28 fevereiro 2011

fogo cruzado

Esta manhã, numa conferência onde participaram os principais banqueiros, reguladores bancários e o Ministro das Finanças, estalou uma polémica entre Fernando Ulrich - quem mais poderia ser! - e Teixeira dos Santos. Pois parece que este último pediu à banca que aumentasse o capital, a fim de projectar para o exterior uma imagem nacional de solidez institucional, tendo levado como resposta, do primeiro, que aquela opção seria um "erro histórico", sugerindo em alternativa que o Estado tratasse a banca da forma como trata o sector eléctrico (com tarifas e rentabilidades garantidas). Ao mesmo tempo, em paralelo, o Governador do Banco de Portugal sugeriu que os bancos vendessem activos não estratégicos, nomeadamente parte da carteira de crédito que não interessa.
Devo dizer o seguinte: a minha perspectiva aproxima-se daquilo que foi dito pelo Governador, pois, numa conjuntura em que a incerteza regulatória afugenta os investidores dos aumentos de capital dos bancos, a única forma de desalavancar a actividade bancária é precisamente através da redução do balanço por via da contracção da carteira de crédito. Quanto a Teixeira dos Santos, o que disse foi meramente a reprodução das orientações de Basileia III, porém, fê-lo a troco de um argumento que não colhe, ou seja, sugerindo implicitamente que os bancos são responsáveis pela insegurança dos mercados em relação a Portugal. E quanto a Ulrich, o desfecho previsto (o tal "erro histórico") pode muito bem vir a suceder, pois uma contracção do crédito em nada ajudará à recuperação da economia portuguesa, contudo, se houve erro histórico foi ter-se permitido a noção de "too big to fail"...coisa que, não tendo sido tão notória em Portugal, se pretende atenuar através de Basileia III.

desautorizar o regulador

"Os bancos têm de equacionar um processo ordenado de desalavancagem através de uma alienação selectiva de activos, nomeadamente crédito".
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal.

Fernando Ulrich: "Pedir mais capital aos bancos é um erro histórico".

2 notícias 2

Ministro pede maior desendividamento à banca e testes de resistência mais exigentes.

Fernando Ulrich: "Pedir mais capital aos bancos é um erro histórico".

27 fevereiro 2011

a lamuriar


Um dia, no Conselho Científico de uma Universidade, uma colega, mulher experiente e já com muitos anos de profissão, resolveu falar sobre o copianço nos exames. Esteve mais de vinte minutos a lamentar-se que os estudantes copiavam nos exames, que era necessária maior vigilãncia, que a situação não era aceitável, que no estrangeito os estudantes não copiavam, e por aí adiante.

No final, pedi a palavra e disse:

-Se quer que os estudantes portugueses não copiem, como acontece no estrangeiro, então eu proponho que votemos aqui a solução que se adopta no estrangeiro: todo o estudante que fôr apanhado a copiar é expulso da Universidade.

-Ah ... isso não!,

atalhou ela, e foi por ali adiante a discursar acerca da necessidade de reforçar a vigilância (isto é, de fazer dos professores polícias, coisa que não constitui a função deles nem eles foram formados para isso).

Eu cito este episódio frequentemente para ilustrar a minha tese acerca do que é o debate típico sobre um qualquer tema num país de cultura-deolinda. Trata-se de uma lamúria, ou uma série de lamúrias, acerca do estado actual das coisas feitas por pessoas que não têm a mínima intenção de tomar decisões, menos ainda de actuar, com vista a modificar a situação. Pois, caso contrário, como é que elas iam continuar a lamuriar?

o fluxo das ideias

Uma das principais diferenças entre a cultura católica e a cultura protestante diz respeito à direcção do fluxo das ideias entre o povo e os governantes.
Na cultura protestante as ideias são discutidas e elaboradas pelo povo e os governantes são os seus executantes. Daqui resulta a importãncia do debate das ideias na cultura protestante, e da formação da opinião pública. Aos governantes é deixada pouca autonomia, se é que alguma, neste domínio. Eles são supostos executarem a opinião dominante ou maioritária, tal como definida pelo povo. Nesta cultura, os governantes são o espelho do povo. A qualidade de uma sociedade de cultura protestante depende do povo, não dos governantes.
É ao contrário na cultura católica. O povo é o espelho dos governantes. Aqui, as ideias são definidas pelos governantes e o povo segue aquilo que os governantes idealizaram para o país. O povo não possui autonomia intelectual. Olha para os governantes à espera que estes lhe digam o que deve fazer. E actua em conformidade. A qualidade de uma sociedade de cultura católica depende da qualidade dos governantes. Se os governantes forem santos, o povo comporta-se como santo. Se, pelo contrário, os governantes forem de qualidade duvidosa, o povo comporta-se em concordância.

não há carros


Viajar pela maior parte das auto-estradas do país ao fim-de-semana até mete dó. A situação não é muito diferente aos dias de semana, nem na maior parte das estradas nacionais.

Hoje, à hora do almoço, viajei pela A15, entre Santarém e Caldas da Raínha. Na única área de serviço, em Rio Maior, não havia um só carro a abastecer e na cafeteria/restaurante não existia um só cliente.

Daqui a pouco, farei a A17 entre a Marinha Grande e Aveiro, e já sei o que me espera. É bem capaz de ser a melhor auto-estrada do país. Só tem um problema - não há carros.

Birthday gift

Um Intelectual Protestante

O Portugal Contemporâneo acorda todas as manhãs, por volta das sete, com um post do Joaquim. Esta regularidade de relógio suíço deixa antever a cultura protestante do seu autor.

O Joaquim é o típico intelectual protestante em país católico. Ele acredita no poder das ideias, e isso é geralmente sinónimo de um homem que acredita em si próprio. Ele acredita que as ideias podem mudar a vida de um homem e até do mundo. Ora, esta crença é muito ingrata quando a audiência é constituída pela populaça de um país de cultura católica. Para esta, incluindo os seus intelectuais, as ideias pertencem ao mundo do irreal, do imaginário e do entretenimento, e não têm nada a ver com o mundo da realidade.

O Joaquim vence esta dissonância com uma calma e um distanciamento olímpicos. Nunca se deixa envolver pessoalmente na discussão, não tolera que as emoções interfiram com a razão e, quem o observa, imagina-o sempre a sorrir. Ele pisa os mais variados temas no Portugal Contemporâneo, naquilo que parece ser , à maneira protestante, um diálogo directo com Deus, e depois vem transmiti-los à populaça, na esperança de confirmação ou infirmação das suas verdades, que ele não cessa de procurar.

Ele escreve sobre saúde, política, educação, economia, gestão. filosofia, genética, teologia, e sabe-se lá que mais. Ele é um espírito à procura da Verdade. O Joaquim parece escrever de um altar. Escreve com bonomia, com compreensão, e comunica com delicadeza e clareza. Nunca se imagina o Joaquim zangado, mesmo sobre os temas mais polémicos ou sob os comentários mais adversos. Também aqui a sua postura protestante é irrepreensível.

Na realidade, existe só um tema em que o Joaquim deixa fugir o pé para a sua cultura natural, que é católica. Mas sobre esse tema a capa do livro é mais sugestiva do que as palavras que eu pudesse escrever. Puxando pela memória, numa espécie de survey ocasional, eu não consigo recordar uma única leitora do Portugal Contemporâneo que não goste do Joaquim, e várias me têm dito que ele é o melhor de nós todos. E eu não posso concordar mais porque ele é um homem que não agride ninguém, um companheiro extraordinário. Para mim é um prazer partilhar com ele o Portugal Contemporâneo.

P. Arroja
Fev./2011
(Introdução ao livro Notas de um País Submergente, por Joaquim Sá Couto; iniciativa, selecção de textos e organização por Sarah Couto)

Quim, Joa Quim


Happy birthday!

26 fevereiro 2011

governo pimba

Sócrates começou por governar ao sabor dos acontecimentos, sem qualquer visão nem estratégia. Depois continuou a governar ao sabor das notícias, em especial do Jornal da Noite, da MMG. Agora governa ao sabor da música dos Deolinda.
É um governo pimba.

25 fevereiro 2011

com a barba por fazer


A cultura deolinda, como já deixei antever aqui, é um subproduto típico, levado ao exagero, daquilo que tenho frequentemente designado por cultura católica, em oposição à cultura protestante. Deve-se à importância extraordinária que na cultura católica é atribuída à figura de Maria, como intermediária entre o Pai e o Filho, entre Deus e o homem, uma importância que na cultura protestante é nula.

Uma cultura deolinda produz homens efeminados, e a minha questão aqui é a de discutir se é possível a uma cultura assim viver num regime político de democracia. Utilizo a expressão "homens efeminados" sem qualquer conteúdo sexual e menos ainda pejorativo, antes para designar homens que estando sujeitos a uma influência excessivamente forte e prolongada da mãe, possuem na sua personalidade e no seu carácter traços que são marcada e excessivamente femininos. Refiro-me, por exemplo, à prevalência das emoções sobre a razão, ao carácter protector e conservador, à dispersão intelectual ou falta de focalização, à vaidade pessoal e ao gosto pela aparência, à excessiva propensão para falar e discutir em prejuízo da decisão e da acção, ao gosto pelo pormenor em prejuízo do essencial.

A relação entre a cultura-deolinda e a democracia é importante, não apenas para avaliar se é possível ou não uma democarcia duradoura em países de tradição católica, mas também em países muçulmanos, onde agora estalaram uma série de revoltas populares onde alguns vêem o despontar de regimes democráticos. Ao contrário do que a profusão de homens barbudos que aparecem nas imagens da televisão pode fazer sugerir, a cultura muçulmana é uma cultura muito mais deolinda do que a cultura católica, uma cultura onde a influência das mulheres - e, especialmente, das mães - na formação dos homens é consideravelmente maior. (Existe uma relação directa entre a aparência exterior de uma sociedade, medida pela percentagem de homens barbudos, ou com a barba por fazer, e o seu carácter feminino: quanto mais homens barbudos mais feminina ou deolinda é a sociedade)

A democracia, para ser funcionável, exige a formação de consensos ou, pelo menos, de opiniões maioritárias. E é isto que uma cultura predominantemente feminina nunca consegue atingir. Fechem-se dez mulheres numa sala e dê-se-lhes um tema para discussão. Volte-se lá seis horas depois para saber as conclusões. Não existem conclusões, certamente que não no sentido de consenso ou opinião maioritária. Existem dez opiniões diferentes sobre o tema, cada uma baseando-se num detalhe que deixa à margem o cerne ou o essencial da questão. Seria diferente se a experiência fosse feita com homens.

É esta incapacidade para chegar a consensos, motivada pela excessiva concentração no detalhe, em prejuízo do cerne da questão, que está na base da ideia de liberdade católica, que é uma liberdade essencialmente de carácter feminino. Mas é ela também que inviabiliza, a prazo, o funcionamento da democracia nos países católicos (e muçulmanos). A democracia, exigindo consensos ou opiniões maioritárias, está associada a culturas predominantemente masculinas, como são as diferentes culturas protestantes.

Soraia

A Soraia (ou será Soraya?) tirou uma licenciatura em relações internacionais mas não consegue emprego. Sócrates propõe-se requalificá-la.
- Que tal relações... relações... relações sexuais???
O governo pode arranjar-lhe um estágio remunerado no futuro Observatório Nacional de Saúde Sexual.

segundas oportunidades

O governo falhou na qualificação profissional dos jovens portugueses mas propõe-se agora requalificá-los. Sugiro que este novo programa se chame "Segundas Oportunidades".

5 medidas 5

1. Aumenta de 37 mil para 50 mil os estágios profissionais.
2. Os estagiários vão passar a integrar na Segurança Social.
3. Vai ser interdito estágios profissionais não remunerados.
4. Vai haver um programa de requalificação de jovens licenciados de baixa empregabilidade.
5. Vai reforçar as medidas de qualificação das empresas exportadoras através da integração de jovens licenciados, através do InovExport.
Via JN


Penso que o resultado destas medidas vai ser o aumento do desemprego entre os jovens. Em particular, a interdição de estágios profissionais não remunerados é um tiro no pé.



ditadura da estética


De quem são estas elegantes pernas peludinhas? Chiça, mulher sofre!

tribal!

"Em entrevista ao Etv, o administrador financeiro do grupo, Luís Pacheco de Melo, explicou a queda de receitas com a conjuntura económica e com a concorrência de planos tribais", hoje no Diário Económico.

o que nos espera

There is something tragically irrelevant about the elections taking place this weekend in Ireland. In recent months, Ireland has felt less like a country and more like the first acquisition of the Reborn Frankish Empire, after the Central European Bank and the IMF in effect took over day-to-day management of Irish affairs. The effect of this is to so reduce the significance of the general election that it’s more like appointing the staff of a small post office, in which the Taoiseach is actually just a shop steward negotiating tea breaks. The incoming Irish government will be merely administering the country as a satrapy of Brussels and the European Bank.
...
So, just as Irish self-destructiveness was the prelude to Irish independence, so was it also the prelude to the formal end of that self-government, when Irish banks borrowed billions from the world in order to buy and rebuy from one another what they already owned. Budding empires like the European Union have seldom found would-be colonies with such an agreeably suicidal disposition.
...
No matter. Whoever wins the Irish general election — Kenny, probably — will have to doff his cap daily to the neatly suited ECB/IMF inspectors (‘Germans’, as they are generically called) who now cruise Irish government corridors. His glorious prime ministerial duties will largely consist of him licking EU stamps, and asking if the staff can have Saturday afternoon off, bitte. He will also default on the repayments of Irish debt, because it is impossible for Ireland to meet the multi-billion-euro demands of the European banks and bond-holders. No one can rescue Ireland now, save the empire to which it has so abjectly surrendered its soul.


Via Spectator

24 fevereiro 2011

os doentes mentais devem ser tratados com caridade

Auto-intitulava-se de ‘Animal’ e fazia questão de o anunciar nas paredes da cela, onde escrevia frases com as próprias fezes. Carlos Gouveia, 28 anos, passou por oito estabelecimentos prisionais, e em todos deixou marcas.


Caro Ricardo,
Este comportamento é característico de um doente mental. O facto de ser um comportamento raro deve alertar imediatamente para esta possibilidade. Os jornais afirmam que o preso foi examinado por um psiquiatra, do sistema prisional, que não lhe diagnosticou nenhum problema médico. Eu teria pedido uma segunda opinião...

coitadinho

A divulgação, ontem, do video da prisão de Paços de Ferreira causou uma comoção que eu, francamente, não entendo. E não entendo porque não vejo que outra alternativa restava aos serviços prisionais, a fim de disciplinar um indivíduo, auto-intitulado de "O Animal", que teimava em desobedecer à autoridade e cujo historial já o fizera passar por oito estabelecimentos prisionais distintos. Assim, a utilização de uma arma eléctrica, sendo uma medida de último recurso, pareceu-me adequada. Acrescentaria apenas que uma carga de porrada, em cima da descarga eléctrica, também não teria sido mal visto.
Enfim, a sociedade chegou a um ponto tal em que até os presidiários têm mais direitos que deveres. Podem cagar as celas sem ter de as limpar. Podem fazer estragos sem ter de os arranjar. Podem até, imagine-se, jogar Playstation e ter direito a protestar - como vimos há meses em Caxias - se não tiverem a versão mais recente do FIFA. É um espanto. Subverteu-se a lógica de tal forma que, agora, indivíduos como "O Animal", de culpados, passaram a ser umas pobres vítimas. Coitadinhos!

soluções à FMI

O Fundo Monetário Internacional (FMI) sugere a depreciação do dólar para que os Estados Unidos possam acompanhar outros países do mundo a reduzir o défice público e, dessa forma, reequilibrar a economia mundial.


PS: Uma "solução" que prejudicaria as economias da zona euro e que teria como consequência a diminuição da capacidade dos países da UE de reduzirem os seus défices.

23 fevereiro 2011

incompreensível

A Itália, a Grécia, Malta e Chipre consideram que os acontecimentos recentes no mundo árabe podem constituir uma catástrofe para a UE. O secretário de estado do turismo pensa que o resultado pode ser positivo para Portugal.

polémico

aculturação IV

Portugal - Submarino da Classe Trident











EUA - USS Nautilus

aculturação III

Portugal - Madeira












EUA - Alasca

aculturação II

Portugal - Praia de Vagos















EUA - Série televisiva Baywatch.

aculturação

Portugal - Paços de Ferreira













EUA

nunca viram o mar

Direita radical, neocons e neoliberais opõem-se a projecto que visa levar a praia a Mangualde, onde (garante o Presidente???) há idosos, doentes e crianças que nunca viram o mar.

bombardeamento fiscal

O bombardeamento fiscal não constituirá uma violação dos direitos humanos?

PS: Correcção do défice , em 2011, provirá em 94,2% do aumento da receita e em 5,8% da diminuição da despesa (artigo de Paulo Trigo Pereira no Público de hoje).

PREC

Segundo entendi, está em curso um Processo Revolucionário n' "O Expresso". Na edição do fim de semana passado, vários colunistas deram conta de que a sua colaboração terminava naquele preciso momento. Refiro-me, concretamente, à dupla João Duque e António de Almeida e, também, a Inês Pedrosa (na revista Única, artigos que eu apreciava especialmente), a Ruben de Carvalho e, quiçá, a Miguel Sousa Tavares cuja habitual crónica não apareceu. De resto, nos casos de Inês Pedrosa e Ruben de Carvalho, notou-se, nos seus artigos de despedida, que a decisão da direcção do jornal, porventura, não terá sido bem comunicada e, certamente, não foi nada bem recebida...
Enfim, nas circunstâncias certas, as renovações são necessárias e bem-vindas; noutras não. Aguardemos, portanto, pelas caras novas.

This is Africa

Lésbicas curadas com violações correctivas.

demasiado bom para a populaça

Os portugueses não estão à altura do SNS, afirma a ministra da saúde.
O MS contempla ainda um novo imposto para a saúde.

desaparece

plano inclinado

não pagamos II

Há cada vez mais portuenses que não vão buscar o carro rebocado.

não pagamos

'I won't pay' movement spreads across Greece.

valores ou interesses?

The Prime Minister said that popular uprisings now flaring across the Middle East showed the West had been wrong to back dictators and undemocratic regimes.
He also suggested that historic Western views that Arab nations were socially unsuited to democracy "border on racism." The idea of an "Arab exception" is "wrong and offensive", he said.
Speaking to the Kuwaiti national assembly, Mr Cameron said Britain would back democracy campaigners now seeking greater rights across the Middle East.

Via Telegraph

22 fevereiro 2011

2 notícias 2

As seis maiores instituições financeiras espanholas registaram lucros de 15,09 mil milhões de euros em 2010.

As instituições financeiras espanholas deverão registar, no mínimo, prejuízos de 46 mil milhões de euros.

Execução orçamental de Janeiro 2011

O Boletim de Execução Orçamental da Direcção Geral do Orçamento (DGO), referente a Janeiro deste ano, foi finalmente divulgado na íntegra, depois de ter sido publicado aos bochechos nas páginas do Expresso no passado fim de semana num registo que apenas serviu para lançar a confusão (eu próprio, habituado a analisar este documento, não percebi nada do que veio escrito no Expresso...).
E que balanço faz este vosso escriba do mais recente relatório da DGO? Que as metas de redução do défice estão a ser atingidas, à custa de uma extraordinária pressão fiscal, que, de tão extraordinária que é, corre o risco de se revelar insustentável nos próximos meses. Assim, os números a reter são os seguintes: a) em Janeiro, as receitas fiscais cresceram 15,1% face ao mesmo período de 2010, comparado com um crescimento previsto de 6%; b) a despesa primária cresceu 0,4%, quando, de acordo com o Orçamento aprovado para este ano, deveria estar a ser reduzida em 3,7% e; c) não obstante aquele aumento na despesa, a galopante receita fiscal permitiu reduzir os vários saldos (global, corrente e primária) do sub-sector Estado, conforme ambicionado.
Enfim, a incapacidade de o Estado reduzir a sua despesa é notória. E é curioso observar que, ao contrário do que se esperava, uma das componentes que mais contribuiu para o acréscimo de gastos foram as Despesas com Pessoal, não porque os salários tenham aumentado (na realidade, foram reduzidos em 2,6%, apesar de tudo, ainda aquém dos 5% estipulados), mas porque os descontos para a Segurança Social aumentaram significativamente. Ou seja, o exemplo anterior mostra, também, o colete de forças em que o Estado (social) se aprisionou, em que para resolver um problema (o défice na Segurança Social, onde, por sua vez, as despesas aumentaram quase 5%) deixa outro por resolver (a necessidade de reduzir nas Despesas com pessoal do Estado). Devemos criticar, porém, temos também de admitir que a vida do Ministro das Finanças está longe de ser fácil...
Por fim, os impostos e a sua mais do que provável insustentabilidade. Ao contrário do que sucedeu no ano passado, período durante o qual o IVA foi o principal motor da arrecadação fiscal, neste último mês de Janeiro não foi isso que sucedeu. Na verdade, o crescimento na receita de IVA foi de apenas 6,6%, bem inferior à média global de 15,1%. Perguntarão os leitores: de onde veio então a receita adicional? Dos dividendos das empresas cuja tributação foi antecipada para Dezembro e das taxas associadas ao perdão fiscal que, no final de 2010, o Governo promoveu junto de quem tinha contas "offshore" (o chamado RERT). Tanto num caso como no outro, foram soluções não recorrentes. Portanto, ou o Estado começa a cortar a eito ou, muito em breve, correremos o sério risco de ficarmos sem financiamento que, apesar de tudo, ainda mantém a máquina em funcionamento. Estamos, enfim, entre a espada e a parede.
Ps: Como diz o ditado, velhos hábitos custam a morrer, por isso não surpreende que a Assembleia da República tenha regressado à lista de "Organismos em incumprimento na prestação de informação" (página 13)...onde tem a companhia da ACIDI-IP Gestor do Programa Escolhas, da Administração da Região Hidrográfica do Norte, da Agência Nacional para a Qualificação, da Autoridade da Concorrência (!), da Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa, da Escola Portuguesa de Dili, da Faculdade de Medicina Veterinária, do Fundo para a Conservação da Natureza e da Biodiversidade, do Hospital de Pombal, do Hospital de Águeda, do Hospital de Valongo, da ICP-ANACOM, do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial e da UMIC - Agência para a Sociedade do Conhecimento.

sangue nas mãos

Ontem, à noite, parei diante do televisor, alternando furiosamente entre a CNN, a Sky e a BBC na ânsia de melhor entender os acontecimentos na Líbia. Acabei por me retirar ainda antes do discurso de Kadafi que, apesar de anunciado como iminente, nunca mais chegava. Esta manhã a primeira coisa que fiz foi confirmar se tinha havido discurso ou não e em que é que tinha consistido. E o que é que vi? Vi uma imagem televisiva, uns breves segundos, em que se vislumbra um ridículo Kadafi, abrigado debaixo de um guarda chuva no interior de um veículo, balbuciando qualquer coisa que um tradutor, dobrando em directo, resumiu na seguinte afirmação: "Estou em Tripoli, não na Venezuela".
Enfim, por entre relatos que dão conta de aviões militares a disparar indiscriminadamente sobre a população, o tirano ainda resiste. De todas as revoluções de Jasmim esta é aquela que mais me está a incomodar. Por uma simples razão: está, estava, sempre esteve, à vista de todos, a verdadeira natureza de Kadafi. É um crápula. Um crápula que, nos últimos anos, o Ocidente, mergulhado nos interesses da real politik, recuperou para a cena internacional, apesar de todo o seu historial terrorista de décadas passadas. Resumindo, o Ocidente é co-responsável pelo genocídio que, a esta hora, decorre na Líbia. E todos os governantes ocidentais que, recentemente, cumprimentaram e receberam aquele sanguinário têm agora, eles próprios, sangue a escorrer nas suas mãos. Esta é a recompensa de certa diplomacia económica.

o colapso do socialismo






















As revoluções em curso nos países árabes são contra o socialismo. Portugal, uma singularidade no mundo ocidental (aquele pontinho verde..) não tardará também a "seguir o mesmo caminho".

os nossos valores

Ontem, num programa televisivo, um especialista em política internacional explicava que os países ocidentais têm de escolher entre os seus valores e os seus interesses. É a realpolitik, disse.
Esta afirmação parece sábia, contudo, ignora outra realidade, a de que no longo prazo o nosso maior interesse é a defesa dos nossos valores.
Os países ocidentais podem ver utilidade em apoiar um SOB (filho da dita) amigo, mas não é sensato fazerem-no durante décadas seguidas, perante o sofrimento de milhões de seres humanos.
O resultado da realpolitik continuada está à vista nos países árabes.

fatwa

"Que alguém do Exército líbio que possa disparar sobre Muammar Kadhafi, para a Líbia se desembaraçar dele, que o faça".
Yussef Al-Qardaui

Eis uma recomendação perfeitamente sensata que qualquer cristão subscreveria.

incompetentes

Despesa do Estado aumenta quase 1% em Janeiro.

21 fevereiro 2011

uma cultura de deolindas

Pode uma cultura de deolindas - isto é uma cultura de pessoas que vivem até muito tardiamente em casa dos pais - produzir uma sociedade liberal, no sentido anglo-saxónico do termo, uma espécie de Inglaterra ou EUA?
Não, não pode. A família é uma instituição profundamente anti-liberal e quando as pessoas vivem maciçamente até à meia-idade (às vezes mais) no seio desta instituição, não vão mais conseguir reformar-se.
Primeiro, a família governa-se autoritariamente, e não segundo o valor liberal da democracia.
Segundo, a família está construída sobre o valor da complementaridade entre as pessoas (homem e mulher), e não segundo o valor liberal da competitividade entre elas.
Terceiro, a família é a instituição por excelência onde se pratica o altruísmo, exactamente o oposto do valor liberal do interesse-próprio ou do egoísmo.
Quarto, a família é uma instituição de protecção pessoal e, portanto, conservadora, contrariamente ao valor liberal da propensão pelo risco e pela inovação.
Quinto, a família assenta na dependência pessoal, que é contrária ao valor liberal da auto-suficiência ou da independência pessoal.
Sexto, a família visa realizar o bem comum dos seus membros, ao contrário do valor liberal da realização do bem individual.
Sétimo, a família regula-se por decisões pessoais, e não pelo valor liberal da Lei (The Rule of Law).
Oitavo, a família é uma instituição de redistribuição económica entre os seus membros, contariamente ao valor liberal da compensação pelo mérito.
Nono, a família é uma comunidade fechada, em oposição ao valor liberal da sociedade aberta.
Uma cultura de deolindas nunca produzirá uma sociedade liberal. Pelo contrário, produzirá uma sociedade muito anti-liberal.

estudar não compensa?

Tenho, em relação à famosa música dos Deolinda, sentimentos contraditórios. Por um lado, a ideia que a canção transmite, ou seja, que "estudar não compensa", parece-me absurda. Não só a taxa de desemprego entre os licenciados é mais baixa que a taxa média global (considerando já os licenciados que ainda não ingressaram no mercado de trabalho), como também existe muita evidência de que a progressão salarial dos licenciados tende a ser muito superior à dos que não possuem formação superior. Mas, por outro lado, pelo que vou observando, creio que o ganho marginal, em matéria de empregabilidade, associado aos diferentes graus de formação superior tende a ser menor. Ou seja, o valor acrescentado concedido por certas licenciaturas e, também, por certos programas pós-graduados é hoje altamente questionável, conduzindo à percepção, incorrecta, de que "estudar não compensa". Neste capítulo, reconheço alguma justiça à canção. Porém, tal não invalida que o problema esteja no "estudar". Não, o problema é outro e reside essencialmente na falta de qualidade e na inutilidade de certo "estudar", que, ao não ser reconhecido por quem emprega, cria a ilusão, nos que procuram emprego, de que não vale a pena perder tempo com os estudos.

terrorista

A revolução de Jasmim alastrou-se agora à Líbia do Coronel Kadafi, aquele que, depois de décadas como terrorista, renasceu das cinzas há meia dúzia de anos como grande e legítimo estadista internacional. Infelizmente, parece que a veia terrorista regressou, como é disso exemplo a repressão bárbara dos protestos populares registados em Benghazi. A imprensa internacional e as organizações humanitárias falam num milhar de feridos e em centenas de mortos, assassinados, à bala e até através de morteiros, pelas forças de segurança daquela caricata figura que, sempre que se desloca ao estrangeiro - como sucedeu da última vez que esteve em Lisboa -, exige instalar-se em tendas majestaticamente preparadas para sua excelência.
Enfim, o que está a acontecer na Líbia é a prova provada de que não se negoceia com gente desta estirpe. Gente assim não merece qualquer redenção. Nem qualquer benefício da dúvida. Um terrorista será sempre um terrorista.

educa Deolindas

Tenho uma filha de 20 anos que estuda em Londres, desde os 18. Logo no primeiro ano, ao regressar a casa para as férias do Natal, disse-me que, quando voltasse a Londres em Janeiro, iria arranjar um emprego a part-time. Perguntei-lhe porquê.
Ela explicou-me que as colegas inglesas da Universidade a criticavam constantemente por ela viver à custa dos pais, ao passo que elas, com a mesma idade, já tinham saído de casa e eram independentes, custeavam os seus próprios estudos trabalhando em part-time (em restaurantes, caixas de supermercados, armazens, etc.) ou através de empréstimos bancários que pagariam quando terminassem os estudos. A ajuda financeira dos pais, quando existia, era marginal.
Disse à minha filha que conhecia muito bem essa cultura, que, como ela sabia, eu tinha vivido no Canadá, e lá também era assim. Os estudantes saíam de casa cedo, aos 18 anos, no momento em que entravam para a universidade. Normalmente iam estudar para uma universidade localizada em cidade diferente daquela em que vivia a família, e isso era encorajado pela própria família, de modo a torná-los independentes. Trabalhavam em part-time e nas férias, às vezes em bombas de gasolina ou servindo às mesas de restaurantes, e contraíam empréstimos para estudarem. Desde muito cedo, a vida era uma coisa séria para os jovens nesses países. Era uma cultura que encorajava as pessoas a viverem pelos seus próprios meios desde muito jovens, a tornarem-se autónomas. E era uma cultura responsável, porque libertava os pais do fardo de sustentarem os filhos numa idade em que eles ainda podiam gozar alguma coisa da vida.
A nossa cultura era diferente. Os pais sustentavam os filhos até tarde, às vezes a vida inteira. Era uma cultura de meninos-mimados que fomentava a irresponsabilidade e a dependência, e constituía um abuso sobre os pais - e esta devia ser a principal lição que ela devia extraír da questão. Ela que explicasse às colegas que se tratava de uma diferença cultural - embora as probabilidades de entendimento não me parecessem grandes -, mas a minha opinião era a de que ela devia continuar somente a estudar, e abandonar a ideia do emprego a part-time. Cá em casa, a política era de que os pais sustentavam os filhos até eles acabarem o curso. Nem mais um ano. Depois esperavam - mas esperavam seriamente - que eles voassem pelas suas próprias asas. Tinha sido assim com os três irmãos mais velhos, e todos tinham voado, seria assim com ela, que é a mais nova.
Ela propôs-me, então, um compromisso. A Universidade aceitava que, ao 3º ano, os estudantes fizessem, opcionalmente, o chamado "extra-mural year", um ano que contava curricularmente e em que os estudantes trabalhavam com remuneração numa instituição protocolada pela Universidade - um estágio profissional integrado no plano de estudos. O curso passaria a demorar quatro anos, em lugar de três. Aceitei o compromisso e é esse ano que ela está agora a fazer, trabalhando num instituto de investigação farmacológica e recebendo uma remuneração.
O ponto importante desta questão é que não é possível a Portugal competir economicamente com outros países, ou sequer ambicionar uma sociedade liberal - cuja primeira característica é o sentimento de independência dos seus cidadãos - quando, apesar de 25 anos de abertura à Europa, em lugar de educar pessoas independentes, educa Deolindas. E isto é um fenómeno novo, que não vem do tempo do Salazar - que tem as costas largas -, porque no tempo do Salazar todos os rapazes de 2o anos saíam obrigatoriamente de casa dos pais. Iam para a tropa.

bamboccioni

Adivinhe qual é a pátria dos Deolinda.
Lá chamam-se bamboccioni.
Recentemente um ministro desse país propôs uma lei que obrigasse os jovens a abandonar a casa materna aos 18 anos. No entanto, ele próprio admitiu à imprensa que era um Deolinda, que só tinha saído de casa dos pais aos 30 anos - e sem saber fazer uma cama (pudera!).
A solução está aqui.
Surpreendido?

20 fevereiro 2011

maridos-Deolinda

Aquilo que eu mais desejo para as minhas filhas?
Não terem maridos-Deolinda.
(Quase de certeza não vão ter. Não foram educadas para isso)

abaixo


Se eu tivesse um filho de 30 anos a viver em minha casa e ainda dependente de mim e da mãe, atirava-me da ponte abaixo. E deixava um bilhete escrito: "Falhei. Falhei como pai."

És um Deolinda, pá!...



Tenho uma filha de 26 anos que é economista. Há cerca de dois anos e meio antes de se licenciar começou a procurar emprego. Acabou por encontrar em Madrid, na Daimler (Mercedes), o primeiro emprego da sua carreira. Passado ano e meio recebeu uma oferta sedutora de uma multinacional farmacêutica na Suíça. Trabalha agora em Friburgo.

Este fim de semana veio ao Porto visitar a família e os amigos. Da última vez que tinha cá estado foi no Natal. Nessa altura, assim que desembarcou do avião perguntou-me a sorrir que lhe explicasse que história era essa da escassez de açúcar no país. Não havia escassez de açúcar em mais país nenhum, admirou-se ela. Rimos os dois, eu disse-lhe que era uma daquelas histórias recambolescas que faziam parte da cultura portuguesa.

Desta vez, a pergunta foi, ainda com um grande sorriso, e uma gargalhadas sonoras: "Explica-me lá o que é isso dos Deolinda". Eu expliquei-lhe que era uma grupo musical que cantava uma canção lamurienta acerca da geração dela. Ela foi à internet ouvir a canção e riu-se até fartar. Depois, comentou muito portuguêsmente: "Só neste país!..."

Acabei de a ir levar ao aeroporto, de regresso ao trabalho. Pelo caminho contou-me que ontem foi jantar com uns amigos. Conheceu um rapaz da idade dela, que é engenheiro, que durante o jantar não parou de se lamentar sobre a falta de oportunidades de emprego no país, sobre os salários de miséria, etc. Pelo caminho perguntou-lhe porque é que ela não estava a trabalhar na empresa do pai, ao que ela respondeu que se sentia feliz por ter conseguido as coisas por ela própria, e sem a ajuda da família.

Foi a vez de ela perguntar: "E tu, porque é que não procuras emprego no estrangeiro?". Resposta dele: "Ah ... não. Não me imagino a viver fora de Portugal e longe da família..."

"Devias-lhe ter dito: És um Deolinda, pá!...", acrescentei eu.

o inimigo público II

Serviço Nacional de Saúde perdeu 200 médicos de família.

Sugestão: Pulseiras electrónicas para todos os "especialistas em clínica geral".

o inimigo público

Ministério Público recusa acusar Deus.

Título do Público de hoje:

Ministério Público oficializa 48 mortos e não acusa ninguém no temporal da Madeira.

a banca e o futebol II



O BES já tinha o Cristiano Ronaldo e agora o BCP Millenium tem o José Mourinho. Ontem, quando fui ver "O cisne negro" lá tive de gramar a nova publicidade do BCP.
Enquanto o Cristiano Ronaldo é apresentado ao público como um cliente do BES, uma figura "aspiracional" com quem os clientes se podem identificar (ver aqui), Mourinho é apresentado como mais um elemento da equipa de gestão do BCP (ver video incluido neste post). A mensagem é que podem confiar no BCP porque o Mourinho faz parte da equipa.
Creio que nem a populaça engole uma barbaridade destas. Quando muito demonstra que a administração tem falta de auto-confiança e está preocupada com a sua imagem, o que é mau porque devia era estar preocupada com os clientes.

a banca e o futebol

gerontocracia

There is a European country that has many characteristics of the Arab world: a sclerotic economy, a culture worn down by corruption and organised crime, and a growing clash of generations. It is controlled by a gerontocratic ruling class entrenched in politics and business to the exclusion of its youth. Its best and brightest young people roam Europe as economic migrants.

FT

19 fevereiro 2011

ao k chegamos

Venha a ditadura.

Comentador Comendador Berardo

it's alive

SE ESTIVERMOS TODOS UNIDOS, NUM AMBIENTE DE CAMPISMO, SERÁ MUITO MAIS FÁCIL SUPORTAR UMA SEMANA NA RUA À ESPERA QUE TIREM OS ACTUAIS SANGUESSUGAS DO PODER, INVESTIGAR O QUE ELES FIZERAM: SÓCRATES, CAVACO, ARMANDO VARA, PORTAS, MEXIA... quero que sejam muitos deles investigados por ENTIDADES IMPARCIAIS, com ajuda externa quiçá... e que sejamos possibilitados de votar em pessoas novas, diferentes, nada do mesmo de sempre, remodelar partidos no seu "NÚCLEO DURO" (tirar Manuelas, Jardins, Pachecos Pereiras, Assis...os mais incompetentes e trapalhões) e colocar SANGUE NOVO, pessoas que confiamos!..sei que parece utopia, mas não é impossível! ;) FALO DE FESTIVAL NO SENTIDO DE "congregação de pessoas acampadas todas juntas": assim foi no Egipto e assim é nos festivais de Verão. MAS É PARA SER LEVADO A SÉRIO.
Sou anti-anarquias instaladas! DEMOCRACIA SEMPRE!!

No Facebook

mamãe eu quero





A geração parva quer chupeta. Não admira porque andaram a mamar nas "tetas da cabritinha".

locus externo

Somos a geração com o maior nível de formação na história do país.

Grandes parvos! A "geração mais bem preparada do País" quer que sejam os outros a resolver os seus problemas.

18 fevereiro 2011

Gloria in Excelsis Deo et in Murça pax



Portugal está falido, pela glória de Murça.

Festejar oficialmente o dia 8 de Maio – Dia do Município de Murça – é uma forma de honrar a força, a garra, a glória e a vontade de vencer de todos os habitantes do concelho de Murça.
A Câmara Municipal de Murça comemora anualmente esta importante efeméride que imortaliza todos aqueles que ao longo de séculos fizeram o desenvolvimento da nossa terra natal.


Mensagem do Presidente da Câmara de Murça, no site oficial da autarquia.

o pacote está pronto

- O pacote está pronto? ou
- O pacote está pronto!

Não sabemos se Angela Merkel perguntou, ou afirmou, a José Sócrates que tinha chegado o momento final. O que sabemos é que José arrancou para o Portugal profundo (Murça) em plena "campanha eleitoral".

férias ou dinheiro?

Governo avisa que só troca férias por remuneração se houver dinheiro.

Férias extra são uma remuneração em espécie. A diferença entre remunerações em espécie e em dinheiro, sob o ponto de vista da gestão, não é nenhuma, excepto no cérebro do Ministro das Finanças. Como nunca trabalhou no sector privado, Teixeira dos Santos não entende que as férias do pessoal têm custos para a organização.

17 fevereiro 2011

activistas dos direitos dos animais protestam contra Fu Yandong

homeschooling

Here's a story in favor of coercion, Chinese-style. Lulu was about 7, still playing two instruments, and working on a piano piece called "The Little White Donkey" by the French composer Jacques Ibert. The piece is really cute—you can just imagine a little donkey ambling along a country road with its master—but it's also incredibly difficult for young players because the two hands have to keep schizophrenically different rhythms.

Lulu couldn't do it. We worked on it nonstop for a week, drilling each of her hands separately, over and over. But whenever we tried putting the hands together, one always morphed into the other, and everything fell apart. Finally, the day before her lesson, Lulu announced in exasperation that she was giving up and stomped off.

"Get back to the piano now," I ordered.

"You can't make me."

"Oh yes, I can."

Back at the piano, Lulu made me pay. She punched, thrashed and kicked. She grabbed the music score and tore it to shreds. I taped the score back together and encased it in a plastic shield so that it could never be destroyed again. Then I hauled Lulu's dollhouse to the car and told her I'd donate it to the Salvation Army piece by piece if she didn't have "The Little White Donkey" perfect by the next day. When Lulu said, "I thought you were going to the Salvation Army, why are you still here?" I threatened her with no lunch, no dinner, no Christmas or Hanukkah presents, no birthday parties for two, three, four years. When she still kept playing it wrong, I told her she was purposely working herself into a frenzy because she was secretly afraid she couldn't do it. I told her to stop being lazy, cowardly, self-indulgent and pathetic.

Jed took me aside. He told me to stop insulting Lulu—which I wasn't even doing, I was just motivating her—and that he didn't think threatening Lulu was helpful. Also, he said, maybe Lulu really just couldn't do the technique—perhaps she didn't have the coordination yet—had I considered that possibility?

"You just don't believe in her," I accused.

"That's ridiculous," Jed said scornfully. "Of course I do."

"Sophia could play the piece when she was this age."

"But Lulu and Sophia are different people," Jed pointed out.

"Oh no, not this," I said, rolling my eyes. "Everyone is special in their special own way," I mimicked sarcastically. "Even losers are special in their own special way. Well don't worry, you don't have to lift a finger. I'm willing to put in as long as it takes, and I'm happy to be the one hated. And you can be the one they adore because you make them pancakes and take them to Yankees games."

I rolled up my sleeves and went back to Lulu. I used every weapon and tactic I could think of. We worked right through dinner into the night, and I wouldn't let Lulu get up, not for water, not even to go to the bathroom. The house became a war zone, and I lost my voice yelling, but still there seemed to be only negative progress, and even I began to have doubts.

Then, out of the blue, Lulu did it. Her hands suddenly came together—her right and left hands each doing their own imperturbable thing—just like that.

Lulu realized it the same time I did. I held my breath. She tried it tentatively again. Then she played it more confidently and faster, and still the rhythm held. A moment later, she was beaming.

"Mommy, look—it's easy!" After that, she wanted to play the piece over and over and wouldn't leave the piano. That night, she came to sleep in my bed, and we snuggled and hugged, cracking each other up. When she performed "The Little White Donkey" at a recital a few weeks later, parents came up to me and said, "What a perfect piece for Lulu—it's so spunky and so her."

Amy Chua, no WSJ

Recordar o meu post "Não há aletrnativa ao homeshcooling".

governo vai dar aumento a certos funcionários

Funcionários públicos "excelentes" e "relevantes" vão ser aumentados cerca de 2% (é só fazer as contas). Se estes aumentos incidirem sobre os salários mais elevados, lá se vai o efeito do corte de 5%.
PS: Não sei se o título mais correcto não deveria ser a "funcionários certos", em vez de certos funcionários.

the low-hanging fruit

THE GREAT STAGNATION
Mais uma vez recomendo a leitura deste ensaio.

como se está a ver...

Se as economias com grande intervenção do Estado têm tendência a sobrestimar o nível de vida dos cidadãos e se a crise financeira se ficou a dever (em última análise) a uma sobrestimação da riqueza (capacidade de endividamento), então Portugal reunia todas as condições para uma crise financeira mastodôntica.

afinal não éramos assim tão ricos

- Como é que tanta gente se enganou tanto ? (Tyler Cowen, referindo-se à crise financeira).
- Pensávamos que éramos mais ricos do que o que éramos na realidade.

PIB português é enganador

1. Quanto maior é o papel do Estado na economia, mais o PIB per capita sobrevaloriza o nível de vida.

Tyler Cowen, The Great Stagnation

políticas do passado



Tyler Cowen, The Great Stagnation

16 fevereiro 2011

a actualidade do Salazarismo

Salazar permanece, na minha opinião, o único intelectual ou político português da modernidade com um pensamento político original, racional, coerente e realista. Ele possuía uma teoria firme sobre a sociedade portuguesa, e as formas da sua organização social, política e económica - uma teoria realista porque era baseada no estudo e observação das características culturais dos portugueses (entre as quais ele também destacava a sua irreformável falta de julgamento ou sentido de justiça).

Salazar tinha vivido os conflitos ideológicos entre o liberalismo e o socialismo e a ruína a que eles tinham conduzido. Não apenas ruína económica, mas também ruína institucional e também nessa altura a da justiça era a principal. Para caracterizar a situação desta instituição ele referia que nos tempos da República metade dos portugueses estavam ou já tinham estado na prisão, embora na esmagadora maioria dos casos não soubessem porquê.

Salazar rejeitava quer o liberalismo quer o socialismo. E também a democracia de sufrágio universal. Ele não acreditava que da liberdade individual irrestrita resultasse uma ordem social espontânea entre os portugueses, como pretende o liberalismo. E tinha razão. Observe-se uma organização portuguesa em que o chefe entrega o seu funcionamento à livre iniciativa dos seus subordinados, esperando que cada um deles defina objectivos para a sua actividade, as tarefas a executar e depois as execute. Embora existam excepções (Portugal é um país de cultura excepcionalista, e daí derivam alguns dos seus maiores problemas), aquilo que cada subordinado vai fazer é não fazer nada, ficando à espera de ser mandado pelo chefe. Ele fica à espera de ser governado, que lhe indiquem o caminho a seguir e os fins a prosseguir. Caso contrário, ele não faz nada. E, se, por acaso, fizer, vai, quase de certeza, saír asneira - uma asneira que não tem nada que ver com os objectivos ou os fins da organização.

O liberalismo em Portugal, à maneira anglo-saxónica, não funciona, não leva cada homem a prosseguir os fins que se propõe na vida. Não. Deixa todos quietos a olharem uns para os outros, sem saberem o que fazer, e em breve estarão todos voltados uns contra os outros dando razão ao ditado popular de que "casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão". Ao contrário da célebre afirmação atribuída ao imperador romano, os portugueses estão constantemente à espera de serem governados e de alguém que os governe.

Também o socialismo não era adequado à cultura portuguesa, pensava Salazar. Comodistas como são, os portugueses acabariam todos a viver à custa do Estado, dizia ele, e isso seria o caminho certo para a ruína financeira do país. Também aqui ele estava certo. Basta olhar para a realidade actual do país.

Nem a democracia de sufrágio universal o seduzia, pois, segundo ele, não era possível encontrar dois portugueses com a mesma opinião sobre o mesmo assunto, e a democracia funciona por consensos. Entre dois portugueses, as opiniões diferem sempre, nem que seja por um pequeno detalhe, que rapidamente é transformado numa diferença importante (uma consequência do personalismo católico, e do seu excepcionalismo - a opinião de cada um sobre qualquer assunto é única e exclusiva, não existe outra igual).

Ao Estado, segundo Salazar, competia uma função importante, que é a de organizar a sociedade. Os portugueses não se sabem organizar (em parte, porque nunca se entendem, são incapazes de chegar a consensos) e a organização tem que ser ditada de cima. Nesta função, compete ao Estado definir as instituições e as regras do jogo - um jogo que deve ser essencialmente entre privados (indivíduos, empresas, corporações, igrejas) -, e fazer cumprir estritamente essas regras, e depois retirar-se para a posição de árbitro entre os diferentes interesses em confronto.

Levar o Estado a intervir directamente na economia ou na vida social só em última instância, em situação de emergência ou com carácter supletivo ou subsidiário. Nunca como norma, porque um jogador não pode nunca ser um bom árbitro.

Mas que tipo de organização social e económica devia Salazar escolher, qual aquela que melhor se adaptava à cultura dos portugueses. Ouçamo-lo a este propósito:

"Que tipo [de organização] então preferir? Nós estávamos empenhados em encontrar uma fórmula que respondesse às seguintes condições:
a) A organização deveria aliviar o hipertrofiado e monstruoso Estado Moderno, desembaraçando-o de algumas das suas funções, serviços e despesas e defendendo só por esse facto a liberdade individual e as economias privadas;
b) A organização deveria ser decalcada, com prejuízo embora da sua pureza teórica e simetria, sobre a vida real do homem na família, na profissão, na sociedade; e sendo assim, aproveitar o mais possível as formas conhecidas e espontâneas de organização a integrar em plano de conjunto;
c) A organização não deveria dissociar o económico do social, pela razão fundamental de que todos os que de qualquer modo trabalham são solidários na produção e é da produção que todos devem viver;
d) A organização deveria não perder de vista as realidades supra-individuais e que, portanto, só é verdadeiramente útil se conseguir satisfazer os legítimos interesses privados e ao mesmo tempo promover o interesse colectivo.
E foi por estas razões que pretendemos estabelecer entre os vários tipos de organização e de corporativismo a organização corporativa portuguesa"
(Salazar, op. cit., pp. 361-2)

O Carlos Manuel e o Left Bloc!

educação superior

Este post do PA é muito interessante. E fazendo eu parte de uma geração mais jovem, que coincidiu com o período dessa massificação do ensino superior, não deixo de sentir algum desconforto por subscrever o essencial da mensagem do dito post.
A explosão do ensino superior - público e privado - é um fenómeno muito recente. Citando uma publicação da Fundação Francisco Manuel dos Santos, "Portugal: os Números", a escalada no número de diplomados e na percentagem de diplomados em função do número de inscrições, desde há vinte anos, tem sido impressionante. Assim, "o ensino superior privado cresceu muito e rapidamente na década de 90 (passou de cerca de 5000 diplomas, em 1991, para 21 mil, em 1999), incorporando estudantes arredados do sistema. Contudo, desde o início do século, este subsistema estagnou, concedendo cerca de 20 mil diplomas anuais. Já o ensino público superior teve uma carreira menos fulgurante na década de 90: dos 14 mil diplomados em 1991, passou para 30 mil, em 1999. Mas no século XXI o número de diplomados pelo sector público não tem parado de crescer, cifrando-se em 64 mil, em 2008 (...) Já nos politécnicos o número de diplomas concedidos é menor, embora tenha ocorrido um significativo aumento: passaram de 6 mil em 1991 para 36 mil em 2008." (páginas 36 e 37).
Em suma, a progressão foi exponencial. E esmiuçando os números verifica-se ainda que, além do aumento das vagas, as taxas de aprovação aumentaram, também de forma galopante, e que boa parte dos diplomados são-no nas áreas de "Ciências Sociais, Comércio e Direito" e, ainda, de "Educação". Quanto aos cursos mais técnicos, embora registem um crescimento recente, permanecem em minoria. Por fim, é curioso observar como, nos últimos dez anos, o Estado canibalizou o ensino superior privado...
Enfim, se há coisa que hoje, na Educação, eu contesto é esta presença sufocante do Estado no ensino superior. Por exemplo, acho ridículo - e não vejo outra palavra - que o Estado ofereça cursos cuja média de acesso é negativa. E acho indecente que sejam atribuídas bolsas de estudo, para pagar propinas no privado, a quem não teve notas para entrar no público. Aliás, na minha concepção do mundo, a educação superior não deveria sequer ser oferecida por entidades públicas; estas deveriam, em alternativa, oferecer cheques-estudante à primeira metade de melhores alunos saídos dos exames públicos nacionais do ensino secundário - pobres e ricos - que, depois, escolheriam entre as Universidades privadas disponíveis no mercado.
Contudo, assumindo que aquele cenário é demasiado vanguardista (outros chamar-lhe-ão neoliberal!) e aceitando de barato que há que aproveitar a infra-estrutura já instalada, há uma outra alternativa que também me agrada. E consiste no Estado oferecer educação superior, porém, apenas a quem o merece: ou seja, à metade que tendo concorrido à Universidade pública registou melhores notas que a outra metade. E nestas metades (ou quartis ou quaisquer outros percentis, desde que minimamente exigentes), entendo que não devem sequer ser consideradas questões de cariz económico, isto é, não deve existir discriminação positiva associada aos rendimentos do agregado familiar dos alunos concorrentes. Quem não entrasse, que arranjasse forma de pagar, por si próprio, uma alternativa no privado. O critério único seria apenas um, de meritocracia, cabendo ao Estado a definição técnica das vagas a oferecer consoante as necessidades percepcionadas do país (sufragadas nas eleições através do plano eleitoral) e a diferenciação das propinas consoante, agora sim, a situação económica dos alunos escolhidos pelo critério único do mérito. O ensino melhorava, a sua qualidade também, o custo certamente diminuía, acabavam-se as pseudo-licenciaturas e acabava, também, uma certa promiscuidade que invadiu as relações entre o público e o privado, em benefício deste último e em detrimento dos contribuintes.

faria corar de inveja

O sistema de segurança social do Estado Novo era um sistema privado, baseado em organizações privadas da sociedade - as chamadas corporações -, financiado pelos próprios beneficiários e gerido por eles, diferenciado e competitivo. Era um sistema que faria corar de inveja qualquer liberal moderno.
Seis anos após a sua implementação com a Constituição de 1933, era o seguinte o balanço que dele se fazia em 1939:
"A organização corporativa dispõe já de 400 Casas do Povo, com 230.000 sócios e 12.000 contos de rendimento anual, destinados a assistência médica e farmacêutica, a subsídios na doença, no parto, na morte, e quem havia de dizê-lo?, na invalidez, estando já a pagar-se a trabalhadores rurais inválidos - e é o começo - 1.200 contos anuais de subsídios.
Paralelamente as 20 Casas de Pescadores dispõem anulamente de um rendimento que orça por 3.000 contos, destinados aos mesmos fins.
Os acordos colectivos de trabalho e outras convenções protegem a situação de 200.000 operários, e 150.000 além destes beneficiam de salários mínimos fixados superiormente. E isto significa que, deixando de lado trabalhadores rurais e os pescadores, cerca de metade dos empregados e trabalhadores por conta de outrem no comércio e na indústria, se encontram protegidos por disposições contratuais ou por determinação do Governo.
Embora incipiente, o nosso trabalho de casas económicas já nos proporcionou 3.200 moradias, onde se albergam, na expectativa de propriedade familiar definitiva, 11.000 pessoas, subindo a 42.000 contos os seguros de vida dos respectivos beneficiários. E não conto os bairros de algumas câmaras e de várias empresas.
Quanto a instituições de previdência social (muitas vindo do passado), a organização dispõe de 400 instituições, com fundos no valor de 600.000 contos e benefícios distribuídos na importância de 56.000 em cada ano. Estão incluídas nestes globais 12 caixas sindicais de previdência, com 30.000 contos de fundos e 10.000 de contribuições anuais, provenientes de 24.000 beneficiários, e as caixas de reforma e previdência, com 37.000 beneficiários e 22.000 contos de fundos. As caixas sindicais em organização e reorganização, bem como as caixas de reforma ou de previdência no mesmo estado, irão beneficiar mais cerca de 50.000 indivíduos, com 135.000 contos de fundos"
(Salazar, "O Corporativismo e os Trabalhadores", in Discursos 1938-43, vol. 3, pp, 363-64, Coimbra Editora)

outra

Existe um homem neste mundo que já foi chamado mais de duas mil e quinhentas vezes a tribunal e que agora vai ser chamado outra vez.
Se eu não soubesse mais nada, diria que é um crimonoso compulsivo, um perigo público iminente, que está preso, e as suas idas a tribunal são feitas a partir da prisão, ou que anda foragido em qualquer país estrangeiro.
Olhando mais de perto, verifico que ele é o primeiro ministro do país.
A minha conclusão passa a ser outra. A justiça nesse país é uma vergonha, como sucede em todos os países de tradição católica entregues à democracia (ao povo). E nesse país a vergonha é exponenciada porque é o país que é a sede do catolicismo.

Quim Barreiros


Há dias o Joaquim referiu-se ao Quim Barreiros e à sua participação nas festas de estudantes universitários em Portugal. O tom era de surpresa. A mesma surpresa que eu tive quando há meses, depois de ter afirmado que gostaria um dia de assistir a um espectáculo do Quim Barreiros, um jovem licenciado me disse que estava farto de assistir a exibições do Quim Barreiros nas festas da Queima das Fitas. Eu nem podia acreditar: o Quim Barreiros em festas da Queima das Fitas?

A minha surpresa e a do Joaquim têm provavelmente a mesma origem. É que nos nossos tempos de estudantes universitários seria impensável ter o Quim Barreiros numa festa de universitários.

Eu tenho apreço pelo Quim Barreiros - a tal ponto que desejo assistir a um espectáculo dele - porque ele é o genuíno cantor popular português, e o mais castiço, e o povo português tem imensas qualidades. O bigode, o acordeão, a cara estanhada, e o humor brejeiro produzido com o ar mais sério deste mundo fazem do Quim Barreiros uma figura distinta e popularmente portuguesa. Como me referia o jovem licenciado, o Quim Barreiros põe toda a gente a cantar e a dançar, jovens e velhos.

Mas precisamente porque ele é o genuíno cantor popular português, o Quim Barreiros possui todas as qualidades e todos os defeitos do povo português. Referir-me-ei aqui a um defeito, o mais importante de todos, e que é aquele que há 30 ou 40 anos atrás impediria o Quim Barreiros de ser convidado para uma festa de universitários - a sua falta de julgamento, a sua propensão para o exagero, para o excesso e para o abuso.

O humor popular português faz-se normalmente de jogos sobre o sentido das palavras. É feita uma afirmação ou utilizada uma palavra. Essa afirmação ou palavra é depois utilizada num sentido completamente diferente e (quase) legítimo. O humor resulta do choque entre o sentido original da palavra ou da afirmação e da interpretação diferente, e quase legítima, que lhe é dada. A conversa torna-se uma conversa de alhos e bugalhos, uma conversa de surdos. Um exemplo, retirado de um sketch do Herman.

-Então, de onde é que o senhor vem...?, pergunta o entrevistador

-Eu venho de tomar ... , responde o rapazola (interpretado pelo Herman)

-Ah ... Tomar ... bonita cidade ..., interrompe o entrevistador.

-Eu venho de tomar a camioneta de Sacavém ..., continua o rapazola.

Os grandes humoristas portugueses, como o Raul Solnado ou o Herman José, capitalizam sobre os jogos de palavras, verdadeiros mal-entendidos. Quando deixam de o fazer, perdem a graça.

O humor popular português é um humor barato, faz-se de palavras e de jogos de palavras. A brejeirice também faz parte da cultura popular portuguesa, e os temas do Quim Barreiros são invariavelmente brejeiros. Mas, enquanto nas suas primeiras canções, a brejeirice assentava também em jogos sobre o sentido das palavras e das frases, as quais eram produzidas com um sentido, mas deixavam imaginar outro, isto é, enquanto a brejeirice era implícita, de algum modo apelando à imaginação do espectador e deixando que ele tirasse as suas próprias conclusões, era uma brejeirice aceitável. Mas a tendência para o excesso e o abuso, que é típica do povo português, levou o Quim Barreiros a passar a fronteira. Da brejeirice, que é sempre implícita, o Quim Barreiros deu o passo fatal para o domínio do explícito, e tornou as suas canções ordinárias. Canções como "A cabritinha" e "A garagem da vizinha" estão na fronteira, porque ainda deixam alguma margem à imaginação e à ambiguidade de interpretação. Pelo contrário, canções como "Chupa Teresa", "A Adivinha" e "Ela estava com tusa" não deixam nenhuma margem para adivinhar. Está lá tudo de forma explícita. Além de ordinárias, chegam a ser ofensivas.
Por que é que o Quim Barreiros seria vetado numa festa de universitários de há 30 ou 40 anos? Porque, para nós, rapazes, as suas canções seriam consideradas ofensivas para as nossas colegas.

O significado mais importante da participação do Quim Barreiros nas festas de universitários é o da alteração sociológica que se produziu na população universitária. As universidades foram criadas pela Igreja Católica para formar as suas elites. E até há cerca de 40 anos em Portugal, as universidades eram também locais para educar elites, embora os universitários proviessem frequentemente do povo. O primeiro momento de selecção entre aqueles que poderiam vir a fazer parte da elite, e aqueles que iriam permanecer sempre povo, era o do acesso à universidade. Outro momento importante de selecção era a saída com uma licenciatura ou sem ela.

Hoje é o povo que está indiscriminadamente na Universidade. As universidades são hoje instituições para educar o povo, algo que elas nunca foram nem foram criadas para isso. Ora, isto é uma tragédia, quer para a Universidade quer para o povo. O povo vai dar cabo da Universidade, sem nunca conseguir ser educado por ela.

2 notícias 2

1. Portugal recompra 215 milhões de euros de obrigações do Tesouro.


2. Portugal paga juro próximo de 4% por dívida a 12 meses.

Vamos ver se entendemos bem... Portugal utilizou dinheiro emprestado para recomprar dívida e, de seguida, emitir nova dívida, na presunção de que a primeira operação daria "um sinal de força aos mercados" (sic).
Não parece que o efeito obtido é exactamente o contrário do pretendido?
Claro que se uma sociedade anónima procedesse deste modo, o "sinal de força" seria considerado "manipulação dos mercados" e seria ilegal, digo eu.

soberania popular II

O conceito de soberania popular está no cerne da democracia liberal e capitalista que constitui o paradigma do Fim da História. Todo o poder do Estado moderno deriva do consentimento dos cidadãos e tem por principal objectivo garantir os direitos cívicos desses mesmos cidadãos.
A democracia liberal e capitalista é “o governo do povo, pelo povo e para o povo”; o povo é o soberano, com direitos inalienáveis que limitam a esfera da ação legítima do Estado.
Não se compreende, portanto, a afirmação de Alfredo Barroso de que o conceito de soberania popular foi esquecido pelas democracias liberais.
Se alguém se esqueceu de quem é o soberano, numa república, foram os socialistas. Sempre afoitos a construírem sociedades baseadas em princípios que violam os direitos cívicos dos cidadãos.
A igualdade, como princípio democrático, tem um significado profundamente diferente para um libertário e para um socialista. Para o primeiro, a igualdade deve corresponder à igualdade de oportunidades. Para o segundo, deve corresponder à igualdade de facto, um princípio tão avesso à natureza humana que para ser implementado é necessário violar ostensivamente todos os direitos cívicos fundamentais. Ou seja, é necessário trair a confiança do soberano, o povo.
É por isso que todos os regimes socialistas derivam lentamente para o totalitarismo. Como, de resto, estamos a assistir em Portugal.

soberania popular

O "centro do centro" ("juste milieu") é o território propício a todas as renúncias ideológicas e a todas as abdicações políticas, sempre em nome dos superiores interesses do Estado ou da nação, consoante a carapaça em que cada partido político quer enfiar-se.
Mas é grande o prejuízo para a democracia, que é sustentada por quatro pilares resultantes da articulação entre duas tradições diferentes: por um lado, os pilares da liberdade individual e do pluralismo, nos quais assenta a tradição liberal; por outro lado, os pilares da soberania popular e da igualdade, nos quais assenta a tradição democrática.
Liberalismo e democracia são valores diferentes e, como nos explica Chantal Mouffe, politóloga e professora da Universidade de Westminster, "a história das democracias liberais caracterizou-se pela luta, por vezes violenta, entre forças sociais cujo objectivo era estabelecer a supremacia de uma tradição sobre outra"5.
Hoje, porém, a moldura ideológica dominante assenta, por um lado, no "mercado livre" e por outro nos "direitos humanos". "O que é mais espantoso é que a referência à soberania popular – que constitui a coluna vertebral do ideal de democracia – foi praticamente eliminada da definição actual de democracia liberal." A soberania popular é considerada nos dias que correm "uma ideia obsoleta" e "um obstáculo à implementação dos direitos humanos".


Artigo de Alfredo Barroso, no ionline.

15 fevereiro 2011

2 notícias 2

Importa destacar a redução muito significativa da despesa do SNS com a comparticipação de medicamentos.

Portugueses compram menos remédios e já pedem crédito nas farmácias.


PS: Os cortes cegos na saúde têm consequências dramáticas.

governo virtual

Maioria dos cargos a extinguir na Segurança Social estão vagos.

Jefferson is alive!

O que é que o Tea Party tem em comum com a revolução egípcia?
Uma visão do mundo mais assente na liberdade individual e menos nas lideranças iluminadas. Ver os dois posts anteriores.

a nova era Jeffersoniana, nos EUA

Prone to rambling, his clothes slightly worn, Jefferson was creative; his prose was almost poetic, his delivery scattered. The author of the Declaration, his vision of America was of a decentralized federal government, with power spread out to state and local governments.

His vision of an agrarian nation, with mild laws and a deep belief in man's goodness and liberty's importance, contrasted sharply with Hamilton's vision of a Washington-centric government, with power concentrated among the elite few.

Well-dressed, with a very organized mind, Hamilton believed humans were inherently flawed and, left on their own, made poor choices. His vision was to promote an economy based on commerce, wealth and strict laws, advancing toward a technological age and European-style collectivism.

Our shift away from elitism has threads throughout our culture, in the food we eat and the entertainment we choose. Cases in point: Plaid shirts, cowboy boots and Levi's jeans have surged in the fashion world, and last year's No. 1 new cable show was the History Channel's "American Pickers," about chasing Americana in the flyover zone.

It also is apparent in our political shift that began two years ago.

"What you saw in the very beginning of the tea party movement is our culture reconnecting with individual liberty again, the self-agrarian values of Jeffersonians," says Brown.

Salena Zito

a nova populaça


The reason, in part, is that the Internet generation—the digital natives who took to Cairo’s streets—has a very different conception of leadership. They don’t see the world in terms of atomized actors requiring leaders to represent them and organize cooperation, but rather as a vast network of interconnected individuals. In this world, organizing is easy and almost organic, involving not much more than the creation of a Web page, the posting or tweeting of key information to allow likeminded people to converge on the same point at the same time, provide a forum, and assure everyone that they are not alone.
“Leaders” in this world do not chart a course for others to follow, or even represent the views of their followers. Rather, they are central nodes in multiple networks, individuals who convene, connect, catalyze, and facilitate the action of others, who make it possible for as many different people as possible to come together and solve their own problems. That is what Ghonim did when he created the Facebook page “We are all Khalid Said,” giving tens of thousands of people a place to come together, make their views known, and draw strength from their gathering numbers. In a Newsweek interview, Ghonim insisted that his purpose was “to increase the bond between the people and the group through my unknown personality. This way we create an army of volunteers.”