15 março 2009

igual a mim


Em posts anteriores referi-me à educação que a mãe portuguesa dá ao seu filho-rapaz e caracterizei-a como uma educação muito liberal. Basicamente, a mensagem educacional que ela transmite ao filho é a seguinte: "Tu serás como quiseres e eu estarei cá para te ensinar a seres como tu quiseres". Não existe filosofia mais liberal de educação. A mensagem que a mãe portuguesa transmite a uma filha é que é muito diferente. É a seguinte:"Tu serás igual a mim e eu estarei cá para te ensinar a tu seres igual a mim". Não há filosofia menos liberal de educação.

Antes de desenvolver este tema gostaria de fazer algumas observações. A primeira para salientar que, em Portugal, um homem que queira saber como é que a sua namorada, ou a sua jovem mulher, será daqui por trinta anos, não tem nada que se enganar - será igual à mãe. Não me refiro ao aspecto físico, embora isso também, curiosamente, aconteça muitas vezes. Refiro-me à sua personalidade, à sua maneira de ser. Já a namorada ou jovem mulher terá menos sorte. Se pretender saber como é que o seu namorado ou jovem marido vai ser daqui por trinta anos, olhar para o pai dele não lhe fornece indicação nenhuma. O filho tenderá a ser muito diferente do pai.

Segundo, para salientar que duas irmãs, tornadas adultas, tendem a manter um alto grau de intimidade entre elas e a permanecerem amigas íntimas para a vida. A razão é que se compreendem mutuamente, porque são iguais uma à outra - e ambas iguais à mãe. Já os irmãos, quando se tornam adultos, tendem a divergir, porque tendem a ser muito diferentes uns dos outros (e do pai), e cada um a seguir a sua vida separadamente.

Terceiro, o lema que a mãe portuguesa adopta para criar uma filha - "Tu serás igual a mim e eu estarei cá para te ensinar a tu seres igual a mim" - é a fonte da relação caracteristicamente conflituosa que a filha tem com a mãe, a partir da adolescência. Ao contrário do filho que, quando se torna adulto, mantém sempre uma atitude reverencial em relação à mãe, a filha passa o tempo a contestá-la, a discutir com ela, e os primeiros sinais surgem na adolescência.

Estes sinais representam a revolta da jovem adolescente contra a prisão em que a mãe a quer meter - "Tu serás igual a mim ..." - e representam ao mesmo tempo uma medida do sucesso da mãe em tornar a filha igual a ela. Elas discutem por tudo e por nada porque são iguais uma à outra. E a jovem adolescente que não tenha ilusões. Se a mãe é verdadeiramente uma mulher portuguesa, ela vai sair igual à mãe, e um dia tornará as suas próprias filhas iguais a ela.

Esta necessidade que a mãe sente de coarctar a liberdade às filhas, enquanto a concede amplamente aos rapazes, é perfeitamente compreensível. Estando a nossa sociedade assente nas mulheres, constituindo as mulheres o pilar que suporta a sociedade, daí lhes derivando o poder e a influência, elas têm de se reproduzir de forma rigorosamente igual, sob pena de perderem o poder e a influência, e de a própria sociedade se esboroar para mal de toda a gente, homens e mulheres.

Acontece, por vezes, algumas mulheres portuguesas - fazendo prova da sua característica incapacidade de julgamento - atribuirem aos homens a sua notória falta de liberdade em relação a eles. Deve ser agora claro que os homens não têm nada que ver com isto. Quem lhes tira a liberdade não são os homens, mas as suas próprias mães. E elas fazem-no por uma boa razão. Para que elas continuem a ser as rainhas desta sociedade.

Daqui resulta também que, como regra geral, as mulheres são muito mais responsáveis do que os homens na nossa sociedade, como não podia deixar de ser quando são elas que suportam a sociedade. E esta diferença manifesta-se logo a partir da mais tenra idade. Coloque-se uma rapariga de dez anos ao lado de um rapaz da mesma idade. Ela está no seu lugar, composta, apresentável, com um ar sério, bem vestida, penteada, parece uma senhorinha. Ele, pelo contrário, parece um estarola, despenteado, transpirado, irrequieto, a correr de um lado para o outro, sempre a inventar.

Sem comentários: