente como Francis Fukuyama, ou Mohamed El Baradei, comportam-se com modos e civilidade, respeito pelos outros, dom que certos portugueses de meia tigela (grande expressão) que arrotam postas de pescada não têm nem terão. Vou contar um episódio. Num dos dias entrei no perímetro do Centro de Congressos do Estoril dentro de um belo carro, um Mercedes descapotável último modelo. Antes de tentar entrar na faixa de rodagem destinada ao parque de estacionamento reservado, precipitaram-se sobre mim, e o carro, vários polícias com sorriso e postura amável que indicaram a direcção com grande espírito de serviço e boa educação. Em seguida, vários jovens de fatinho ofereceram-me o dístico do Parque (...) No dia seguinte, entrei no mesmo perímetro reservado ao volante de um velho Twingo com o dístico 'dos eleitos' bem à vista. Os polícias mandaram-me logo parar com ar carrancudo quando tentei avançar para o parque, apesar de ter o dístico bem colocado. Onde é que vai? Disse que ia apresentar o último orador, Mohamed El Baradei. Não se deixou impressionar (...) Este pequeno filme português também podia e devia ser apresentado não aos finlandeses mas a todos os portugueses. É o traço comum do nosso subdesenvolvimento. Os pobres curvando a espinha e tirando respeitosamente o chapéu da cabeça perante os fidalgos da casa mourisca. E, para ser rico, neste país, basta ter um carro bom. É o símbolo do status. Não admira que haja tanto empresário pato bravo que não queira ter um Ferrari Testarossa. Se eu entrasse de Aston Martin não era eu que apresentava Baradei, era ele que me apresentava a mim, segundo a ontologia daquelas cabecinhas dos jovens de fatinho que pululavam. O fato de Francis Fukuyama, por acaso, era dos mais amachucados. Se entrasse com ele no Twingo punham-nos fora.", Clara Ferreira Alves, esta semana na revista "Única".

uma triste realidade

"Como é óbvio, ganha um debate quem consegue conquistar mais votos com aquilo que diz. Para isso, tem de se ter em conta a incontornável realidade que o "The Wall Street Journal" publicou: 'Só 28% da população portuguesa entre os 25 e os 65 anos completaram o nono ano.' (...) Portanto, de nada valem as imaginativas escolhas políticas dos 1.569 doutorados que Portugal tem ou dos dois milhões e meio de letrados que entendem razoavelmente o que leem e o que ouvem. São todos sufocados pelos sete milhões e meio que não atingem as subtilezas das compensações fiscais e os méritos dos equilíbrios orçamentais. É neste grupo que se inclui o formidável lastro de incompreensão dos repetentes na população escolar já com direito a voto que não vão ser sensíveis a apelos que despertem uma ética nacional de trabalho numa cidadania responsável. Muitos deles já são produto de uma geração ela própria sem uma cultura de trabalho onde não há o estigma da vida totalmente subsidiada em permanente estado de inserção social. Esta gente vota para o lado de onde lhe parecer vir mais dinheiro e menos trabalho. Por tudo isto, ganha debates quem optar pelo discurso orwelliano tipo "eu sou contra o FMI" ou pelo menos "eu fui contra o FMI" ou ainda melhor "eu sou contra o FMI e as agência de rating". Cria-se um inimigo imaginário e as hordas de jovens de brinco e tatuagens poderão alinhar num novo ódio comum e irracional (...) Conquistará ganhar este eleitorado em números quem conseguir articular claramente: o FMI é bué da mau pá. Tudo o mais são as minudências que Eduardo Catroga tão eloquentemente verbalizou no que, provavelmente, foi o único discurso político de percepção universal entre o variado eleitorado nacional.", Mário Crespo, esta semana no Expresso.

a carne é fraca

Mr Strauss-Kahn, a prominent French Socialist politician who was expected to challenge Nicolas Sarkozy for the country's presidency next year, allegedly attacked the 32-year-old maid in his room at the Sofitel, near Times Square.
The 62-year-old is said to have emerged naked from his bathroom and forced himself on the woman, who had entered to clean his room at about 1pm on Saturday. He then "attempted to sexually assault her", Paul Browne, a New York Police Department spokesman, said on Saturday night.
Unconfirmed reports alleged that Mr Strauss-Kahn had forced the maid to perform oral sex on him, before she left the room and alerted colleagues, who called 911. Mr Strauss-Kahn then departed for JFK airport, leaving his mobile phone in the hotel room.

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Num país católico esta história não tem qualquer relevância. Um senhor de responsabilidade deita a luva a uma sopeira para esta lhe fazer um broche. Num momento, digamos, de fraqueza... o diabo tece-as.
Se a sopeira se fosse queixar levava logo um par de tabefes nas trombas. Se fosse para tribunal, o senhor seria perdoado por não ter usado violência física. "Apenas lhe tinha segurado na cabeça...", diriam.
Por fim, o tal senhor iria confessar-se a um bispo, ou a um monsenhor, que o absolveria.
- Meu filho, essa puta foi o diabo que te apareceu e já sabes que a carne é fraca. Para a próxima deves viajar com a tua mulher!
- Padre, não sei o que me passou pela cabeça...
- Não te preocupes filho. A Igreja não nasceu ontem, nós conhecemos bem as fraqueza humanas. Abre o teu coração e conta-me tudo o que se passou, não omitas nenhum detalhe...

uma falta imperdoável




Um hotel desta categoria não deveria ter "escort service" 24h /dia, para qualquer emergência? Andamos a pagar 3.000,00 € /dia para as estadias do Presidente do FMI, em N.Y., e o pobre homem é obrigado a passar a noite "em claro"...

Fónix

Não andará aqui mãozinha do Sarkozy?

14 maio 2011

O regime corporativo

Tendo concluído no post anterior que o modelo de concorrência do liberalismo, que é um modelo de concorrência masculino, não consegue vingar nos países de características femininas, como Portugal, qual é, então, o modelo de concorrência adequado a estes países?Proponho-me chegar à resposta de uma forma gradual, através de quatro observações principais.

A primeira é que o modelo concorrencial do liberalismo é um modelo darwiniano, um modelo onde sobrevivem apenas os melhores, e os piores são eliminados. Ora, o darwinismo, entre todas as doutrinas sociais, é, talvez, a mais radicalmente masculina, e à qual o espírto feminino é radicalmente avesso. Na realidade, os principais darwinistas são invariavelmente homens e não é fácil recordar um só nome de mulher entre os principais defensores da doutrina de Darwin. Uma mulher não pode nunca aceitar que num processo social ou biológico haja pessoas eliminadas, porque esse pode ser o destino dos seus próprios filhos. O espírito de uma mulher está orientado para dar vida e a fazer florescer, não para a eliminar. Por isso, a primeira condição para um regime concorrencial adaptado à personalidade feminina é que ele não elimine ninguém, que haja lugar para todos, que ninguém seja deixado para trás.

A segunda observação já foi tocada brevemente no meu post anterior. Respeita à vaidade, uma característica primariamente feminina, e que está associada à inveja. Uma mulher, muito mais do que um homem, não aceita que a façam parecer mal em público, sobretudo perante outras mulheres. O sentimento do parece mal , tão prevalecente na sociedade portuguesa, é, em primeiro lugar um sentimento feminino e transmitido às crianças pelas mães, não pelos pais. A iminência de parecer mal perante outros desencadeia na mulher a sua mais temível arma - a má-língua -, que é a forma de nivelar por baixo aquilo que ela não consegue nivelar por cima. Por isso, um sistema de concorrência adequado a uma sociedade de características femininas há-de ser um sistema em que todos os concorrentes parecem igualmente bem ou todos parecem igualmente mal, mas que não pode tolerar discriminações a este respeito.

A terceira observação concerne a liberdade de entrada que é uma característica dos regimes de concorrência masculinos. O espírito de uma mulher é radicalmente oposto a dar liberdade de entrada a todos, a dizer Sim a todos aqueles que queiram entrar. A palavra mais importante e mais presente no espírito de uma mulher é Não. Uma mulher sabe perfeitamente que, a prazo, a sua vida se tornaria miserável se respondesse Sim a todas as solicitações que lhe fazem na vida. Por isso, o regime concorrencial adequado a uma sociedade feminina não admite liberdade de entrada no sector. As entradas são controladas e concedidas somente após um rigoroso escrutínio dos candidatos.

A quarta observação respeita à informação. No regime concorrencial masculino, que é o regime concorrencial do liberalismo, os concorrentes obtêm a informação por uma via indirecta e abstracta, que é a via do mercado. Porém, a capacidade de abstracção é uma capacidade eminentemente masculina. O espírito de uma mulher não aceita, e a sua inteligência não compreende, que a informação relevante para a condução do seu negócio lhe possa chegar através de um processo impessoal e asbtracto - o processo do mercado. O espírito de uma mulher está radicalmente virado para o concreto e o pessoal, de uma maneira que o espírito de um homem nunca conseguirá igualar. Uma mulher só sente que obteve a informação necessária acerca de uma concorrente depois de a conhecer, de falar com ela e de a observar. Por isso, um regime concorrencial adequado a uma sociedade de características femininas há-de ser um regime em que todos os concorrentes se conhecem, e é desse conhecimento pessoal que todos tiram a informação necessária à condução dos seus respectivos negócios.

Um regime concorrencial onde todos se conhecem; um regime que não permite que nenhum dos concorrentes seja eliminado; um regime fechado e onde a entrada é rigorosamente controlada; e finalmente um regime que não deixa parecer mal em público nenhum dos concorrentes. Este é o regime corporativo. O regime corporativo é o regime de concorrência adequado a uma economia onde as pessoas têm características que são predominantemente femininas.

concorrência

A sociedade liberal de inspiração protestante e anglo-saxónica, como a Inglaterra ou os EUA, assenta criticamente, no seu dinamismo económico, no processo da concorrência. Na sua versão estereotipada dos economistas, a concorrência assenta em quatro pressupostos principais: um número grande de produtores independentes; todos os produtores produzindo o mesmo bem (concorrência perfeita) ou sucedâneos próximos (concorrência monopolística); informação razoavelmente perfeita e disponível a custo zero; liberdade de entrada e saída na indústria.

Este modelo de concorrência é, porém, um modelo de concorrência para homens, e por isso perfeitamente adaptável às sociedades masculinas dos países protestantes. É assim que os homens concorrem. Mas não é assim que as mulheres concorrem umas com as outras, e por isso este modelo de concorrência nunca produz os mesmos resultados quando praticado numa sociedade de características femininas, como é Portugal.

Na realidade, no modelo concorrencial anglo-saxónico imaginam-se muitos produtores, cada um exclusivamente preocupado com o seu negócio, e muito pouco ou nada com o dos concorrentes. A informação de que ele necessita para gerir o seu negócio chega-lhe sempre por via indirecta, através dos consumidores, e não por observação directa daquilo que se passa no negócio do seu concorrente. O mercado funciona como um processo impessoal de informação. É porque os consumidores lhe dizem que pelo seu produto existe quem no mercado ofereça mais barato ou, pelo mesmo preço, um produto de melhor qualidade, que cada produtor é despertado para uma nova tecnologia de produção, um novo método de gestão dos recursos, ou qualquer outra inovação que lhe permite a ele, e a todos, tornar-se mais eficiente. Neste sistema de concorrência, triunfa o mérito, os produtores que conseguem obter lucros supra-normais são os inovadores, ao passo que os outros limitam-se a trabalhar para sobreviver, recebendo apenas o chamado lucro normal, o mínimo necessário para os manter no negócio.

As mulheres não concorrem assim. As mulheres não obtêm a informação concorrencial necessária à condução do negócio por via indirecta e abstracta. Obtêm-na por via directa, mirando-se umas às outras, e as reputações controem-se destroem-se pelas palavras, pelo elogio e pela má-língua. A concorrência num país de características femininas exerce-se com cada um dos concorrentes a procurar saber, em primeiro lugar, aquilo que se passa no negócio dos outros e, em segundo, a lançar suspeições sobre o negócio do vizinho. Ao contrário daquilo que se passa entre homens, em que a concorrência é um processo construtivo e onde triunfa o mérito, entre mulheres é um processo destrutivo e onde triunfa o elogio e a má-língua, sob a forma da suspeição e da calúnia. Uma mulher não aceita ser preterida, não aceita que outra pareça melhor do que ela.

Olha, Portugália ...




A história da Portugália nos últimos 25 anos é a história de uma rapariga da aldeia, nascida à beira-mar, e que se casou com um homem do norte da Europa - um alemão -, cosmopolita e rico. Conheceram-se quando ele passou férias lá na praia. Ela era bonita e morena, a pele tisnada pelo sol.

Casaram com separação de bens, por imposição dela, embora ela não tivesse nada. Ele deu-lhe aquilo que ela precisava - cosmopolitismo e dinheiro. Ela passou a viajar por todas as capitais da Europa e a comprar tudo do melhor - vestidos, sapatos, automóveis, jóias, criados e chauffeurs.

Ele continuou a trabalhar na Alemanha e só vinha a casa de férias e em períodos ocasionais. Mandava-lhe o dinheiro de lá. Ela permaneceu na aldeia, numa grande casa comprada por ele, muito bem decorada, rodeada de muitos criados. Ele até lhe deu dinheiro para ela construír estradas e pontes lá na aldeia. Ultimamente ela estava mesmo a pensar mandar construír um aeroporto.

Todo o dinheiro que ele lhe mandava, ela gastava. Quando vinha de férias, e, às vezes, aos fins-de-semana, a sua cultura luterana e poupada fazia-lhe sentir que tudo aquilo era um exagero e um desperdício. Mas ele lá foi aguentando.

A certa altura, a mesada que ele lhe mandava já não chegava para as despesas. Ele recusou aumentar-lhe mais uma vez a mesada, mas ela convenceu-o a emprestar-lhe dinheiro, um tanto ao mês. Era para umas obras lá na aldeia que tinham um retorno esperado extraordinário, explicou ela. E assim foi. Só que o dinheiro foi sendo gasto, o dado e o emprestado, e nenhum retorno saía alguma vez dali. Era puro consumismo e desperdício.

Até ao dia em que ele viajou expressamente da Alemanha para pôr as coisas na ordem, talvez um pouco tarde de mais, e quando as coisas já estavam fora do controlo. Tirou-lhe os livros de cheques, rasgou-lhe os cartões de crédito, pediu-lhe a lista das despesas dos últimos meses, e disse-lhe: "Olha, a partir de agora, não gastas nem mais um tostão sem a minha autorização. Vestidos, só um de três em três meses e já é um luxo. Sapatos, a mesma coisa. Jóias, já tens as suficientes para o resto da tua vida. Despedes todos os criados imediatamente, excepto a Maria, e tens muita sorte porque lá no meu país ninguém tem criados. Só vais ao cabeleireiro uma vez por mês, as outras arranjas o cabelo em casa. Todo o dinheiro que ganho vai agora para pagar as tuas dívidas e só sobra para a casa e a comida. Nem mais um tostão mal gasto!".

E regressou à Alemanha, zangado. Ela ficou chorosa e triste na aldeia. Queixou-se à amiga Grécia, que também tinha casado com um alemão e estava nas mesmas circunstância. Que o marido era um bruto, cheio de dinheiro, e que ela agora nem sequer podia comprar uma blusa nova, nem ter criados. Não tinha dinheiro nem sequer para comprar um frasco de verniz. A culpa era dele, porque ela estava ali na aldeia à beira-mar muito sossegada e ele é que a foi desencaminhar. Ela nem queria casar, ele é que insistiu. Mas foi ela que impôs condições, só com separação de bens.

"Olha, Portugália, fazes como eu - disse-lhe a amiga Grécia. Ameaças saír de casa e vais ver que ele vem logo a correr para te dar mais dinheiro". A Portugália, achou boa a ideia, nada como uma pequena chantagem para vergar um homem. E foi, então, que pela primeira vez na vida que lhe ocorreu ao espírito uma questão de longo prazo: o que fazer no dia em que o marido estivesse arruinado e sem mais dinheiro para lhe dar? "Olha, filha, não tem nada que saber - respondeu a amiga Grécia. Põe-lo fora de casa, mudas as fechaduras à porta, e casas outra vez com o teu amigo inglês. Não foi ele que te sustentou por mais de um século, quando tu também andavas permanentemente falida, até te aparecer o Salazar?

a amplitude do espírito



Uma das principais diferenças entre uma mulher e um homem reside na amplitude do seu espírito. Uma mulher tem um espírito muito mais amplo do que um homem, consegue aperceber-se de muito mais coisas ao mesmo tempo do que um homem alguma vez será capaz. O espírito de uma mulher é como um radar com um campo de acção muito mais vasto do que o espírito de um homem, o qual é muito mais focalizado. O espírito de uma mulher é como um pêndulo que oscila entre os seus dois extremos, apenas limitados pela força da gravidade. Pelo contrário, o espírito de um homem parece-se mais com um pêndulo numa posição fixa, ou com uma pequena margem de variabilidade para cada lado.

Uma mulher pode ser ignorante, como um homem, mas nunca é burra como ele, porque o seu espírito amplo, ao contrário do espírito masculino, contém recursos que lhe permitem encontrar soluções para os mais difíceis problemas. A figura do burro, aquele que tem o espírito concentrado no erro, ao ponto da obsessão, que não vê mais nada, como se tivesse talas nos olhos, é uma figura distintamente masculina. A capacidade do desenrascanço - que é a capacidade para encontrar soluções rápidas a imaginativas para problemas urgentes -, que é uma capacidade reconhecidamente portuguesa, é, em primeiro lugar - e ao contrário das aparências - uma capacidade feminina. Um homem desenrasca uma avaria no automóvel ou um corte na luz eléctrica, mas estas são necessidades secundárias. O verdadeiro desenrascanço é o da mulher que não tem nada em casa, nem dinheiro no bolso, e precisa de dar de comer aos filhos. E esta é uma capacidade feminina porque os filhos pedem comida à mãe, nunca a pedem ao pai.

É a amplitude do espírito feminino que confere a Portugal a sua grande amplitude ou variância em termos da distribuição das características e valores pessoais - religiosidade, honestidade, responsabilidade, etc. - e que impede que a sociedade portuguesa possa ser definida de uma maneira válida de uma vez por todas. A sociedade portuguesa pode oscilar entre os dois extremos do pêndulo, com uma amplitude semelhante ao espírito de uma mulher. Pelo contrário, uma sociedade protestante permanece estável no tempo, com pequenas oscilações apenas, exactamente como o espírito de um homem.

erro

O principal erro da Troika foi ter deixado ao cuidado dos portugueses a execução das medidas que impôs ao país. Seriam necessários homens de elite para executarem sem desvio aquilo que voluntariamente aceitaram. Mas eles não estão lá. Sendo assim...

realismo vs. idealismo

As ideologias - como o liberalismo e o socialismo - foram uma reacção laica do protestantismo à doutrina católica que durante mais de milénio e meio governou o mundo ocidental. Em que é que as ideologias protestantes se distinguem do pensamento católico, a tal ponto que a compreensão mútua entre, digamos, um finlandês e um português, em muitos aspectos da vida, é praticamente impossível?

Tratarei aqui de um desses aspectos - o do ponto de partida do pensamento ou análise. A ideologia tipicamente começa por pensar a sociedade, imaginar a sociedade ideal, e depois prega ou impõe que as pessoas mudem os seus comportamentos por forma a adaptarem-se a essa sociedade ideal. Assim, no socialismo, a sociedade ideal é uma sociedade onde todos são essencialmente iguais, e os socialistas acabam todos a pregar a igualdade ou a impô-la através do poder coercivo do Estado. Para o liberalismo, a sociedade ideal é aquela onde cada homem é livre de fazer aquilo que quer, sujeito à restricção de não produzir dano aos outros, e o liberais acabam todos a pregar a liberdade, já que ela não se pode impôr.

Muito diferente é a abordagem católica. Ela não começa por pensar a sociedade, mas a pessoa humana, pondo a primeira e mais decisiva de todas as questões - o que é um homem (ou uma mulher)? Só depois de responder a esta questão, e apurar cuidadosamente as diferenças entre um homem e uma mulher, o pensamento católico dá o passo seguinte, que é o de pensar a comunidade humana. E o próximo passo não é o de pensar uma grande comunidade humana, como uma nação, mas o de pensar a comunidade humana mais elementar, que é aquela que é constituída por um homem e uma mulher - a família. A partir daqui passa a analisar a comunidade local (freguesia, paróquia), e é por este processo de bottom up que chega à nação e, por fim, a toda a humanidade.

O pensamento católico olha as pessoas - homem e mulher - tais como elas são, e daí uma das suas características principais - o seu realismo. Pelo contrário, as ideologias, no seu processo top down, não aceitam o homem e a mulher tal como eles são, mas procuram modificá-los por forma a que eles sirvam os fins da sociedade ideal. Aquilo que caracteriza o pensamento ideológico é o seu idealismo, e é neste sentido também que todo o pensamento ideológico é construtivista. Ele visa mudar as pessoas de modo a construír uma sociedade ideal.

os socialistas deviam ter vergonha na cara III

"O aumento do desemprego é o preço que temos que pagar pela consolidação orçamental e porque não temos alternativa. A única forma de entrarmos pelo crescimento é pormos as nossas contas públicas em ordem".

Obviamente Sócrates ignorou este princípio durante 6 anos.

11 maio 2011

boas notícias

50% da população portuguesa é completamente imune à retórica, quer seja de Sócrates quer seja de quem for, estou a falar das mulheres.
As mulheres não se deixam ir em cantigas e se vierem a votar no PS será pelas piores razões possíveis: aversão ao risco e medo da mudança. Uma estratégia política ganhadora tem de anular estes receios.

a culpa

Numa sociedade onde prevalecem as características masculinas - como a Alemanha, a Inglaterra ou a Finlândia -, perante uma crise da sociedade, a opinião pública discute em primeiro lugar os factores que a causaram. Foram factores externos (v.g., um choque petrolífero, uma recessão internacional), ou internos? E, neste caso, foi a má condução da política fiscal, da política monetária ou da política cambial? Ou foi má gestão no sector público ou no sector privado, e como se concretizou a má gestão, excesso de pessoal, excesso de crédito, baixa poupança? Etc. Identificados os factores que causaram a crise, discutem-se então as medidas para a corrigir.

É muito diferente a discussão num país de características femininas, como Portugal, a Espanha ou a Itália. Aqui, aquilo que se discute é de quem é a culpa. Esta é uma questão lateral, como é próprio de uma discussão entre mulheres, a qual invariavelmente se desvia da questão central. A questão da culpa não ajuda a identificar a causas da crise, e menos ainda a corrigi-la. É uma questão lateral, meramente adjectiva.

A discussão da culpa poderia, porém, ter ainda algum mérito se fosse possível, numa sociedade feminina, encontrar um culpado. Mas não é, porque as mulheres nunca assumem a culpa. A culpa é sempre do homem. De modo que, numa sociedade feminina, a culpa saltita de pessoa em pessoa, sem nunca encontrar poiso, e acaba por morrer solteira, porque todas as pessoas onde a culpa pousou se comportaram como mulheres.

A assumpção da culpa ou da responsabilidade é uma característica masculina de elite. A civilização cristã nasceu de um acto que não foi culpa da mulher - a gravidez de Maria -, mas do Homem, na figura de Deus. Deus nunca rejeitou esta resposabilidade. Pelo contrário, forneceu provas abundantes de que a assumia por inteiro, a primeira e a mais decisiva na própria gravidez de Maria, que foi um milagre; e depois, em toda a vida de Cristo.

Assumir a responsabilidade e, portanto, a culpa é uma característica de um pequeno número de homens que se dispõem a imitar Deus - a elite. Não é uma característica do povo. E eu estou muito certo que entre os milhares de portugueses que participaram activamente na vida pública nos últimos 25 anos, não vai aparecer um - um que seja - que assuma uma quota-parte da culpa, por mais pequena que seja, pela situação a que o país chegou. A razão é que a população portuguesa - o povo - é, na sua esmagadora maioria uma população que tem o espírito de mulher. Embora metade vista de calças.

ganha ou perde?

União Europeia ganha o mesmo que o FMI no empréstimo a Portugal.

Eis um título patético para um "Jornal de Negócios". Uma vez que os empréstimos da UE e do FMI são a um juro abaixo do valor de mercado, o título correcto seria: "União Europeia perde o mesmo que o FMI no empréstimo a Portugal".

velho retórico

O Diabo sorriu com certo ar de escárnio e triunfo. Tinha alguma idéia cruel no espírito, algum reparo picante no alforje de memória, qualquer coisa que, nesse breveinstante de eternidade, o fazia crer superior ao próprio Deus. Mas recolheu o riso, e disse:
— Só agora concluí uma observação, começada desde alguns séculos, e é que as virtudes, filhas do céu, são em grande número comparáveis a rainhas, cujo manto de veludo rematasse em franjas de algodão. Ora, eu proponho-me a puxá-las por essa franja, e trazê-las todas para minha igreja; atrás delas virão as de seda pura...
Velho retórico! murmurou o Senhor.


PS: É possível usar a razão para defender qualquer ponto de vista, por mais diabólico que seja.


Texto de Machado de Assis, no conto "A Igreja do Diabo".
Quadro de Botticelli, "A Tentação de Cristo".

a igreja do diabo

A boa nova aos homens
Uma vez na terra, o Diabo não perdeu um minuto. Deu-se pressa em enfiar a cogula
beneditina, como hábito de boa fama, e entrou a espalhar uma doutrina nova e
extraordinária, com uma voz que reboava nas entranhas do século. Ele prometia aos seus
discípulos e fiéis as delícias da terra, todas as glórias, os deleites mais íntimos. Confessava
que era o Diabo; mas confessava-o para retificar a noção que os homens tinham dele e
desmentir as histórias que a seu respeito contavam as velhas beatas.
— Sim, sou o Diabo, repetia ele; não o Diabo das noites sulfúreas, dos contos
soníferos, terror das crianças, mas o Diabo verdadeiro e único, o próprio gênio da natureza,
a que se deu aquele nome para arredá-lo do coração dos homens. Vede-me gentil e airoso.
Sou o vosso verdadeiro pai. Vamos lá: tomai daquele nome, inventado para meu desdouro,
fazei dele um troféu e um lábaro, e eu vos darei tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo...
Era assim que falava, a princípio, para excitar o entusiasmo, espertar os indiferentes,
congregar, em suma, as multidões ao pé de si. E elas vieram; e logo que vieram, o Diabo
passou a definir a doutrina. A doutrina era a que podia ser na boca de um espírito de
negação. Isso quanto à substância, porque, acerca da forma, era umas vezes sutil, outras
cínica e deslavada.
Clamava ele que as virtudes aceitas deviam ser substituídas por outras, que eram as
naturais e legítimas. A soberba, a luxúria, a preguiça foram reabilitadas, e assim também a
avareza, que declarou não ser mais do que a mãe da economia, com a diferença que a mãe
era robusta, e a filha uma esgalgada. A ira tinha a melhor defesa na existência de Homero;
sem o furor de Aquiles, não haveria a Ilíada: "Musa, canta a cólera de Aquiles, filho de
Peleu..." O mesmo disse da gula, que produziu as melhores páginas de Rabelais, e muitos
bons versos de Hissope; virtude tão superior, que ninguém se lembra das batalhas de
Luculo, mas das suas ceias; foi a gula que realmente o fez imortal. Mas, ainda pondo de
lado essas razões de ordem literária ou histórica, para só mostrar o valor intrínseco daquela
virtude, quem negaria que era muito melhor sentir na boca e no ventre os bons manjares,
em grande cópia, do que os maus bocados, ou a saliva do jejum? Pela sua parte o Diabo
prometia substituir a vinha do Senhor, expressão metafórica, pela vinha do Diabo, locução
direta e verdadeira, pois não faltaria nunca aos seus com o fruto das mais belas cepas do
mundo. Quanto à inveja, pregou friamente que era a virtude principal, origem de
propriedades infinitas; virtude preciosa, que chegava a suprir todas as outras, e ao próprio
talento.
As turbas corriam atrás dele entusiasmadas. O Diabo incutia-lhes, a grandes golpes
de eloqüência, toda a nova ordem de coisas, trocando a noção delas, fazendo amar as
perversas e detestar as sãs.


A Igreja do Diabo, Machado de Assis (Texto integral em PDF)

10 maio 2011

Google that!

"PS acusa PSD" - 474.000 resultados
(As acusações são de caixão à cova: irresponsabilidade, ignorância, leviandade, radicalismo, ter duas caras e até de estalinismo).

"PSD acusa PS" - 278.000 resultados
(As acusações são frouxas: distorcer propostas, falta de controlo orçamental, falta de debate, hipocrisia ...).

Sugiro mais algumas pesquisas: "PS acusa CDS", por exemplo, ou até "PSD acusa CDS". Esta última só produziu 5 resultados. Interessante!

Party of Social Destruction

PS acusa PSD de querer destruir serviço público de televisão.

Sócrates acusa o PSD de querer destruir o SNS.

PSD quer usar a crise para destruir Estado social.

acordar para a realidade II

Mais de 14% dos 4,6 milhões de famílias que têm dívidas à banca já estavam em incumprimento em Março. No que respeita às empresas, esse número sobe para 22%, segundo os últimos dados do Banco de Portugal.

A maior parte do incumprimento dos empréstimos pelas famílias junto das instituições de crédito diz respeito a créditos ao consumo (15,7%), enquanto na habitação a percentagem de famílias devedoras com crédito malparado era de 5,5%.


Como aqui escrevi ontem, é urgente o PSD e o CDS apresentarem soluções políticas para esta realidade. Antes das eleições!

09 maio 2011

desperdício



Portugal é uma figura de mulher, e nas circunstâncias actuais, uma figura de mulher desgovernada. É pena que não se chame Portugália - mas é assim que eu a vou tratar - porque o nome reflectiria mais genuinamente a sua natureza feminina. As outras nações católicas da Europa Ocidental - também elas figuras de mulher - têm nomes femininos como a Itália, a Espanha, a Irlanda, ou mesmo a Grécia, cuja cultura ortodoxa é muito próxima da cultura católica.

O paradigma de olhar Portugal como uma figura de mulher é derivado da teologia, segundo a qual a Igreja Católica é uma figura de mulher - Maria -, embora exprimindo-se em caras de homem - os padres. Quando Portugal é governado pela sua elite, a analogia é perfeita porque o povo - a figura feminina - se exprime então através de caras de homem - a elite. Quando em democracia, é o povo que governa, e a Portugália exprime-se então em toda a sua plenitude de mulher, é uma mulher exprimindo-se em caras de mulher - o povo -, e é uma mulher sem homem.

Este paradigma permite compreender, à luz da psicologia feminina, a história de Portugal em regime democrático, a sua situação presente e até antecipar como é que a Portugália se vai comportar nos próximos anos. Neste post pretendo analisar a esta luz, a natureza do desgoverno a que a Portugália chegou. Em que é que se traduz esse desgoverno, o que é que a Portugália fez que a conduziu à situação de insolvência?

Um homem desgovernado gasta dinheiro em excesso com outras pessoas, normalmente com mulheres e vício. Ele esbanja dinheiro. Uma mulher desgovernada faz diferente, gasta dinheiro em excesso consigo própria. Ela desperdiça dinheiro, e foi isso que a Portugália fez ao longo dos últimos anos.

Um mulher desgovernada compra um vestido novo todas as semanas, mesmo se tem cinquenta vestidos no armário, que ela só vestiu uma vez e que não tenciona vestir mais vezes. Faz o mesmo com sapatos, jóias e relógios, ao ponto da cada um destes artigos se converterem em verdadeiras colecções. Ela tem uma casa grande e muito bem decorada, cheia de criados, serventes, jardineiros, e motoristas, a maior parte dos quais perfeitamente dispensáveis. Ela gratifica sumptuosamente todos aqueles que a servem, o cabeleireiro, a menina que lhe lava a cabeça, o rapaz das pizzas e os taxistas que a transportam, que ela já conhece de nome. Também dá liberalmente dinheiro e outros bens aos pobres da vizinhança e aos familiares carenciados. Escusado será dizer que ela não tem rendimento que lhe permita suportar estes excessos.

Os excessos da mulher desgovernada traduzem-se em desperdício, dinheiro gasto em coisas fúteis, que não são necessárias, coisas cuja utilidade não justifica a despesa, às vezes meras réplicas de coisas que ela já tem em abundância, como sapatos, vestidos e jóias, ou em pagar a criadagem absolutamente redundante e desnecessária. É este o comportamento da mulher desgovernada, que é invariavelmente uma mulher vaidosa. Imelda Marcos, a mulher do antigo ditador das Filipinas - um país de tradição católica - tinha dois mil pares de sapatos nas arrumações do palácio persidencial quando o seu marido foi deposto.

É este o problema que está na origem da ruína financeira da Portugália - desperdício. Auto-estradas onde não há carros, piscinas públicas à beira-mar, centros culturais vazios em todas as terras, dez ambulâncias de serviço em Ilhavo e outras tantas em Caminha, fundações e observatórios que não servem para nada - excepto, neste último caso, para observar -, entidades reguladoras que não regulam nada, 306 câmaras municipais (uma por cada quadrado de terreno com 17 Km de lado), com os seus presidentes, vice-presidentes, assessores e funcionários, e ainda as suas assembleias municipais, medicamentos e serviços de saúde gratuitos a quem os pode pagar, e por aí adiante. Mas mesmo arruinada, ela continua a sonhar com TGVs e aeroportos perfeitamente dispensáveis, e com a sua próxima viagem de férias. À Lua.

kill the messenger

Ministério Público abre inquérito ao comportamento das agências de rating.

dívidas virtuais

Clientes devem mais de 1,4 mil milhões de euros às operadoras de telecomunicações.

PT - 1.165 M€ - Nº de clientes da rede móvel: 7,05 M
Vodafone - 138 M€ - Nº de clientes da rede móvel: 5,66 M
Optimus - 69,9 M€ - Nº de clientes da rede móvel: 3,26 M

Há qualquer coisa que não bate certo nestes números. Será que existem dívidas do Estado à PT que estão incluídas nesta cifra de 1.165 M€ (quase 0,7% do PIB). Era melhor que os jornalistas fizessem o trabalho de casa.

memorando de desentendimento

Dulce Pássaro acredita que “não é seguir os interesses do país vender os activos do abastecimento de água”.

Ai se fosse o PSD a dizer isto...

trágico-cómico

Colunista do FT: "Não se pode gerir uma união monetária com governantes como Sócrates"
Só os barões do PS é que não entendem.

PSD e CDS devem acordar para a realidade

Nos próximos 2 anos, o desemprego vai passar de 10,5 para 13%. Milhares de empresas vão falir e muitas outras vão simplesmente encerrar. Este quadro negro é inevitável, com PSD ou PS, e seria muito mais negro sem a ajuda da Troika.
Um aspecto que pode ser decisivo na hora de votar, será certamente o modo como os partidos perspectivam lidar com esta situação. Como enquadrar a insolvência das famílias?
É necessário atualizar a legislação sobre esta matéria. Quem não puder pagar as suas dívidas deve responder, em primeiro lugar, com todo o seu património, mas, feitas as contas, deve ter a oportunidade de começar de novo. Sem penhoras de rendimentos futuros que transformem o cidadão num escravo.
O caso das hipotecas para compra de habitação, por exemplo, tem de ficar resolvido com a entrega da casa ao banco.
A economia portuguesa não poderia suportar centenas de milhares de pessoas impedidas, por via judicial, de refazerem as suas vidas.
O PSD e o CDS, por terem estado na oposição, são os partidos mais bem posicionados para apadrinhar uma verdadeira reforma do processo de insolvências pessoais e familiares. O que primeiro apresentar propostas para resolver este problema terá muito a beneficiar.

frases a evitar

Este programa vai muito além do memorando de entendimento.

Este programa aprofunda o memorando de entendimento.

Substituir por:

Este programa tem mais potencial do que o memorando de entendimento.

Este programa é mais justo do que o memorando de entendimento.

O PSD tem pouco dias para afinar a sua narrativa.

08 maio 2011

programa do PSD

Síntese:
"Vamos governar melhor do que o PS".
...
Propósitos e linhas orientadoras do programa eleitoral do PSD, para 5/6/2011

Sim ..., não ..., sim ..., não ...

A maior parte das medidas que a Troika veio impôr a Portugal são medidas óbvias de uma sã governação, e que estavam à vista de todos há muito anos. São medidas que se destinam a corrigir excessos e abusos, exageros de toda a ordem em diferentes áreas da governação. Assim, no que respeita à saúde, logo que as medidas foram conhecidas, o Joaquim veio aqui ao blogue dizer que ele já as tinha identificado há muito como sendo prioritárias e urgentes.

Mas, então, porque é que essas medidas nunca foram tomadas? Porque é o povo quem governa o país e o povo é incapaz de decidir. O povo acha que a saúde deve ser gratuita e ao mesmo tempo acha que o défice orçamental tem de ser reduzido; o povo acha que os subsídios de desemprego devem ser generosos e prolongados e ao mesmo tempo que a despesa do Estado deve ser reduzida; o povo considera que as leis do trabalho devem proteger generosamente os trabalhadores e ao mesmo tempo que as empresas devem ser competitivas; o povo quer ter o TGV e o aeroporto, mas não quer que aumente o défice das contas públicas. O povo quer sempre o melhor dos dois mundos, o que significa, na prática, que, a prazo, acabará por ter o pior de ambos. Como agora se está a ver.

O povo quer a chuva e o bom tempo e perante a necessidade de decidir por chuva e ficar sem bom tempo, ou por bom tempo e ficar sem chuva, ele fica paralizado. Não decide, fica hesitante, e acaba por deixar tudo na mesma. Aquilo que caracteriza a sociedade portuguesa dos últimos dez a quinze anos é o seu bloqueamento total, não houve crescimento económico, não houve uma única reforma daquelas que precisavam urgentemente de ser feitas. A facilidade com que em três semanas a Troika identificou e impôs as medidas que tinham de ser tomadas é impressionante, e é a prova acabada de que o povo português é radicalmente incompetente para governar o país.

Esta incapacidade para tomar decisões, esta paralisia no momento da decisão, esta ambição de querer o melhor de dois mundos incompatíveis e opostos, é uma característica tipicamente feminina e faz justiça ao carácter feminino do povo português. Quando é chamada a tomar uma decisão importante e que afecta a vida de outras pessoas, uma mulher tipicamente reage hesitante e da mesma maneira: "Sim ..., não ..., sim ..., não....", e no fim fica tudo na mesma.



what if

E se os nossos líderes políticos tivessem assinado o memorando de entendimento com a Troika convencidos de que nada daquilo era para cumprir?

a Troika é ignorante

José Junqueiro, Secretário de Estado da Administração Local, considera que a Troika manifestou ignorância sobre a situação dos municípios portugueses.
Na edição impressa do Público.

PS: Já começou...

a relação com a autoridade

A relação que os portugueses têm com a autoridade é semelhante à relação que têm com Deus, que é a autoridade suprema. A primeira característica desta relação é que há de tudo, é possível encontrar em Portugal pessoas que mantêm com a autoridade todos os graus ou tonalidades possíveis que esta relação pode revestir. Por isso, talvez seja melhor começar pelos extremos dessa relação, para depois caracterizar a relação normal.

A autoridade é uma valor da elite, e que se encontra de forma paradigmática no clero, acima de todos na figura do Papa. Associado ao valor da autoridade, encontra-se um outro valor que é típico da elite - o sentido da hierarquia. No outro extremo da distribuição, na franja mais baixa do povo, o valor prevalecente é exactamente o seu oposto, a extrema permissividade, com a sua tendência para aplanar todas as diferenças humanas. A grande massa do povo vive no centro da distribuição, dilacerada entre estes dois valores extremos, entre a autoridade e a permissividade, entre a hierarquia e a anarquia.

Quando prevalecem os valores da elite na sociedade, Portugal tem o aspecto de uma sociedade ordenada, diligente, obediente, e todas as suas instituições parecem modelos de organização. Pelo contrário, quando prevalecem os valores do povo, Portugal tem o aspecto de uma sociedade caótica, desordenada, negligente, indisciplinada. No início dos anos 90, uma delegação da Organização Mundial de Saúde veio a Portugal visitar hospitais. No final, um dos membros da delegação comentou: "Os vossos hospitais parece que vivem em clima permanente de guerra civil". Por detrás desta aparência caótica, a realidade, porém, é que os hospitais funcionavam.

Para o português mediano, esta abrangência e variância de valores, este extremisno radical que a sua cultura lhe oferece, por um lado, a autoridade e a hierarquia extremas do clero, pelo outro, a permissividade e a anarquia extremas de certa camada do povo, deixa-o desconcertado, e é a principal responsável pela sua proverbial falta de julgamento, pela sua radical incapacidade para julgar -, talvez o maior defeito de um povo de cultura católica. Ele olha para a Igreja, onde prevalecem ao extremo os valores da autoridade e da hierarquia, e vê que ela funciona. Ele olha para a forma como vivem certas camadas do povo, geralmente as mais baixas, às vezes até certas instituições populares, onde prevalecem ao extremo os valores opostos da permissividade e da anarquia, e vê que elas funcionam também. Então, como decidir, autoridade ou permissividade, hierarquia ou anarquia?

Não decide, fica paralizado. Não sabe como decidir, se pelo valor da autoridade se pelo da permissividade, se pela hierarquia ou pela anarquia. É esta incapacidade de decisão que, de resto, o caracteriza como povo, porque o homem de elite sabe perfeitamente decidir entre valores opostos. O povo vê vantagens e benefícios nos dois sistemas opostos de valores, e não toma partido, sente-se incapaz de escolher, sempre na esperança de poder beneficiar do melhor dos dois mundos - uma esperança que é tipicamente popular, mas que é uma impossibilidade prática.

Sentindo-se incapaz de decidir, o português típico lida com a autoridade de uma forma pragmática, o que geralmente significa interesseira, e portanto dissimulada. Ele valoriza a autoridade se ele próprio fôr a autoridade, ou se a autoridade lhe satisfizer as vontades e os caprichos. Não o fazendo, ele despreza a autoridade, acha que a autoridade não é precisa para nada, e tem razão, porque todos os dias se cruza na rua com pessoas que vivem sem autoridade nenhuma. E conseguem viver, desenrascam-se. Esta relação interesseira entre o português mediano e a autoridade confere à relação um aspecto muito curioso, que é a do respeito aparente. O português é sempre extraordinariamente respeitoso perante a autoridade, porque espera sempre dela um benefício, e certamente que não a adversidade. Mas como é normal na cultura católica, é só aparência. Ele está pronto a desprezar a autoridade no primeiro momento em que ela não lhe satisfaça as vontades e os interesses, e a desenrascar-se na vida à revelia da autoridade, porque é isso que fazem muitos outros portugueses que ele conhece.

"Eu vim aqui, Senhor Secretário de Estado, falar com Vossa Excelência para lhe pedir a subida fineza de me conceder uma licença para ...". À saída, desolado, diz para o amigo que o esperava à porta, ansioso: "Olha, aquele filho da puta, aquele cabrão, diz que a concessão de licenças está suspensa por dois anos..." .



Thorkael

Je veux vivement remercier le blogueur Thorkael par deux excellentes traductions (ici et ici)

07 maio 2011

national debt Euro Zone

dívida e insolvência

... não é o ratio da dívida/PIB que determina a insolvência dos governos, mas a taxa de juro que os credores exigem. As taxas dos títulos do tesouro podem disparar se as expectativas piorarem... intensificando uma crise fiscal e agravando o custo de novas emissões. O resultado é uma espiral fatal de queda da confiança, subida de juros e aumento dos défices. Foi isto que aconteceu à Grécia, à Irlanda e a Portugal, em 2010.
Niall Ferguson, in Civilization