28 junho 2011

a raínha



Sempre dado a exageros, porque o povo não possui julgamento nem o sentido do equilíbrio, Portugal andou nos últimos anos a acumular empresas públicas, nacionais e sobretudo municipais, que não servem para nada. Agora que a troika ordenou a privatização das empresas públicas, corre-se o risco de passar ao outro extremo e privatizar tudo sem critério.

Existem, pelo menos, três empresas públicas que na minha opinião, e de forma absoluta, não devem ser privatizadas. Refiro-me aos CTT, à CGD e à RTP1. Tratarei aqui dos CTT.

Nos inquéritos de opinião conduzidos junto da população acerca das empresas públicas, os CTT surgem invariavelmente em primeiro lugar, como a empresa pública pela qual os portugueses têm mais simpatia. Eu partilho essa simpatia. Os CTT são talvez a única empresa pública que se tornou uma verdadeira instituição nacional.

Quem saír de Lisboa e Porto, e de outras cidades do litoral, e desejar conhecer o interior de Portugal, vai ver que muitas vilas e pequenas cidades do país se mantêm de pé, e não se transformaram ainda em vilas e cidades-fantasma, devido à presença do Estado. Lá está em primeiro lugar o distintivo estabelecimento vermelho dos CTT, mais a dependência da Caixa Geral de Depósitos, e depois também a Repartição de Finanças, a Segurança Social e obviamente a Câmara Municipal.

Ao longo da sua história, os CTT têm sido a instituição através da qual o Estado faz chegar qualquer serviço à mais recôndita vila ou aldeia de Portugal. Para além do serviço de distribuição postal, os CTT asseguram, ou já asseguraram, serviços financeiros, serviços fiscais, pagamentos de portagens (SCUT's) e a venda e distribuição de múltiplos bens e serviços.

Privatizar os CTT iria significar fechar os seus balcões nos locais onde não existe mais nada nem ninguém que os substitua - as pequenas vilas e cidades de Portugal. Seria uma pequena tragédia para a economia local destas vilas e cidades. E seria também uma perda emocional para muitos portugueses que nutrem uma genuína simpatia pela instituição. Os CTT são a raínha das empresas públicas portuguesas. Não se privatiza a raínha. A raínha é de todos. É um símbolo de unidade nacional, talvez mais ainda do que a bandeira.

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